3 Dias Depois:
Fayola:
O ambiente triste e sombrio se mantinha. Fazia três dias que minha mãe partiu para eternidade. A dor me corroía e a frustração na mesma proporção. Amaldiçoei o dia em que nasci,amaldiçoei a miséria,a falta de empatia da família do meu padrasto e todas outras coisas que contribuíram para a morte da minha Mãe.
****___Fomos na morgue ver como o corpo está, nos disseram que temos de enterrar amanhã porque são poucas gavetas a funcionar e diariamente morre muita gente. conversei com os vizinhos e todos fizeram uma contribuição para comprarmos a caixa,o vizinho Manuel da administração já cuidou do espaço e a vizinha quina que vende fardos já deu jogo de lençóis brancos,toalha e vestido para colocarmos na falecida___disse dona cassova
___Que vida é essa? eu tinha prometido a minha mãe que estudaria e trabalharia para lhe dar uma boa vida,minha mãe morreu e tudo veio da bondade dos vizinhos nem um caixão para a minha mãe conseguimos comprar sem ajuda ___Disse aos prantos
___Não chores mais minha querida ___Disse colocando minha cabeça em seu colo
[...]
4 dias Depois-Funeral___Paula Lueji Cawica,nascida aos 10 de outubro de 1977 na província do Moxico,filha de,Albertina Kasinda e Manuel Noweji cawica. Em vida Paula foi viúva e deixou 2 filhos Fayola de 18 anos e Esanju de 8 anos.Fez o ensino de base na escola das madres em 1982 e posteriormente ingressou no magistério para fazer o ensino médio sem ter concluído devido à guerra civil,depois de um período na província do Huambo e bengo regressou a sua província natal onde veio a falecer vítima de doença em casa de sua mãe onde residia,no dia 3 de março de 2015. ___Disse o vizinho da administração dando uma pausa para as pessoas se acalmarem
___É com muita dor e tristeza que nos despedimos da nossa mãe,irmã,amiga e filha,Paula Lueji.
____Mãe,ah,aí minha mãe...
___Minha Lueji,minha rainha,minha única filha,minha riqueza ah minha filha,era suposto os filhos enterrarem os pais e não o contrário que nome devem dar a uma mulher que perdeu sua única filha,Aí zambe aí ___Disse aos prantos.
[...]
Um mês depois:___Boa noite,Avó!__Disse enquanto pousava o saco no muro do lado da porta
___Boa noite,Fayola.__Respondeu com a mesma calma de sempre
___O esanju já dormiu?
___Dormiu sim,estava a queixar-se de fome,dei-lhe batata doce que restou do mata-bicho,fez a tarefa e foi dormir.
___Hoje o dia não foi dos melhores,estive numa casa a lavar tanta roupa por isso só cheguei agora,são quase 20 horas__Disse depois de um longo suspiro
___Coitadinha da minha neta,tão jovem e já tem que carregar o fardo de cuidar e sustentar uma velha e uma criança, olha para essas mãos estão tão ásperas ___Disse lacrimejando
___A senhora e o meu irmão são a única família que eu tenho, a senhora é a mulher mais batalhadora que conheci na vida,na ausência da minha mãe ainda viva a senhora cuidou de nós como tem cuidado agora que ela morreu,eu nunca vou te deixar e cuidar de ti nunca será um fardo,eu vou vencer na vida os teus últimos dias nesta terra serão os melhores que podes imaginar eu juro, avó Albertina.
[...]
Dois dias depois:Fayola:
Eram 6 da manhã quando comecei a ouvir uma leve batida na porta,assim que abri fiquei surpresa com a visita:
___Chefe Antônio!__Disse surpresa
Ele estava acompanhado por dois tropas
___se tivesses um telefone não estarias surpresa,ligaria para avisar que viria __Disse com um leve sorriso entre os lábios
Eu estava surpresa com a visita.Puxei em 4 cadeiras e coloquei no quintal para que eles se sentassem
___Posso oferecer-vos alguma coisa? Não temos muito mas uma boa kissangua fresquinha,um chá de caxinde quentinho,bobom frito e abóbora cozida temos. Minha avó preparou com muito carinho hoje bem cedinho antes do sol nascer acho que sonhou com a vossa vinda cá __Disse com um leve sorriso também
___Eu vou querer um chá de caxinde, aos meus homens podes oferecer a kissangua e a abóbora, saímos ontem do Huambo devem estar famintos ___Disse o chefe Antônio
Depois de os servir sentei para conversar
___Então onde estão todos? Anseio tanto em ver a dona Albertina ___Disse enquanto levava a xícara de chá a boca
___A minha avó foi a lavra mas já deve estar a chegar, o meu irmão ainda está dormir e a minha mãe...__Pausa para respirar
___Você está bem?__Disse preocupado
___A minha mãe a enterramos no mês passado,ela não resistiu infelizmente. Morreu no mesmo dia que cheguei do Huambo nem se quer tive tempo de lhe dar as últimas notícias __Disse com um sorriso esforçado para disfarçar a dor
O chefe Antônio deu um longo suspiro e colocou suas mãos em meus ombros de seguida
