O Intercambista

CAPITULO 23

Já é segunda-feira e estou sentada no banco do pátio, esperando o sinal tocar para subir para a aula, assim como o resto dos alunos. Resolvi chegar mais cedo para não ter que vir com meu irmão. Ainda não sei como quero encarar a situação, mas com certeza agora não é o momento.

O hospital não recebe visitas de domingo, então não consegui falar com Nora, provavelmente vou pra lá depois que sair daqui. Ainda estou com raiva e não sei o que vou dizer, mas ela é minha melhor amiga há 13 anos e eu não vou deixa-la passar por isso sozinha.

De repente, percebo que todos começam a olhar para uma direção atrás de mim, tirando-me dos meus pensamentos. Me viro para ver o que é e avisto Ian com um buquê de flores vindo na minha direção.

Engraçado que não recebi nem uma mensagem dele depois do que aconteceu, mas aqui está ele, prestes a me pedir pra voltar.

"Abby" - Ele para na minha frente - "Volta comigo?"

Todos em volta estão olhando e meu primeiro instinto é pedir para conversarmos em particular. Mas então, me lembro que ele literalmente me estuprou.

"Não" - Digo bem alto, me levantando para ir embora dali.

Porém, quando passo por Ian, ele segura meu braço com a mão livre. E aperta.

"Abby, por favor" - Ele diz, com os dentes cerrados.

Mas não tenho nem tempo para responder, porque quando olho novamente, Ian está no chão, apanhando de alguém. Logo reconheço os cabelos morenos e macios que mais gosto de puxar.

Não faço nada enquanto Lorenzo bate com força em Ian, esmagando as flores que estavam em sua mão. Mas a briga não dura muito, pois a diretora chega e acaba com tudo.

"O que diabos está acontecendo aqui?" - Ela grita enquanto chama os monitores - "Os dois pra minha sala, agora!"

O sinal bate bem na hora e todos vão para suas respectivas salas de aula, inclusive eu.

Assisto a primeira aula sem parar de pensar no que aconteceu e que agora todos podem descobrir sobre eu e Lorenzo, e eu perderia a única coisa que ainda me resta de bom no momento. Aperto minhas coxas e quando estou prestes a surtar, alguém abre a porta.

"Vamos embora daqui" - Lorenzo diz, olhando para mim diretamente.

Todos encaram intactos e eu junto minhas coisas o mais rápido que consigo. Já estamos fora do colégio, e abro minha boca para falar, mas Lorenzo se apressa.

"Guarda suas perguntas"

Então, eu me calo e deixo ele guiar o caminho até em casa. Me perdi tanto nos meus pensamentos que não percebo quando ele desvia o caminho e me leva até nosso lugar. O campo dos vagalumes. Lorenzo se senta na grama e eu o imito, esperando o momento certo de falar.

"A diretora ligou para Any"

Engulo em seco. Já sabia que provavelmente iam ligar para a minha mãe, mas ter certeza é diferente. Isso com certeza vai levantar suspeitas dentro de casa e eu e Lorenzo já demos algumas falhas antes, o que significa que talvez já desconfiem.

"Desculpa, mas eu..." - Ele começa - "Não podia ficar parado enquanto via aquela cena ridícula. Não consigo nem me arrepender"

Eu o encaro mas ele não me olha.

"Eu sei que coloquei tudo em risco, mas eu não podia" - Lorenzo faz uma pausa - "Eu te trouxe aqui porque, se descobrirem sobre nós, eu vou ter que ir embora. E se eu for embora, eu queria te trazer aqui uma última vez, porque foi você que trouxe beleza pra esse lugar"

Ele finalmente me olha e percebo um machucado acima da sobrancelha.

Não digo nada, na verdade nem preciso. Apenas o puxo e o beijo. Monto em seu colo e coloco tudo o que eu sinto por ele nesse único beijo. Depois de alguns minutos, ele afasta a boca da minha e me encara a centímetros de distância de seu rosto.

"A minha vida" - Ele começa - "Era vazia sem você, mas eu só percebi isso quando te conheci" - Lorenzo me dá um beijo rápido - "Eu não sou muito de declarações, mas eu preciso te falar. Valeu cada segundo que eu vivi aqui, e se nós tivermos que nos separar... Eu não posso ir embora sem te dizer olhando nos olhos, depois de falar tantas vezes pelas suas costas. Eu te amo, Abigail Furter"

Sinto meu peito latejar. Nenhuma sensação é parecida com a de escutar a pessoa que você ama dizer que te ama também. Eu passei meses reprimindo o que eu sentia por esse menino, mas nem isso foi o suficiente para me afastar dele e nos afastar. Foi uma perca de tempo tentar não amá-lo, porque no fim de tudo, eu já sabia que o final seria exatamente esse, comigo dizendo exatamente essas palavras:

"Eu te amo, Lorenzo Carter"

Ele me puxa para perto e beija meus lábios com força. Acho que ele não sabe o que significa para mim e eu também não quero falar, porque essa não é a nossa despedida. Eu não vou deixar que seja.

Lorenzo aperta minha cintura e eu não preciso nem contar o que acontece depois.