Vinte e Um

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Léo Pereira
📍rio de janeiro, barra da tijuca
📆 20 de outubro de 2023

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Fazem algumas horas que não tenho notícia da Gica, na verdade, estou sem notícias dela o dia inteiro. Ontem, passamos o dia juntos, e a deixei em casa pois ela disse que teria que ir visitar a avó. Estamos bem, desde o último acontecimento e mesmo que não tenhamos transado esses dias — já que ando super cansado graças aos treinos —, estamos bem.

Como o treino de hoje foi pela manhã, e minhas avaliações médicas estão em dia, fui liberado mais cedo, mas fiquei até quase o início da tarde, porque tinha que conversar com a galera do social media. Agora, estou dirigindo em direção a faculdade para buscá-la, liguei várias vezes e mandei mensagens, ela não respondeu ou retornou. Acho que por ser início de semana, deve estar uma loucura na universidade.

Gica me disse para usar outra porta, uma lateral que quase ninguém usa e não me veriam entrar, e se vissem não dariam tanta importância. Estacionei o carro próximo, e andei até lá. Cortei o cabelo a uns dias, e agora é ainda mais fácil me misturar por conta do boné frequente.

Entro na biblioteca e vejo Henrique e Yazi, rindo um para o outro e encostados no balcão que Gica normalmente fica atrás, usando óculos de grau e calça jeans — menos frequente agora.

— Veja só se não é o loiro copacabana. — Yazi fala quando me ver se aproximando. — O que você fez dessa vez?

— Nada. — Ergo as mãos em rendição, mostrando ser inocente. — Vim buscar a Gica. — Respondo.

— Veio ao lugar errado. — Henri dá um tapinha no meu ombro e franzi o cenho.

— Como assim?

— Ela não veio trabalhar hoje, tá de folga. — Explicou ela e tirei o telefone do bolso, discando o número da Gica e levando o aparelho a orelha. — Porque? O que foi?

— Não falei com ela o dia todo. — Digo, e ligação cai na caixa postal. — Vocês não tiveram notícias dela? — Indago, ligando novamente.

— Não. — Respondem juntos e dando de ombros.

Mas algo no semblante de Henrique muda, e depois ele encara o chão, contando os dedos da mão e contando a olhar para Yazi, que parece ler o olhar dele e a expressão também muda.

— Hoje é vinte de outubro, Yasmin. — Ele fala, com um ar triste. — Ela não vai atender. — Me encara.

— O que tem hoje? — Questiono preocupado. Eles se entreolham de novo. — Gente, preciso saber.

— Não, não precisa. — Yazi pontua meio irritada. — Me desculpa. — Se remedia rapidamente. — É que é uma coisa dela, sabe...

— Mas ele precisa saber. — Henrique fala, então se vira pra mim.

Minha cabeça imagina mil coisas, das piores as mais piores ainda.

— Não sou eu quem deveria estar te contando isso. — Ele suspira. — Até porque, nenhum de nós sabemos o motivo, quando a conhecemos isso já acontecia.

— Você tá me deixando nervoso. — Cruzo os braços.

— Todo dia vinte de outubro, a Gica fica incomunicável. — Engole em seco. — Ela perdeu alguém nessa data a uns anos atrás, e lida com o luto muito bem o restante do ano, menos nesse dia.

𝐈𝐆𝐔𝐀𝐑𝐈𝐀 ━━ Leo PereiraOnde histórias criam vida. Descubra agora