CAPÍTULO 11

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Largando o facão no chão, a forasteira se dirigiu para mais dentro da sala com um ar de despreocupação, andando pelo tapete reto e vermelho. Exatamente, ela sabia que estava em um péssimo estado e claro, não tinha culpa.

Com os olhos pairando no lugar, ela deu de cara com Heisenberg, que tinha um sorriso divertido no rosto e sobrancelhas levantadas. Rayna revirou os olhos ao se lembrar da imagem do homem carregando uma pessoa inconsciente mais cedo.

Por fim, sorriu ao ver um lugar vago na cadeira larga onde Moreau se sentava. Sim, se lembrava do nome dele perfeitamente. Mas antes de sentar lá, cruzou seu olhar com o de Donna Beneviento e Angie. Um entendimento enigmático e silencioso. Rayna pensou o que suas antigas anfitriãs poderiam pensar sobre sua situação.

— Por favor, continuem com a reunião, meus amigos — Ela começou, com a voz carregada de sarcasmo — Decidam meu destino enquanto estou aqui, sentada bem ao lado do... Como é o seu nome mesmo? Moreau, né?

A surpresa estampou-se nos olhos do lorde quando a mulher se sentou ao seu lado, uma cena que levaria tempos para ele compreender. Ele sempre fora consciente de que sua aparência deformada assustava a todos, até mesmo sua família, e alguém de fora fazer tamanha escolha era muito incomum.

Um lampejo de esperança brilhou em seus olhos.

— Tudo bem, espero não ter errado seu nome

Rayna tirou suas botas e a sua mochila, colocando-as no chão, assim como sua mochila. Assumiu uma postura mais relaxada na cadeira. Angie a observava com um misto de curiosidade e diversão, até que acenou, e a mulher devolveu. Donna, no entanto, sentia medo pelo o que Rayna havia enfrentado para estar suja de sangue.

— Então, reunião né? Eu gostaria de me defender também — Ela cruzou as pernas — Eu fiquei esses dias com a Donna e a Angie, sendo empregada delas. Mas isso vocês já devem estar doidos de saber

Ela deu uma pausa, esperando resposta. Prosseguiu: — Foi muito bom, admito. Tirando o fato de que me machuquei muito, elas cuidaram muito bem de mim, ou devo dizer, vigiaram os meus passos

— Agora hoje, Mãe Miranda me jogou em uma grande armadilha. Eu tive que matar dois daqueles monstros sozinha, dá pra acreditar? Eu acredito, porque eu consegui — Rayna riu — O gato comeu a língua de vocês? Não me deixem falando sozinha

Heisenberg pegou um charuto e o acendeu.

— Você não bateu a cabeça no chão e sonhou com tudo isso? — perguntou Karl.

— Oh não, claro que não. Sou uma mulher atenta aos detalhes, e garanto a vocês que falo a verdade — Ela apontou para o lado com o queixo — Vão lá ver os corpos, se não acreditam em mim

Donna Beneviento estava começando a ficar apreensiva. Não só temendo o que Mãe Miranda pensava de tudo isso, como também em ver a estranha agir de jeito tão relaxado e descontraído. Ela não era assim, era?

— Mas... Por favor, não me obriguem a fazer isso de novo por que...

Rayna fechou os olhos e afastou a parte rasgada da manga, mostrando seu ombro, agora desconfortável e doloroso, onde os pontos feitos por Donna que, por ainda não terem cicatrizado devidamente, se abriram quando ela se esforçou na luta.

— ... Bem, não sei dar pontos em mim mesma. Certo, Donna?

Rayna piscou para a fabricante de bonecas, que olhou para baixo envergonhada.

— Que legal! — comemorou Angie, balançando as pernas.

A audácia da mulher fez chamas invisíveis crescerem nos olhos de Mãe Miranda. Ela apertava os seus punhos fortemente. Como queria arrancar aquele sorriso convencido da forasteira, mas sabia que precisava tomar uma posição menos rigorosa e manter sua reputação como líder protetora.

The Lost SoulOnde histórias criam vida. Descubra agora