CAPÍTULO 09

115 14 34
                                    

— De quê são esses bolinhos? — opinou Angie, segurando o prato de porcelana.

— Então.. Eram para ser bolinhos fritos, mas como não sabia como fritar, resolvi tentar um pequeno experimento e assá-los — disse Rayna, envergonhada. A cozinha estava tão parada no tempo, que ela levou tempos para descobrir como mexer. Não existia geladeira, tudo era guardado nos armários, que estavam sujos. Teve que criar alternativas.

— Você vai nos matar!

Rayna segurou a chaleira e encheu a xícara de Donna Beneviento com o chá limonada, pela terceira vez consecutiva. Pelo que descobriu, a lorde dispunha uma caixa de cor rubi com inúmeros tipos de chá, mas tinha uma paixão específica por aquele, preparado com mel e limão.

Seu ombro estava melhorando aos poucos, embora Angie não estivesse convencida. Ela insistia em dizer que ela precisava descansar, Rayna insistia que não precisava daquilo tudo.

— Continuando, eles se chamam papanasi, pelo menos aqui na Romênia. Não sei se estão bons, mas espero que gostem

Sua relação com Donna Beneviento avançava e regredia ao mesmo tempo. Três dias atrás, a lorde conversou com a forasteira tranquilamente, enquanto cuidava de seu machucado — talvez por ter sido uma emergência. No outro, dava pulos de susto assim que era encontrada vagando pelos corredores.

Rayna respeitava isso, afinal, fazia parte de sua personalidade. Ainda assim, vê-la começar a participar das refeições era um passo significativo, e ela ficou muito feliz com isso.

A lorde segurou o bolinho e afastou o tecido do véu, comendo um pedaço da massa. Rayna teve um pequeno vislumbre de seus lábios carnudos.

— Então... Posso me tornar a chefe particular de Alcina ou posso envenenar a Dália com os meus bolinhos? — brincou Rayna.

Donna deixou a comida no prato, falando baixo:

— Eu... Gostei

Rayna fez beicinho — Isso me pareceu um "não" educado

O véu escuro tinha alguns furos na região da face, era o que deixava a lorde enxergar, e Rayna constantemente tentava decifrar as suas expressões faciais sempre que estava próxima. Ela conseguiu nessa hora, viu as sobrancelhas de Donna arquearem e os olhos surpresos. Ao menos, um deles. Por alguma razão, ela não podia ver o outro olho...? Imaginou que estivesse escondido pelo escuro do tecido.

— Eles têm gosto de chumbo — exclamou Angie.

— Não! — gritou Donna, segundos depois tampa a região da boca com as mãos, como se percebesse que levantou a voz.

Rayna deu um sorriso leve. Achava a voz dela adorável, bem, quando ela falava. Era rouca, e ainda solene, como uma gota de mel quente caindo sobre o leite frio.

— Tudo bem! Eu me rendo, vou tentar de novo na próxima vez e garanto a vocês duas que ficará comestível

Donna bebericou um pouco do chá e fatiou o brioche, provavelmente não querendo manter contato visual. Rayna percebeu isso rápido, e foi buscar a lista com as tarefas do dia em cima da mesa. Gostava de começar cedo para que assim pudesse aproveitar o resto do dia colocando os pensamentos em ordem ou lendo um livro.

Ela iria embora e deixaria as duas sozinhas na sala de jantar, mas obviamente ela não fez isso.

— Então, eu vejo que você costuma produzir bonecas. Elas são muito bonitas. É tipo um hobbie ou você vende no vilarejo? — perguntou.

Tanto Angie quanto Beneviento se assustaram com tamanho questionamento, diferente das pequenas trocas de conversas que tiveram até agora.

— Se não quiser me falar, tudo bem

The Lost SoulOnde histórias criam vida. Descubra agora