[and I never saw you coming]

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Há pelo menos vinte minutos estou encarando com uma mínima expressão confusa o vestido que muito provavelmente pertenceu à mãe de Amanda.

Não surpreendendo em nada, — pois a este ponto, talvez eu já esteja ao menos conformada com a situação, — Mandy pediu para Anthony trazer o emaranhado de roupas meia hora após deixar o apartamento.

Tendo em vista o tempo que ela usou para chegar até seu dormitório, e o tempo para o jogador de hóquei aparecer e trazer a breve encomenda, a garota escolheu essa junção de vestido com meia-calça fina em menos de dez minutos.

Em seus padrões, não consideraria isto algo positivo para alguém que é minuciosa em cada escolha sua.

Este também foi o período de tempo em que o lutador desceu para aquecer e enviar uma breve mensagem de texto deixando claro que apareceria com Wes no horário estipulado. Mate não deixou claro, mas presumi que Wes seria o então primo.

Mais uma vez, o celular toca em cima da cama aparecendo o pedido de uma chamada de vídeo com Mandy.

Não a respondo, pois ainda estou trabalhando a ideia de agir com naturalidade sobre a roupa. Ou os saltos enormes acompanhados dela.

Não me lembro a última vez que usei um salto alto de verdade para qualquer ocasião. Talvez tenha sido aos sete anos, brincando com alguns de minha mãe?

Não é uma roupa extravagante, tenho que lhe dar o crédito, porque sei que pela gama de roupas herdadas de suas mãos, as chances de acabar com um vestido vermelho de lantejoulas seriam enormes.

Dá para perceber o seu cuidado em escolher algo completamente preto para que não me assuste e passe um certo ar confortável. Mas ainda sim algo.

O vestido é de tubo, com mangas longas, em um tecido que sei ter estado em alta em algum momento nos anos noventa, assim como a meia-calça de tecido fino e semi transparente.

Apesar da leve obsessão por rom-com's da época, até o exato momento, não me consideraria alguém com estilo e autenticidade para o usar algo assim por minha conta.

Mas se minha melhor amiga pensa, tenho que levar em consideração suas ideias. Mesmo que alguma das vezes não seja as melhores.

Os aplicativos de relacionamento que o digam.

O esforço e as posições para colocar a meia calça em si já foram algo a se refletir porquê não respondi à MJ que ficaríamos em casa naquela noite.

Se a minha opinião estava valendo por dois, então poderia ter lhe dado horas a mais esmurrando o saco de pancadas e filmes antigos para assistirmos na tv.

Sinto os pelos grudarem na minha nuca enquanto o suor vai se empossando na região.

Colocar o vestido é uma tarefa relativamente mais fácil, mesmo com o cuidado em não desmanchar os cachos dos meus cabelos no processo. Cada passo já minimamente organizado para que a tarefa  não torne mais estressante o seu contexto.

Não coloco os saltos, porque claramente não preciso dessa tortura somente para andar pelo apartamento. Apanho o celular em uma das mãos, indo em direção ao banheiro no corredor.

Inspiro, ainda evitando que a ideia se assente por completo no subconsciente. É interessante o quanto o pouco de adrenalina que corre pelo o meu corpo é o suficiente para que meu cérebro bloqueei a realidade da ideia.

Estou arrumada, mas não é como se ainda já tivesse liberado toda a ansiedade que sinto antes de qualquer evento que exija o mínimo de interação social.

PELO O QUÊ LUTAR | [Em Andamento] Onde histórias criam vida. Descubra agora