CAPITULO 12

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"Mas foi injusto pra caralho, entendeu?" - Mike está falando sobre algum jogo dele e apesar de não ter entender nada, assinto - "Mas me conta, como está a escola?"

Terça-feira a tarde, dia nublado. Eu e meu irmão estávamos sentados à mesa de uma sorveteria como havíamos combinado.

"Uma merda" - Respondo, remexendo o sorvete.

"Imagino" - Ele diz - "Soube que você se afastou de seus amigos uma época. O que aconteceu?"

"Ah, ninguém mais dava a mínima pra mim e Nora só sai com aquela Lena ultimamente, ela anda meio sumida"

Ele remexe-se na cadeira, desconfortável.

"E o Ian?" - Pergunta.

"Ah, verdade. Nós brigamos uma época também" - Se Mike soubesse o que ele fez... - "Mas agora estamos namorando"

"Você não parece muito animada"

"Ah, é que sei lá... Acho que esperei tanto tempo por esse momento, que agora não tem mais emoção" - E também, eu beijei o Lorenzo.

"Hum..." - Ele murmura e toma mais um gole de seu Milkshake - "Mas você gosta dele, certo?"

"Sim" - Talvez.

"E sobre aquela nossa briga..."

"Acho melhor a gente não falar sobre isso"

"Certo, só peço desculpas mais uma vez"

"Tudo bem" - Dou uma colherada em meu sorvete.

"Mas Nora continua sendo sua melhor amiga ainda, depois de tudo?" - Mike desvia os olhos.

"Ah, acho que sim" - Ele assente e eu olho para frente.

Claramente nós dois estávamos escondendo coisas um do outro. Mas não comentamos mais nada e comemos nosso sorvete em silêncio.

.

A semana passou lenta demais dessa vez e ainda não tive a chance de falar com Lorenzo, pois os estudos consumiram todo o meu tempo, além das caminhadas que ando fazendo frequentemente.

Era sexta-feira e eu estava deitada olhando para o teto, quando meu irmão entra pela porta.

"Ei, vamos sair hoje?" - Ele pergunta.

"Pra onde?"

"Vai ter uma festinha que eu vou com os meus amigos agora a noite, mas se você não quiser ir, podemos ir a outro lugar"

"Tá, pode ser"

Eu não estava mesmo com vontade, mas qualquer coisa era melhor do que ficar enfiada nesse cubículo de quarto a noite toda, pensando no que Lorenzo está fazendo com Lena agora, já que ele não está em casa.

Decidi que não queria ir à tal festa e coloquei uma roupa simples, assim como a maquiagem que fiz.

"Uau, você está linda" - Diz Mike quando desço as escadas. Provavelmente só falara isso para me agradar.

Caminhamos e, sem perceber, chegamos ao shopping bem ao centro da cidade. Entramos no nosso restaurante favorito e resolvermos ir ao cinema depois.

"Bom, eu pensei muito antes de vir falar com você sobre isso..." - Começa Mike quando nos sentamos à mesa ao fundo do restaurante.

"O quê?" - Pergunto, curiosa.

"Ouvi o pai e a mãe conversando ontem. Eles não sabem que eu saí de casa de noite, mas, quando voltei, as vozes deles não passavam de sussurros. Então, encostei a orelha na porta do quarto deles e tentei ouvir o máximo possível" - Ele toma um gole de sua bebida - "O papai estava pedindo desculpas várias vezes e implorando para que não nos contasse nada"

"Contasse o quê?" - Franzo as sobrancelhas.

"É isso que quero saber também. Porém, não dá para questiona-los, já que vão perguntar o que eu estava fazendo acordado aquela hora e o por quê de eu estar ouvindo a conversa deles, então não sei o que fazer"

Penso um pouco mas não consigo chegar a nenhuma conclusão. Nossos pratos chegam e comemos num silêncio confortável.

Assim que terminamos, o celular de meu irmão começa a tocar.

"Falando nela..." - Ele vira o celular e vejo o nome mãe escrito na tela.

"Coloca no viva-voz" - Falo antes dele atender.

"Oi, filho, como está aí com a sua irmã?" - A voz sai pelo celular.

"Tudo bem, o que foi?" - Mike responde.

"Vocês vão voltar para casa depois daí?"

Não sei porquê, mas senti uma sensação estranha. Normalmente minha mãe não ligava para nós a essa hora da noite, já que ainda está cedo.

"A gente estava pensando em ir no cinema, algum problema?"

"Hum..." - Ela fica um tempo calada - "Tá bom, divirtam-se"

"Obrigado" - Ele diz, antes de desligar.

Assim que coloca o celular na mesa, consigo ver uma mensagem na tela e tento ler o nome, erguendo a cabeça. Nora. Franzo as sobrancelhas.

"Estranho, não?" - Mike apaga o telefone e o guarda no bolso.

"É" - Respondo - "O que tá rolando entre você e Nora?"

"Quê?"

"A mensagem no seu celular" - Aponto com os olhos para o seu bolso - "Era da Nora"

"Ah" - Ele coça a cabeça - "Ela estava perguntando por quê você não está em casa"

Checo meu celular.

"Ela não me mandou nenhuma mensagem"

"Sério que você está preocupada com isso agora? A mamãe acabou de ligar perguntando se iríamos voltar cedo para casa, Abby. Acho que tem alguma coisa acontecendo"

"Você acha melhor nós voltarmos, então?"

Ele assente e acho que ambos perdemos o apetite, pois não comemos mais nada. Meu estômago está revirado e eu temo que algo grave estivesse acontecendo em casa.

Meu irmão deve ter sentido a mesma coisa, pois pagou a conta rapidamente e já foi se levantando.
Caminhamos a passos rápidos, e quando chegamos em casa, nada estava fora do lugar.

"Mãe?" - Mike grita, da porta.

Ouvimos um barulho de porta sendo aberta no andar de cima e minha mãe desce, sorridente.

"Oi, queridos" - Ela beija nossas testas - "Não foram ao cinema?"

Nós nos encaramos rapidamente, o que foi o necessário para reconhecermos que estávamos pensando a mesma coisa. Tem algo errado.

"Não estávamos muito afim, e sua ligação nos preocupou um pouco. Aconteceu alguma coisa?" - Resolvo falar.

"Não, não" - Ela força um sorriso - "Só queria que vocês passassem mais tempo em casa comigo e com seu pai"

Toda essa história era muito estranha, mas resolvemos não perguntar mais nada, apenas ficar de olho.

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