Vislumbres do Inconsciente

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O alívio e o desespero de Rayna se chocavam em sua mente. Ela hesitou por um segundo, suas pernas tremendo antes dela enfim dar um passo à frente. Sua mente girava e lágrimas já caiam como cascata, comparando-se com a dor de estar em um pesadelo incansável. Esperava que ali, sentada no chão, não fosse a sua melhor amiga, e sim qualquer outra pessoa.

Mas o universo, ou melhor, o vilarejo, adorava lhe pregar peças.

— Sam...

A voz de Rayna saiu trêmula e sussurrante, assim que notou o fleche de luz — vindo do sol se pondo — bater na imagem da mulher em sua frente e essa ficar tão incomodada a ponto de cobrir os seus olhos. Aquilo acendeu uma chama de fúria nela, como tudo chegou naquele ponto?

Ela se ajoelhou diante dela e estendeu a mão lentamente, sem querer assustá-la. O coração batia forte enquanto cada respiração fraca que a amiga dava.

— Ei, Sam... sou eu, Rayna. Está tudo bem agora... Meu Deus

A voz da mulher de sardas tremeu e se misturou com o choro descontrolado. Aquilo doía tanto.

Sam piscou, os olhos vagamente focando no rosto de Reynold, mas a desorientação e o sofrimento eram profundos demais para que ela processasse totalmente. Um sussurro quase doloroso escapou de seus lábios rachados. — R-rayna...?

— Sim. Sou eu, amiga — Ela forçou um sorriso, a mão finalmente tocando o braço de Sam com suavidade. — Eu estou aqui. Me perdoa... Por Deus. Me desculpa. Eu não deveria... Eu te meti nisso sem querer...

A prisioneira tentou mover os lábios, mas as palavras falharam, substituídas por um som rouco que se perdeu em um suspiro cansado. A cada nova tentativa, parecia que o ar escapava de seus pulmões. Seus olhos se fecharam novamente e, na velocidade da luz, seu corpo caiu para frente.

— Sam? Sam!

Rayna teve tempo de segurar a amiga antes que ela batesse a cara no chão. Ela enrolou os seus braços nela e manteve a cabeça dela apoiada em seu braço. Com o coração apertado, ela se ajustou e passou os braços sob o corpo de Sam, levantando-a. A leveza de sua amiga era chocante: mais magra do que antes. Ray sentiu um nó de raiva se formar em seu estômago. Mesmo com o cansaço pesando, ela conseguiu erguê-la e apoiá-la com firmeza contra o próprio peito.

— Vamos sair daqui — murmurou Rayna, respirando fundo, inclinando-se para pegar a navalha de volta no chão. O som abafado de suas botas batendo contra o chão de madeira era a única coisa que preenchia o silêncio daquele lugar, enquanto ela avançava para fora, encontrando Salvatore parado na porta.

As tábuas de madeira rangiam sob os pés de Rayna enquanto ela lutava para carregar o corpo inconsciente de Sam em seus braços. O ar estava impregnado pelo cheiro pútrido da água estagnada e pelos resquícios das substâncias químicas.

— Espera, espera!

Aquelas eram as palavras que Salvatore Moreau tanto exclamava, ao mesmo tempo que avançava, seus pés deslizando sobre o solo molhado e tropeçando constantemente. Rayna ignorou. Ela não chegaria a lugar algum se parasse para escutar as desculpas esfarrapadas dele, e com certeza Mãe Miranda apareceria a qualquer instante para prestar contas. A dita forasteira somente esperava que Dália roubasse a atenção dela o bastante.

— Já chega, Moreau. Eu não quero ouvir mais nada

Mas a figura desesperada não desistiu. Com uma rapidez inesperada, correu até ela para agarrar seus cabelos e puxá-la com força para trás. O grito de Reynold ecoou pelo cômodo enquanto o desequilíbrio quase a fez cair, mas seus pés se prenderam na madeira com tanta força que a criatura curvada mal teve tempo de raciocinar como seus planos estavam indo por água abaixo, de novo.

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⏰ Última atualização: Oct 10 ⏰

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