Herança

Capitulo 1

- Desculpe, garoto, isso não vai acontecer - A voz do médico parecia indiferente, até entediada.

Izuku, de quatro anos, sentiu o boneco de ação do All Might escorregar de suas mãos e o ouviu cair no chão, mas apenas ficou sentado, atordoado. Ele não tinha uma peculiaridade? Nenhum mesmo? Ele não conseguia entender. Ele ouviu o médico explicar à mãe que a radiografia do pé era o melhor indicador e por quê. Ele não entendia o que os ossos do dedo do pé tinham a ver com alguma coisa e realmente não se importava. Como ele poderia não ter uma peculiaridade? Todo mundo tinha um! Ele não conhecia uma única pessoa que não tivesse pelo menos um pequenino.

Izuku caminhou silenciosamente ao lado de sua mãe enquanto eles saíam do consultório do Dr. Tsubasa e desciam a calçada lotada até a estação, onde embarcaram em um trem para voltar para casa. Sua mãe manteve o braço ao redor e tentou falar com ele suavemente, mas ele não a ouviu, tão profundo foi seu choque com o que o médico havia dito. Ele não conseguia nem chorar. Ainda não.

Ele estava apenas vagamente consciente de que algo estava errado quando sua mãe deu um grito assustado de alarme e agarrou-o com força pelo braço e puxou-o de seu assento para seus braços. Houve um barulho alto e as pessoas gritavam enquanto o trem balançava violentamente de um lado para o outro. Houve um momento de alívio quando o trem pareceu parar nos trilhos e sua mãe soltou um suspiro de alívio.

É por isso que foi ainda mais chocante quando houve um BOOM ensurdecedor! ! Parecia que o trem pulou como um gato atacando a presa, então o punhado de pessoas no vagão pareceu flutuar por um momento. O estômago de Izuku ficou estranho quando a falta de gravidade tomou conta, depois se soltou quando o vagão caiu de lado. Todos voaram para os lados quando o trem saiu dos trilhos e começou a tombar como um barril retangular morro abaixo.

Todos estavam sendo jogados como bonecos, e Izuku sentiu os braços de sua mãe apertarem e a mão dela pressionar a cabeça dele contra seu ombro. Ele sentiu os joelhos dela apertarem contra ele por baixo enquanto ela se tornava uma bola protetora ao redor dele o mais firmemente que podia. Seu coração batia muito rápido agora, e ele podia ouvir o coração de sua mãe trovejando com o ouvido pressionado contra ela. Era como Izuku imaginou que seria dar uma volta em uma secadora enquanto eles rolavam, com o mundo (e tudo nele) girando ao seu redor. Houve muitos solavancos, e Izuku ficou assustado porque sua mãe gritava quando eles caíram, eles viraram e caíram novamente. E de novo. E de novo.

- Izuku - ele ouviu sua mãe dizer perto de seu ouvido quando o trem ficou quase imóvel novamente - Izuku, você está bem?

Sua voz estava baixa e ela respirava de forma estranha.

- Tudo bem - Izuku respondeu, sussurrando também.

- Eu te amo, menino - ela disse a ele, como fazia quando o colocava na cama à noite.

- Também te amo - ele respondeu, perguntando-se por que ela estava chorando.

Ela estava machucada ou apenas com medo? Ele estava assustado. Ele não sabia o que estava acontecendo, mas sabia que algo ruim estava acontecendo. Ele doeu bastante por ter sido esbarrado, mas não queria assustar a mãe chorando. Enquanto ele estava com dor, não doeu tanto, e ele seria um herói algum dia, e heróis nunca choram! Ele estava tentando pensar no que poderia fazer ou dizer para fazer sua mãe se sentir melhor, mas então aconteceram mais coisas ruins.

Houve outro estremecimento no vagão e então um estalo agudo! e uma sensação de agitação quando o trem começou a deslizar no teto em uma inclinação. Os assentos ficavam onde deveria estar o teto e havia vidros quebrados ao redor deles. Izuku podia sentir algo quente e úmido em seu rosto e nos braços em volta de sua mãe. Os outros passageiros voltaram a gritar, mas a mãe dele não. Ela ainda estava enrolada nele, mas não com tanta força, e estava quieta e calma. Izuku a achou muito corajosa, não entrou em pânico como todo mundo. Foi então que o trem parou abruptamente, e Izuku sentiu algo atingir sua cabeça com força suficiente para fazer estrelas flutuarem em sua visão antes que tudo escurecesse.