CAPITULO 16

18 3 15
                                        

Não tive saída quando Ian me convidou para ir conhecer os pais dele hoje. Depois que voltei da corrida, fiquei o resto do dia experimentando roupas e maquiagens. Enrolei meus cabelos longos e senti uma pontada de raiva da cor escura demais do loiro. Estava pensando em mudar. Estava pensando seriamente em mudar. Pintei o rosto com uma maquiagem leve e ao mesmo tempo carregada. No fim, fiquei feliz com o resultado.

Passei pela sala onde meu irmão estava deitado no sofá e ele assoviou quando me viu. Passei pela cozinha, mas Lorenzo não desviou os olhos da comida que estava preparando no fogão. Saí da casa e caminhei até lá.

Ian estava igualmente bonito à mim. Ele estava bem arrumado, o cabelo ajeitado para o lado.

"Oi, gata" - Ele me dá um beijo no rosto.

Não dá tempo de responder nada, pois uma voz grita ao fundo pedindo que entremos. Entrelaço o braço com Ian e entramos juntos na casa. A mãe dele tirava uma assadeira grande do forno, algo que cheirava muito bem e logo me deu água na boca. Quando olhei para a mesa chique ao centro da sala de jantar, me surpreendi com a variedade de comida ali presente. Era comida de gente rica, então não sei bem o que era.

"Sente-se, querida" - Ela diz para mim e também se senta.

A mesa era redonda e Ian se senta ao meu lado. Olhei admirada para tudo. Até as formas onde a comida estava eram chiques.

Não sabia direito o que fazer primeiro. A voz do pai de Ian ecoa pela sala.

"Vinho, querida?" - Ele oferece e me dou conta de que está falando comigo.

"Amor, eles são menores de idade ainda" - A mãe de Ian envolve o pulso dele com a mão.

"Não, obrigada"

Os pais dele sorriem e aperto a mão de Ian fora do campo de visão deles, nervosa. Ele segura minha mão de volta e diz:

"Abby, essa é minha mãe Ellen, meu pai Kelvin e meu irmão Nicolas"

Porra, até o nome deles era de gente rica.

"Muito prazer" - Sorri - "Abigail, mas prefiro Abby"

Acabei aceitando o vinho no fim das contas, numa tentativa inútil de me soltar, e medi a quantidade de comida que poderia pegar, tomando cuidado com muito ou pouco demais. Comi devagar, lembrando das palavras exatas de Ian no dia de nosso encontro. Calma, Abby, a comida não vai sair dai.

"Então, Abby. Você nasceu aqui mesmo ou veio de algum outro país?" - Ellen questiona.

"Sou daqui do Brasil mesmo, mas nasci no Rio de Janeiro" - Respondo, também medindo as palavras.

"Ian já te contou que nasceu na Inglaterra? Todos nós somos descendentes de lá"

"Mãe, sério?" - Nicolas, irmão de Ian, interrompe.

"Na verdade, é bem legal" - Sorrio.

"Aposto que você gostaria de ver as fotos de Ian bebê em Londres. Ele era tão fofo! Não acho que você se lembre filho, mas conheceu a rainha" - Ela fala.

"Mãe, isso é realmente necessário?" - Ian intervém.

"Claro, eu adoraria, Sra. Ellen" - Na verdade, só estou tentando causar uma boa impressão.

Mantemos a conversa nesse nível, eu sempre medindo o momento e as palavras certas na hora de falar ou comer algo.

Quando terminamos o jantar, agradeço e elogio a comida e saio da mesa, direto para o quarto de Ian, já que ainda era cedo para ir embora.

"Desculpa pela minha família, eles sabem ser bem babacas às vezes" - Ele diz, fechando a porta.

"Ei, tudo bem" - Eu rio e ele continua sério por alguns segundos antes de rir também.

Nos sentamos na cama e tive que puxar a saia para baixo por causa dos machucados.

"Você tá linda hoje, sério" - Ele diz e o olho, surpresa.

"Você também" - Falo e ele se aproxima, me beijando.

Deitamos na cama, meus lábios ainda encostados nos dele. Ian começou a descer a mão da minha nuca para os meus seios bem devagar e, apesar de me sentir um pouco incomodada, permiti que ele fizesse isso. Porém, quanto mais ele descia, me afastei quando ele colocou a mão por dentro da minha saia. Um rápido flashback passou pela minha cabeça.

Ian me olha como se não entendesse.

"Ainda não tô pronta, me desculpa"

"Mas você tá tão linda hoje" - Ele diz. Como se isso mudasse alguma coisa - "Tá, tá, tudo bem. Quer assistir algo?"

"Na verdade, acho que já vou indo"

"Ah, sério?"

"Hum... sim" - Pego o celular que está dentro da minha bolsa - "Está tarde"

"Ei, posso te perguntar uma coisa?" - Ele diz.

"Uhum" - Me viro para olhá-lo.

"Você acha que eu sou uma... uma má pessoa?"

Acho que em todo o tempo que eu conheço Ian, desde o quarto ano do ensino fundamental, nunca ouvi ele hesitar.

Por um minuto, vejo que sua máscara de "fodão" escorrega de sua face, o ego é deixado de lado e ele se mostra vulnerável.

"O quê?" - Encaro-o, com as sobrancelhas franzidas - "Não, claro que não! Por que eu acharia isso?"

Ele engole em seco. Ian não fala mais nada, e a máscara volta para o seu rosto.

"Eu não sei porque você tá me perguntando isso, mas se você quiser conversar..." - Não consegui terminar, pois ele me interrompe.

"Não, não. Vai" - Ele diz, seco.

"Então tá, boa noite" - Dou um abraço e um beijo nele e saio do quarto.

Ando pelas ruas escuras da cidade. Pensei e rodei as palavras de Ian na cabeça, mas não consegui chegar a nenhuma conclusão para aquela pergunta que ele havia feito, por isso resolvi deixar pra lá.

Quando chego, vou até o banheiro lavar toda a maquiagem e me apoio na pia. Solto um longo suspiro que nem sabia que estava segurando até aquele momento. Olho para a minha cara lavada no espelho e uma onda de raiva percorre todo o meu corpo. Tem tanta coisa que eu gostaria de mudar em mim e não posso. Nem percebo o que estou fazendo até minhas unhas soltarem minhas pernas e eu olhar para o sangue escorrendo por toda a minha coxa. Deus, eu tinha que parar de fazer isso.

Limpo o sangue e olho para os machucados que eu abri ainda mais. Saio rápido do banheiro, querendo o conforto do meu quarto e assim que o sinto, finalmente relaxo.

Coloco uma calça larga de pijama e um moletom. Me afundo na cama e caio em um sono profundo, conseguindo dormir bem depois de dias.

O IntercambistaOnde histórias criam vida. Descubra agora