CAPITULO 20

20 3 69
                                    

Alguém bate na porta do banheiro e eu me levanto em um sobressalto.

"Vai logo, preciso mijar" - Eu coloco a mão no coração quando ouço a voz do meu irmão.

Estou sentada na borda da banheira limpando minha perna depois de um acesso de raiva em que eu me machuquei. De novo. A corrida não funcionou. E agora meus pés também estavam machucados.

"Calma aí" - Eu grito.

Jogo fora os papéis cheios de sangue e recoloco minha calça de moletom. Assim que abro a porta, dou um meio sorriso e meu irmão entra correndo.

Tudo que têm acontecido está me deixando maluca.

Me jogo na cama e tranco a porta do quarto. A semana vai ser longa.

.

Finalmente é sexta.

Essa semana foi um inferno. Evitei Lorenzo o máximo que consegui e não trocamos uma palavra a semana inteira por causa da nossa discussão. Corri muito essa semana, o que resultou em casquinhas nos machucados das pernas.

De vez em quando, percebo seus olhos baixos e sei que ele está cansado. O calor não existe mais neles, e ele está sempre frio agora. Suas palavras ecoam na minha cabeça: "Meu irmão acabou de morrer e a única coisa boa que me faz continuar aqui é você". Toda vez que lembro, meu coração lateja e minha garganta fecha, dando vontade de chorar.

Lorenzo está passando por uma fase difícil e eu consegui piorar tudo para ele. Me sinto uma tremenda idiota.

Estou caminhando até a casa de Ian, pois ele me chamou para assistir um filme essa noite.

Para ser sincera, eu só queria dormir, acordei cedo demais e não estou com pique nenhum. Mas também não quero ser uma namorada chata já que não saímos só nós dois a semana inteira. Então, engulo o sono.

Subimos as escadas e logo reparo que a casa está vazia. Meu coração dispara dentro do peito e eu hesito um pouco mas continuo andando.

Estou com um pressentimento ruim em estar aqui, mas ignoro isso tudo porque, qual é? A gente namora, não vai acontecer nada.

Me deito na cama espaçosa, cansada por causa da semana.

"O que você quer ver?" - Pergunto.

"Qualquer coisa" - Ele responde, pouco interessado.

Quando ele deita ao meu lado, eu me aconchego e ficamos de conchinha.

Meus olhos não se mantêm abertos por muito tempo.

.

Acordo com Ian em cima do meu corpo, e algo está entrando e saindo de dentro de mim. Mas, quando olho, são seus dedos.

Porém, mesmo assim, paraliso e fecho os olhos de novo pra tentar acordar, mas isso não acontece. Eu não estou sonhando.

De repente, volto a ter 7 anos e meu tio está em cima de mim, fazendo aquilo e só quero que acabe logo.

Não consigo nem me mexer, minha garganta dói e sinto a janta voltando, minha cabeça lateja e meus olhos jorram lágrimas pra fora. Será que ele ainda não percebeu que eu acordei?

Reúno todas as minhas forças, guiadas pela raiva e desprezo, e me sento na cama bruscamente.
A imagem do meu tio desaparece da minha frente e encaro Ian por questão de dois segundos até me levantar da cama.

"Ei, princesa. O objetivo era te acordar com um orgasmo. Achei que você gostaria" - Ian diz.

Pego a calça que está jogada no chão e sinto que vou vomitar, então corro pro banheiro. Assim que tranco a porta, ouço passos pelo corredor. Vomito tudo.

O IntercambistaOnde histórias criam vida. Descubra agora