1 capítulo

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1996-Huambo/bailundo

___Não adiantou nada expulsarem os portugueses se continuamos com as mesmas makas, o país para alguns aparentemente está em paz mas nós filhos de guerrilheiros que não fomos mandados para a Europa como os filhos dos chefes ainda sentimos na pele os efeitos terríveis da guerra ___Disse Paula enquanto bikulava o funge

___Eh Paula,Cala ainda vão te ouvir __Repreendeu a mãe

___Vamos calar até quando mãe? Os outros já estão na cidade,voltaram a estudar e fazer outras atividades. Eu já tenho 20 anos e nem o médio terminei minha juventude está acabar indo em todos os lugares onde o pai é mandando.já passamos quase nas 18 províncias e nada muda,voltamos a passar fome porque os homens da logística não querem chegar aqui.Segundo eles o inimigo ainda está solto enquanto não o derrotam continuam a sacrificar as nossas vidas pior que no tempo dos Indeles __Disse enraivecida pois a fome parece que gritava em meu estômago

___Você é criança,não sabes nada ___Disse minha mãe em reprovação

___Eu estou cansada dessa vida miserável mãe,não temos paz, a fome grita em nossos estômagos eu quero ter uma vida normal como as jovens da minha idade que estão na cidade ___Disse desesperada

___Vai levar comida no teu pai no quartel e para de falar bobagens ainda mais aqui onde parece ter escutas isso pode prejudicar o teu pai.

[....]
Paula: (voz off)

O acampamento onde estávamos era só para mulheres e filhos dos tropas de várias províncias que foram mandados em serviço no Huambo,já havia se passado 3 anos desde que viemos para aqui saindo da província do moxico. O quartel militar fica há 1 hora do acampamento e todos os dias tenho que pegar à estrada de terra para levar comida ao meu pai.

No cacimbo o sol arde tanto porém o frio vem com a mesma intensidade,eu era uma jovem vaidosa Alta,pele escura,olhos grossos e castanhos claros,magra mas com belas curvas,tudo bem distribuído,tinha os cabelos longos e crespos adorava prendê-los em duas tranças bailundas  e usar vestidos longos que meu pai trazia da cidade quando fosse. Quando chegava no quartel todos homens ficavam admirados e praticamente babando e neste dia não foi diferente...

___Paulinha __Disse com empolgação um dos militares

___Boa tarde,pode chamar o meu pai por favor ___Disse meio sem fôlego devido o cansaço da trajetória

___Eu já estava mesmo a ir no acampamento levar a mensagem que o teu pai mandou,ele foi mandado novamente para o Moxico e não sabemos quando vai voltar mas pediu que o esperassem no acampamento e que por nada no mundo saíssem de lá sem que ele regressasse__Disse paulatinamente

___Como assim o meu pai foi mandado para o moxico? Eu quero falar com o vosso chefe __Disse andando pelo quartel

___Paulinha,volte para o acampamento não arranje problema para o seu pai __Disse o militar chamado Antônio

___Senhor Antônio,já se passaram três anos desde que aqui chegamos.A vida continua a mesma e eu quero voltar para a cidade,quero estudar e trabalhar. até quando vão mandar o meu pai para todos os cantos desse país? até o verem morto por esse tal de inimigo que vocês dizem? ___Disse contendo as lágrimas que insistiam em cair

___Vá para casa,aqui não é lugar para mulheres ___Disse com firmeza

___Eu só quero ir para cidade,estou farta de estar aqui,estou farta de dormir naquelas tendas,de comer enlatados e de ver os meus sonhos morrerem com cada guerreiro. Eu estou farta ___Disse aos prantos

No mesmo instante apareceu um homem vestido com a farda,era um homem que devia estar entre os 35 ou 40 anos,estava acompanhado de outros homens militares e os que estavam no quartel manterem-se firmes assim que o viram.

___Quem é está mulher?
Sua voz era grossa e firme,seu olhar parecia fogo senti a minha pele arder enquanto me encarava sem esquivar

___É a filha do Ufuko,chefe.__Disse o sr Antônio

___E o que ela está fazer aqui?___Perguntou

___Eu trouxe a comida do meu pai mas me disseram que o senhor o mandou de volta ao moxico e nem ao menos teve tempo de se despedir da família...

___O teu pai é militar,ele fez um juramento,ele deve a pátria ele não foi fazer mais do que a obrigação dele __Respondeu com a mesma firmeza do início

___A obrigação dele é cuidar da família,tem muitos tropas aqui que não têm esposas nem filhos eles é que deviam ser mandados em serviço,a minha mãe não sabe o que é ter um homem para amar e eu já não me lembro do que é ter carinho de um pai ___Disse aos prantos

Ele fez um gesto com a cabeça e todos se retiraram do recinto

___Eu compreendo. A vida de um militar não é fácil ainda mais em tempo de guerra,nós abrimos mão de tudo,da família,dos amigos,dos sonhos. tudo para  servir a pátria, eu sei que é difícil estar aqui no meio do nada há anos sem fé e com pouca esperança mas essa é a vida que o teu pai escolheu e a situação do país não é culpa dele e nem de qualquer outro tropa...

___O senhor não compreende,a tua família está na cidade o senhor vai para lá sempre que lhe dá vontade,o senhor come e dorme bem e nós? Faz semanas que os homens da logística não vêm,na semana passada acordamos com tiroteios que não sabemos se são os tais inimigos ou os tropas que guardam as nossas tendas,recebemos notícias que alguns morreram até quando? Eu estou cansada eu só tenho 20 anos ___Disse aos prantos

Ele aproximou-se e envolveu-me em seus braços

___Calma,vai ficar tudo bem __Disse com a voz mais meiga

___Por favor senhor,faça com que o meu pai volte mais cedo. sem ele aqui eu não me sinto segura ___Disse apertando forte suas mãos

___Esta bem,agora volte para o acampamento...

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