O Intercambista

CAPITULO 17

"Bom dia flor do dia" - Mike diz ao telefone.

"Que foi? Você me acordou" - Digo, irritada.

"Eu sei, esse era o objetivo"

"O que você quer?"

"Calma" - Ouço ele tampando o microfone com a mão, mas consigo escutar o que ele diz em seguida - "Cala a boca, caralho!" - Ouço uma voz feminina rindo - "Abby, se arruma. To passando aí em 3 minutos pra te pegar"

"Quê? Quem tá aí? Onde você tá?" - Falo, me levantando.

"Beijo, irmãzinha" - Ele desliga.

Levanto, estressada. Me arrumei e desci para a cozinha, vendo Lorenzo sentado no chão, à frente do sofá, com livros e cadernos abertos na mesinha de centro; resolvi finalmente me aproximar. Ele disse para não voltar aquela noite, não voltei duas. Já era tempo suficiente.

"Ei, posso falar com voc..." - Começo.

"Desculpa, não dá agora" - Ele me interrompe, apontando para os cadernos.

"Lorenzo, de verdade, a gente precisa conversar..."

"Sem tempo agora"

Reviro os olhos, saio de casa e dou de cara com o meu irmão.

"Bom dia, de novo" - Ele sorri.

"Tá, o que você quer?" - Cruzo os braços.

"Eu acho que você devia vir comigo"

Damos 6 passos e ele para na frente da casa de Nora.

"O que a gente tá fazendo aqui?"

Ele não responde, apenas abre a porta.

Balões cobrem todo o chão da casa de Nora, um globo espelhado no teto reflete por todas as paredes, copos vermelhos estão empilhados do lado direito da mesa da cozinha - agora no centro da casa -, o bolo de 3 andares chama toda a atenção no meio, confetes e garrafas cheias de bebida estão espalhados em volta dele. Alguém estourou uma bomba de confetes assim que entrei e milhares de papeizinhos coloridos voam em volta de mim no ar. Todos os meus amigos saem de trás de cadeiras e mesas gritando ao mesmo tempo:

"SURPRESA!"

Olho para o lado, onde meu irmão estava. Porra, eu havia esquecido que nosso aniversário era amanhã! Abro os braços e o abraço com força.

"Feliz aniversário adiantado pra nós!" - Falo, perto da sua orelha - "Como você fez tudo isso?"

"Sei que você anda com a cabeça nas nuvens e nem imaginaria, por isso combinei com Nora e com o resto de seus amigos de fazermos um dia antes, já que não conseguiria te tirar de casa na segunda" - Ele responde, e tinha razão.

Quando me desvencilho de seus braços, Ian caminha em minha direção, com um presente em mãos.

"Pra minha namorada perfeita" - Ele me entrega a sacolinha e tiro uma caixinha de dentro.

Era um colar com a minha inicial. Sorrio e o abraço com força, agradecendo. Em seguida, o resto dos meus amigos entregam a mim e ao meu irmão sacolas e caixas e tudo mais. Mas com certeza o meu preferido foi o do meu irmão, uma pulseira que completava com a minha.

"Vale por nós dois" - Ele diz quando me entrega, mas de jeito nenhum deixaria de comprar um presente pra ele.

"Vamos nos divertir!" - Digo, gritando.

E, após isso, uma enxurrada de garrafas e copos foram virados, a música cada vez mais alta, pedaços de bolo pra lá e pra cá, tudo em plena luz do dia.

.

Já estava escurecendo e não sei exatamente em que parte da festa Lorenzo apareceu, mas lá estava ele, pleno e sóbrio. Acho que eu já estava bêbada o bastante para chegar nele, então foi o que fiz.

"Ei" - Toco o braço dele, que se vira imediatamente.

"Oi" - Não sei se reparo direito, mas acho que ele está segurando um sorriso.

"A gente pode co-conversar, ago-gora?" - Franzo as sobrancelhas com as minhas próprias palavras enroladas.

"Hum..." - Ele olha para os lados - "Acho que não é o melhor momento"

"Ei!" - Lena se aproxima de nós, o copo dançando em sua mão - "Você pode, por favor, parar de se jogar em cima do meu namorado, sua vadia?"

Ela está de um lado de Lorenzo e eu de outro. Ergo uma sobrancelha e tento manter a calma.

"Ué, não estou me jogando em cima de ninguém não. Tá louca?"

"Do que você me chamou?"

"Perguntei se você é louca" - Gesticulo com a mão.

A música está muito alta e nós duas estamos gritando agora, o pessoal se juntando em volta.

"Louca é você!" - Lena diz.

"E você que é jogada" - Respondo.

"O quê?" - Ela dá um passo pra frente.

"Tá bom, tá bom, já chega vocês duas, né?" - Naty intervém.

"Tá surda, garota?" - Ignoro minha amiga e continuo.

"Não, mas você vai ficar!" - Ela avança, mas Lorenzo coloca o braço em sua frente, segurando-a.

Também dou alguns passos à frente e Lorenzo coloca o outro braço para impedir a passagem.

"Vem, amor, vamos subir e você me come até de manhã. Deixa essa piranha aí" - Lena diz e Lorenzo arregala os olhos.

Pra mim foi o ápice. Estico meu braço livre por cima do de Lorenzo e bato com força no rosto dela. Essa menina estava pedindo por briga. Eu nunca falaria nem faria as coisas que faço quando estou bêbada, se estivesse sóbria. Mas aqui, nesse momento, eu não estava. Pressiono mais meu corpo contra o braço de Lorenzo, querendo mais. Ela vem mais pra cima de mim, xingando, gritando e mexendo os braços ferozmente para me alcançar. Lorenzo está sem saber o que fazer além de nos empurrar para trás.

"Ei! Ei!" - Mike me segura pela cintura e me puxa para trás - "Vocês tão loucas, é? Parem com isso!"

Todo mundo fica quieto. Percebo que Nora aparece logo atrás dele na sala. Meu irmão também estava sóbrio, não bebeu mais que um copo. Ele se vira para Lena.

"É aniversário da minha irmã e você vem até aqui pra brigar com ela? Vai a merda" - Ele se vira para Lorenzo - "Pega sua namorada e sai daqui antes que ela arrume mais problema, se não, da próxima vez, eu deixo minha irmã bater nela" - Ele está virado para o resto dos meus amigos agora - "E vocês todos, o que tão olhando? Vão continuar se drogando, vai, vai" - Ele bate duas palmas.

Franzo as sobrancelhas e acompanho com os olhos enquanto Lorenzo leva Lena escada acima.

"Você tá bem?" - Mike para na minha frente.

"Tô" - Viro todo o líquido amargo do copo que está na minha mão, já me dirigindo para a cozinha para pegar outro.

Quem Lena pensa que ela é? Eu bateria nela mais vezes se fosse possível.

Só depois que alguém chama meu nome que percebo que estou debatendo comigo mesma o que acabara de acontecer. Caminho cambaleando até a sala e percebo que Lorenzo e Lena não desceram novamente para lá. Sério que ele faria isso na minha festa? Cuzão. O sentimento de raiva e dor cresceu dentro de mim, pensando que ele podia mesmo estar transando com ela lá em cima.

Tento tirar o foco dele da minha cabeça por pelo menos 2 minutos, mas não dá certo. A cada pensamento, sentia o ardor da bebida descer quente pela minha garganta.