CAPITULO 19

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"Como você tá linda hoje, amor" - Ian cochicha na minha orelha.

Solto uma risada baixa e agradeço. Mas a verdade era que eu não conseguia nem olhar para a cara dele depois do que havia feito ontem. Eu estava me sentindo uma merda.

Eu já não sabia o que sentia por ele, mas de jeito nenhum eu terminaria. Ian era o menino que eu queria estar desde o quinto ano, e agora eu estava traindo-o. Eu já não me reconheço mais.

"O que o Lorenzo tem de beleza, ele tem de idiota" - Nora diz, sentando-se ao meu lado. - "Lena tá arrasada e não consegui tirá-la da cama hoje. Naquela casa toda hora tem alguém chorando pelos cantos"

Eu olho pra ela e não sei direito o que dizer, então o que sai da minha boca é:

"Como você tá?"

"Como você acha? Meus pais estão começando a desconfiar que eu recaí de novo" - Ela fala num sussurro.

"Que merda" - Respondo e concorda.

Ao contrário de Lena, Lorenzo parecia ótimo. Ele me olhava de raspão algumas vezes quando eu passeava pelo pátio e eu fingia não perceber. Parecia estar lidando bem com a morte do irmão, mas o via escrever diariamente naquele caderno que ele sempre estava segurando. Confesso que fico cada vez mais curiosa para saber o que tem lá, mas prometi não fuxicar mais nas coisas dele.
Quando eu me dirigia pro banheiro, no segundo intervalo, Mike, de repente, agarra meu braço.

"A gente precisa ir pra casa, pega suas coisas"

"O que aconteceu?" - Mas ele não responde e sai andando, um pouco irritado.

Pego tudo, saí da sala ao mesmo tempo que Lorenzo saiu da dele e, quando saímos do colégio, ele apertou minha mão forte enquanto meu irmão nos guiava para casa.

.

"Então, você nunca vai explicar o que tá acontecendo pra gente?"

Para ser sincera, fazia tempo que eu não via Mike desse jeito, e eu não gostava quando ele tratava minha mãe assim.

"Do que você está falando?" - Minha mãe dá um sorriso amarelo e eu já sei que alguma coisa está errada.

"Quando você pretendia contar pra gente que você foi demitida?"

Essa pergunta cai como uma bomba dentro da casa.

"O quê?" - Minha mãe diz, surpresa.

Ela parece... aliviada? Por que ela está aliviada?

"Hein, mãe?" - Meu irmão se aproxima mais dela.

"Mike" - Eu puxo a camisa dele.

A questão é: como ele havia descoberto isso?

"Eu não fui demitida, Michael" - Em todos os meus 17 anos, ouvi minha mãe chamar meu irmão pelo nome completo no máximo 3 vezes.

"Você tá de brincadeira? Se não é isso o que está havendo, então o que tanto você e o meu pai cochicham no quarto?"

Ela fica sem resposta e eu não consigo mais presenciar essa cena.

"Ok, já chega. Brigar não vai resolver nada. Por favor, se acalma, Mike"

"Até quando você vai guardar segredos de nós?" - Ele diz antes de subir as escadas pisando forte. Respiro fundo antes de fazer o mesmo e segui-lo.

"O que foi isso?" - Fecho a porta do quarto dele.

"Abby, ela foi demitida, só pode ser isso. O que mais seria?"

"Como você chegou a essa conclusão, Mike?"

"Por que eu ainda ouço os cochichos no quarto deles toda noite e precisava fazer algo sobre isso. Eu decidi jogar verde"

"O quê? Você acusou minha mãe de ter sido demitida sendo que nem tinha certeza?"

"Eu precisava fazer algo, Abigail. Qualquer coisa. Eu tô desesperado. Nossos pais nunca esconderam algo de nós, então deve ser algo muito sério. Não consegui pensar em mais nada"

"Mike, você não pode sair acusando os outros assim, pelo amor de Deus!" - Digo, indignada, mas me acalmo diante da preocupação dele - "Só não faz mais isso. Eles nos contarão quando estiverem prontos"

O abraço e saio do quarto. Tento manter o controle, mas é difícil não ficar ansiosa diante dessa situação, então entendo totalmente o meu irmão. Mas nós dois não podíamos perder o controle ao mesmo tempo. Ele caiu e eu segurei, quando eu cair ele vai me segurar. Os dois não podem cair juntos, apenas.

