16 capítulo

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Albertina (Flashback) 2001

___Essas terras já não produzem como antes,precisamos sobreviver de outra forma.A guerra felizmente já não é como antes, as pessoas já não morrem como animais e ouvi na rádio que estão a tentar um acordo de paz ___Disse repousando a enxada no chão

___E o que a mãe pensa fazer? __Disse Paula se sentando num pequeno banco de madeira

___Vamos procurar trabalho na casa dessa gente que mesmo com a guerra continua melhor do que nós ...

___O meu pai foi um grande guerrilheiro,ele morreu por essa Angola e nós como família dele merecemos mais atenção do governo,temos que discutir os nossos direitos como órfã e tu como viúva de um grande militar ___Disse firme

___Quais direitos? Quem nos vai dar ouvidos em uma época como essa?

___Eles mãe,eles precisam nos ouvir e resolver a nossa situação,até quando vamos viver nessa pobreza extrema? ___Disse revoltada

___Esquece esse assunto,vamos voltar a semear o milho está ficar tarde ___Disse dando fim ao assunto

____Mãe,eu vou para a cidade!__Disse rapidamente

___O quê? ___Disse surpresa

___Eu vou para cidade procurar o chefe Miranda,a minha filha não vai ter uma infância miserável enquanto que o pai come leitões e bebe vinhos no puro conforto ...

___Tu estás maluca,a cidade é grande sabes quantos chefes Miranda devem existir por aí? Se não fosses ingênua não terias essa criança hoje e não terias essas preocupações todas ___Disse voltando ao trabalho

___Eu já tomei a minha decisão,amanhã de manhã eu vou pegar um carro e vou para cidade e se não o encontrar eu regresso...

___Tu és teimosa Paula,nenhum homem vai para guerra fazer filhos,isso todos aqui já te avisamos,achas que a tua filha é a única criança que ele deixou por aí?

___Não importa quantas crianças ele tenha deixado ,mas a minha ele vai assumir e cuidar nem que seja a última coisa que faço nessa vida ___disse determinada.

Na manhã seguinte mal o galo cantou,Paula já estava em pé com a Fayola nas costas, seguiu até a estrada principal e partiu...

[...]
Paula
Luanda 2001

___Desçam rápido,desçam rápido ___Gritou o motorista

Assim que pousei minha pequena sacola no chão olhei para tudo à volta,a cidade não estava tão destruída como eu imaginava, parece que a guerra tinha afetado mais outras partes de Angola em relação a cidade,mas ainda assim era nítido o sofrimento do povo,algumas estruturas deixadas pelos portugueses estavam abandonadas e em mau estado de conservação,algumas ruas estavam agitadas tinha pessoas circulando de um lado e do outro  na sua maioria indo atrás da sobrevivência, em outros cantos da cidade um silêncio ensurdecedor se instalou parecia que os mortos ainda choravam por terem perdido suas vidas de forma tão trágica na guerra com os indeles e com os inimigos...

___E agora onde vou? A quem me dirijo? ___Disse olhando para tudo ao redor

O sol era tão intenso naquela tarde que sentia meu chinelo de borracha derreter

___Moça,melhor cobrires a cabeça desta criança ___Disse uma senhora

____Senhora por favor,pode me dizer onde fica o quartel militar mais antigo de Luanda?

___Fortaleza São Miguel é onde fica a base militar mais antiga de Luanda ___Respondeu sem parar para me olhar parecia estar apressada

Na verdade todos na cidade parecem viver muito apressados. Fortaleza São Miguel repetia o endereço como se fosse música, perguntei a um senhor como fazia para lá chegar e ele gentilmente me indicou um táxi que me levaria até o meu destino porém antes alertou-me:

___Ainda não é uma boa época para mulheres circularem por aqueles lados sozinhas.

___Eu não estou sozinha,estou com zambe como a minha mãe diz __ Disse olhando fixamente para os olhos do senhor

Depois de uns 15 minutos na paragem apareceu um táxi onde subi,tive que pegar um segundo táxi até a marginal de Luanda e de lá comecei a caminhar.estava cansada e faminta mas com o coração transbordando muita esperança, quando vi a fortaleza São Miguel meu coração começou a bombardear muito rápido.
O lugar no topo de uma montanha fazia as minhas pernas tremerem. Fui subindo as escadas e dando pausas estava exausta e com Fayola as costas que se queixava de fome e de sede. Quando finalmente avistei o enorme portão  sorri tão alto de tanta felicidade

___Chegamos minha filha__Disse como se Fayola entendesse a importância de estar na fortaleza

___Chegamos minha filha__Disse como se Fayola entendesse a importância de estar na fortaleza

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Fortaleza São Miguel (imagem atual/pois independência)
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Tinha dois homens vestidos de farda no portão

___Boa tarde!

___Boa tarde,as visitas estão encerradas.__Disse um dos homens com a voz muito forte e rouca

___Eu não vim fazer uma visita cordial a nenhum de vocês nem ao lugar,eu vim procurar alguém ___Disse com os nervos a flor da pele

___O país está passar por uma situação péssima,vá para casa,senhora __Disse o outro militar

___Eu não tenho casa na cidade,eu vim procurar o pai da minha filha...

___O pai da tua filha trabalha aqui? Qual é o nome dele?

___Eu não sei qual é o nome dele verdadeiro mas outros homens que se vestiam como vocês o chamavam de chefe Miranda, eu o conheci na guerra no Huambo em 96,depois dele sumir eu descobri que estava grávida agora que a guerra praticamente já acabou eu decidi vir a procura dele para cuidar da nossa filha,me disseram que aqui é a base militar mais antiga __Disse paulatinamente

Eles puseram-se em gargalhadas durante uns dois minutos

___Ninguém vai na guerra formar família,você é muito ingênua ___Disse um dos tropas

___Se estás a procura do pai da tua criança não o encontrarás aqui. Esse lugar foi construído há muitos anos pelos portugueses mas passando tantos anos tornou-se um museu, se o queres encontrar vá para outras bases militares se usares o nome dele de guerra com sorte o encontras ou encontras alguém que o conhece __Disse outro militar

Nesse momento o desespero tomou conta de mim e Fayola começou a chorar muito, o sol já estava se por

___Faça calar essa criança __Gritou o primeiro tropa com a sua voz rouca

___Eu não sei qual é o nome de guerra do chefe Miranda e eu não conheço a cidade, tenho apenas esses kwanzas para regressar e nem sei se chega,ainda não comi e nem bebi nada,eu não sei onde posso dormir ao relento sem ser importunada e esperar o dia clarear para voltar de onde eu não devia ter saído

___Dormir ao relento com uma criança?__Questionou o tropa que parecia mais sensato

___Eu não tenho parentes aqui a quem posso recorrer,vim apenas com esperança de encontrar o pai da minha filha ou alguma coisa que podia me levar até ele mas eu devia ter ouvido a minha mãe quando me disse para não vir .

___Entra,eu vou partilhar a refeição e água contigo depois falaremos melhor...

A Procura de MirandaOnde histórias criam vida. Descubra agora