[so you were never a saint]

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Observo as costas largas de Mate que se movem com certa brutalidade, mesmo que sua postura seja tranquila, após sairmos da caminhonete laranja.

Nestes momentos que percebo o quanto tudo sobre o lutador foi moldado para ser exatamente isto, brutal. Mesmo que sua intenção em parte do tempo não seja se parecer assim.

Toda Way Brook's está coberta por uma camada de neve especialmente grossa na manhã de hoje, com finos montes caindo do céu em horários alternados.

Um desses dias frios, e perfeitos para se estar em casa, — o quê justifica meu humor que comumente não é dos melhores antes das dez da manhã.

Os piores dias para se trabalhar são os que Williams invertem nossos horários, nos obrigando em estar na livraria cedo em dias sem aulas.

Para a sorte de Sarah, ela tem um irmão disposto a cobri-la quando necessário. Para o meu azar, esse irmão é o meu suposto namorado em um acordo falso.

Nossa primeira manhã como colegas de apartamento ajudou a definir com clareza em minha mente nossa dinâmica.

Mate Jonas gosta de 'bom dias' com beijos babados na bochecha, uma dose corajosa de quatro ovos crus batidos e um aquecimento intenso com direito à flexões e música estourando em seu headphones, — mesmo que possa se sentir dolorido pela última noite.

Eu não gosto de falar antes das oito, e devorei um enorme pedaço de bolo de chocolate esquecido na geladeira por Sarah de validade e procedência extremamente duvidosa. Uma combinação interessante, eu diria.

Apesar de um tanto desleixado, o lutador não é tão desorganizado quanto eu, e já estava aguardando atrás do volante quando desci sete minutos atrasada do horário marcado para sairmos.

Ele caminha com rapidez em direção à loja, enquanto tento limpar entre passados o caminho esbranquiçado evitando uma possível queda. Ultimamente, não posso contar somente com a sorte para evitar algo tão banal assim.

À esquina, na calçada da loja, escuto o ganido alto que definitivamente não vêm de um cachorro. Mas da senhora que acompanha a quase miniatura de um.

Ignoro completamente, porque se for Gia, a primeira, única e mais eficiente, — acredito eu, — arqui-inimiga de meu velho chefe, a senhora não perderia a oportunidade em descontar toda sua frustração pelo fatídico episódio da tesoura de jardinagem em minha audição. Mesmo após quase um ano.

Uma única vez o sistema de controle criado por Sarah e eu não foi eficiente. Sempre tomamos cuidado para não haver muitos efeitos colaterais nas discussões incessantes entre o dono da livraria e a floricultora. Apesar disso, entre um de seus encontros nada agradáveis, com uma tesoura de jardinagem nada afiada e excessivamente enferrujada, Williams cortou a maioria das flores em exposição da senhora, — e que Deus o livre ela o escutar sendo referida assim.

De qualquer forma, a evitar é o modus operando que Sarah e eu assumimos separadas.

Apresso a caminhada afim de alcançar o lutador, mas algo não sai como o esperado em poucos passos.

Sinto um baque entre os pés, antes de perder o chão completamente.

Merda.

O grito sai estridente de minha garganta surpresa. Não acompanho o quê houve, tudo o quê noto é que logo estou com as mãos em frente ao rosto espalmadas sobre a calçada.

Algo se movimenta por entre minhas panturrilhas, se arrastando para longe.

— Merda, linda. — escuto os passos de Mate contra a neve fofa apressado. Ótimo. — Essa foi feia. — ele solta um assovio baixo. — Está bem?

PELO O QUÊ LUTAR | [Em Andamento] Onde histórias criam vida. Descubra agora