CAPITULO 25

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A luz do sol entra radiante pela janela.

Levanto-me e coloco uma calça de moletom e um moletom como camisa. Coloco minha carteira e meu celular numa bolsa e saio de casa.

Enquanto ando pela rua, o vento fresco bate no meu rosto e as memórias da noite anterior invadem minha mente. Paro no meio do caminho e compro um mini buquê de flores amarelas e brancas.

Quando chego ao hospital, minhas mãos suam e eu respiro fundo. Falo meu nome e digo que vim visitar Nora. A mocinha da recepção cola um adesivo com minhas informações na minha roupa.

Hesito antes de tocar na porta e me abano levemente. Finalmente dou mini soquinhos na madeira e abro.

Nora se vira para mim quando entro e me encara, levemente nervosa. Consigo ver nos olhos dela que ela sabe que eu sei sobre Mike.

Ela está deitada sobre a cama e uma agulha fura seu braço, a ligando com o soro que pinga da bolsa hospitalar. Seu pai está em uma cadeira ao lado da cama.

"Oi" - Eu digo e dou um sorriso amarelo.

"Oi" - Ela retribui.

"Como você tá?" - Pergunto depois de um tempo.

"Indo" - Ela vira para o pai - "Você pode nos dar um momento?"

O pai de Nora sai do quarto.

"Desculpa não ter vindo antes" - Eu digo, deixando o buquê em um vaso vazio em cima de uma mesinha abaixo da tevê.

"Eu entendo. Na verdade, pensei que você nem viria" - Ela responde.

"Você é minha melhor amiga" - Digo, mas sei que não é 100% verdade mais.

"Abby" - Ela respira fundo - "Me desculpa..." - Nora começa mas eu a interrompo.

"Não precisamos falar sobre isso agora"

"Mas eu preciso no mínimo me desculpar. Me desculpa por ficar com o seu irmão. Me desculpa por ter escondido de você esse tempo todo. Eu to completamente errada nisso" - Ela respira fundo - "Mas eu espero que você entenda que eu o amo. Eu amo Mike. Ele foi o único que ficou comigo quando mais precisei e eu não vou deixar o que existe entre nós acabar. Me desculpa por isso também, mas eu não vou abrir mão dele"

Imediatamente Lorenzo me vem à cabeça. Ele é tudo que Mike é para Nora. E nós estamos praticamente na mesma situação, só que um pouco mais complicada, pois se alguém descobrir, ele vai embora. Para outro país.

Enquanto todos os meus "amigos" e meu próprio (agora ex) namorado não sabiam nem o que eu estava passando, Lorenzo literalmente cuidava das minhas feridas. Ele sabia de coisas que mais ninguém, nem mesmo minha própria família, sabia. Ele me tocou com amor. Ele entrou no meu íntimo. Ele era meu íntimo.

Se eu queria mesmo que as pessoas aceitassem eu e Lorenzo juntos - pois uma hora ou outra, nós não iríamos mais conseguir esconder e a verdade viria à tona -, eu teria que começar perdoando quem estava fazendo a mesma coisa por minha causa. Eu teria que perdoar Nora. E Mike.

Acho que pensei muito, porque Nora limpou a garganta, esperando uma resposta.

"Tá tudo bem" - Eu digo - "Eu te perdoo. E também vou perdoar meu irmão. É só que... é um pouco difícil ver meu irmão e minha melhor amiga juntos e... saber que isso aconteceu debaixo do meu nariz e eu nem desconfiei"

"Bom, eu agradeço pelo seu perdão e, sobre você não ter nem desconfiado... eu também não percebi várias coisas que estavam acontecendo na minha frente simplesmente porque não prestava atenção em nada além de mim mesma e dos meus próprios problemas, do meu próprio umbigo. A depressão faz isso mesmo. Você não foca em nada além da sua própria desgraça e passa a não ver mais nada ao redor. Seu irmão, ele... me ajudou muito, porque era pra eu ter vindo para cá" - ela encara a cama do hospital - "...muito antes. Mas, o que aconteceu no fim de semana... eu não consegui evitar, aconteceu tanta coisa... Mike estava estranho comigo, meus pais... enfim"

Nós duas respiramos fundo, porque o clima pesa.

"Olha, Nora, eu sei que nós nos afastamos bastante mas, eu preciso que você saiba que eu estou aqui com você, ainda mais agora que você está com o meu irmão. Eu não quero te perder porque você é muito importante pra mim. Por favor, eu não quero ter que vir te visitar no hospital de novo. Eu não quero ter que conversar com você só quando acontece alguma coisa feia com alguma de nós duas" - Me aproximo da cama e seguro sua mão - "Quando nós éramos melhores amigas, nada era tão pesado porque a gente dividia o peso dos problemas. E eu quero voltar a ser sua melhor amiga. Eu quero voltar a dividir nossos problemas, nossas conquistas, todos os nossos momentos. Acho que vai ser bom pra nós duas"

Ela abre um sorriso que não vejo a muito tempo e eu automaticamente retribuo. Ela me puxa para um abraço e eu abaixo um pouco para envolve-la.

"Obrigada por tudo. Eu aceito" - Ela diz e ri.

Nos soltamos do abraço.

"A partir de agora sem segredos entre nós, então?" - Ela propõe.

Meu peito aperta um pouco e sei que preciso aceitar, mas também sei que infelizmente não posso cumprir essa promessa. A vontade de contar a ela nesse momento é muito grande, e eu preciso respirar fundo pra não deixar escapar.

"Sem segredos" - Eu digo e sorrio.

Conversamos mais um pouco e por fim nos despedimos.

Saio do quarto e solto um suspiro que nem sabia que estava segurando desde então. Meu coração palpita dentro do peito e sorrio sozinha enquanto passo pelas portas do hospital.

Finalmente minha melhor amiga voltou para a minha vida.

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