Quando chego ao meu próprio quarto, levo um susto vendo Lorenzo sentado na cama.

"Como vocês estão? Tudo bem?" - Ele pergunta.

"Ah, sim. Mike tá um pouco nervoso mas dá pra entender..."

Eu sento ao seu lado e deixo meu corpo cair para trás, tentando não ficar nervosa também.

"Bom, vai ser um longo mês" - Ele aponta.

Cubro o rosto com as mãos e respiro fundo.

"Ei" - Lorenzo aproxima-se - "Vai dar tudo certo. O que for pra ser vai ser, e eu vou estar aqui pra tudo que vier" - Ele coloca a mão no meu ombro.

Eu sei que era eu quem devia estar dando forças para ele por causa de Thomas mas... a raiva começa a subir para a minha cabeça por causa de tudo o que está acontecendo e eu não consigo segurar as palavras.

"Olha, o que aconteceu ontem... Não era pra ter acontecido, tá?" - Meu peito formiga com a raiva que cresce cada vez mais dentro de mim. - "Tipo, eu tô namorando a pessoa que eu sempre quis e não vou abrir mão por um outro relacionamento fadado ao fracasso"

Me arrependo de tudo que disse logo após as palavras saírem da minha boca e apenas espero Lorenzo levantar e sair do quarto. Mas ao invés disso, ele ri.

"Sabe o que eu acho engraçado?" - Ele tira a mão de mim - "Toda vez é a mesma coisa. A gente se beija, você se arrepende e é estúpida comigo, aí a gente briga e você vem pedir desculpas alguns dias depois, e o ciclo se repete de novo" - Ele para por um segundo - "Eu tentei não deixar o clima entre nós estranho dessa vez, mas nada que eu faça muda o jeito que você age comigo. Abby, eu acabei de perder meu irmão, a única coisa boa que ainda me dá um motivo pra continuar aqui é você" - Os olhos dele brilham um pouco conforme as lágrimas se acumulam.

"Olha, eu sinto muito, mas nós estamos errando desde o nosso primeiro beijo. Eu estou aqui como sua amiga, mas o que rolou entre nós nunca era pra ter acontecido, e muito menos agora, eu literalmente estou namorando de aliança e sério, não é como se eu estivesse solteira mais"

"Namorando com um moleque que nem saber te respeitar sabe. Eu achei que você fosse um pouco mais esperta, Abby. Quando te falei pra pensar sobre isso, eu estava falando sério"

"Isso não é da sua conta, querendo ou não. Eu só peço que nesse momento você respeite o meu relacionamento e pare de me beijar pelos cantos"

Ele ri, sarcástico. Seus olhos estão frios e seus músculos, rígidos.

"Que eu saiba, eu não beijo sozinho"

Reviro os olhos.

"Olha, eu vou sair do seu quarto, mas eu não vou sair brigado com você de novo. Então, me escuta. Eu não vou continuar ficando com você enquanto você está envolvida com alguém, até porque não quero ser segunda opção de ninguém, mas eu não vou agir como se nada estivesse acontecendo entre nós, porque algo obviamente está acontecendo aqui"

"Bom, eu espero que isso" - Aponto para mim e depois para ele - "acabe quando você deixar meu quarto. E que sejamos amigos, apenas"

"Se é isso que você quer" - Ele se levanta - "Não tem nada que eu possa fazer. Mas saiba que não sou idiota, Abby, e não vou deixar você me usar quando quiser e depois me falar que só quer ser minha amiga" - Ele vai até a porta - "Essa foi nossa última conversa sobre isso, e eu espero que você cumpra sua palavra"

Ele sai e bate a porta. Precisei correr tanto nessa noite que meus pés formaram bolhas.

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