___Eu sinto muito.
___Obrigada.
Por volta das 7 e meia da manhã,Avó Albertina chegou com uma bacia de gingubas.
___Quem são esses homens vestidos de fardas?___Disse ao se aproximar
___Dona Albertina, que bom vê-la depois de tantos anos ___Disse o chefe ao se aproximar dela para ajudar com a bacia na cabeça
____De onde me conheces? Estou velha e a visão anda mal não te reconheço.
___Sou eu o Antônio,do Huambo ___Disse abrindo seus braços
___Antônio___Disse sorridente e o abraçando animada
Depois de uma longa conversa sobre tudo que passou desde a passagem pelo Huambo,bengo e o regresso no moxico,e os últimos acontecimentos,Chefe Antônio então disse o que lhe trouxe aqui:
___Felizmente a sua neta encontrou-me no Huambo e explicou da vossa situação financeira e eu prometi ajudar com tudo que podia começando por falar com o Governador para vos colocar nos antigos combatentes mas com esse caos todo eu mudei a minha decisão para uma melhor ___Pausa para organizar suas ideias
___Eu pretendo vos levar no Huambo,tenho lá muitas propriedades. A Fayola e o irmão estão na idade de irem para escola,a Fayola pode ir para o Bié estudar agronomia na universidade e passará a regressar no Huambo aos finais de semana,eu tenho fazendas mas nenhum dos meus filhos tem interesse. Quanto ao rapaz ele entrará para um colégio bom e a senhora dona Albertina,poderá gozar de forma tranquila sua velhice,prometo que não irei deixar faltar o mínimo.
___A que preço fará tudo isso por nós se nem é nosso parente?___Disse a avó
___A custo zero, em um dos ataques o camarada Ufuko salvou a minha vida eu não estaria vivo hoje se ele não intervisse então não vou deixar a família dele no sufoco quando eu posso ajudar.
___Se a sua ajuda é de coração então nós aceitamos, a vida está difícil demais e eu não quero que os meus netos vivam essa miséria para sempre ___Disse avó
___Amanhã regressaremos para o Huambo podem vir conosco ou posso mandar os tropas virem a vossa busca em outra ocasião ___Disse o chefe
___Quanto mais cedo deixarmos tudo isso,melhor,mas daqui ha 3 dias para nos dar tempo de organizar algumas coisas.
[...]
Dois dias antes da viagem,Avó deixou tudo que tinha como a casa e a lavra na dona cassova com a promessa de que se não desse certo voltaria para ser enterrada na mesma terra que o seu marido e sua filha foram enterrados.3 dias depois o chefe Antônio mandou um voo militar,os nervos tomavam conta de todos nós,seria a nossa primeira viagem de Avião, minha e do meu irmão porque avó Albertina já tinha experiência do tempo da guerra. 1 hora depois chegamos no Huambo e um carro já estava pronto para nos levar.
Em poucos minutos chegamos para uma bela residência na cidade,era uma daquelas estruturas deixadas pelo colônio mas ainda em bom estado de conservação, o interior era linda e muito moderna,belas cortinas,mesa de madeira linda,sofás lindos,tudo era lindo. 3 quartos preparados e bem decorados,inclusive encontramos roupas novas nos guarda roupas. Tomamos banho,nós trocamos e já tinha uma mesa farta.
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A Procura de Miranda
RomanceApós a devastadora guerra civil em Angola em 1975, Paula e sua família enfrentam uma jornada tumultuada pelo país, sobrevivendo nas matas do Huambo. Seus sonhos são dilacerados pelas marcas de cada guerreiro, mas um falso conforto surge quando ela s...