[unless you play it good and right]

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Através do retrovisor da caminhonete de Mate, Mandy permanece encarando do banco de trás com certo pânico exagerado. 'O quê porra estamos fazendo?', consigo a escutar gritando em minha mente por mais uma vez.

Confesso que não fui uma das melhores em a dizer com todas as palavras necessárias sobre o esquema de luta pertencente ao meu pseudo-namorado.

O motor para de emitir som assim que ele desliga o carro, retirando a chave da ignição. Rapidamente, noto que ele passa seus olhos sobre mim, procurando qualquer tipo de desconfiança entre minhas reações, — ainda em busca de uma exagerada. Confesso que já passei desse ponto há alguns dias.

Descemos da caminhonete em um estacionamento relativamente vazio, atrás de um dos prédios de história. Fico curiosa para saber como conseguiram montar um sistema como este debaixo dos narizes de todos sem suspeita alguma, — e o quão nossa pequena cidade universitária é irresponsável e não tão segura, já que Mate ainda consegue passar pelos poucos focos de segurança com o antigo crachá pessoal do então melhor amigo misterioso.

O lutador se certifica mais uma vez das reações presentes no rosto de Mandy e eu, sendo a segunda mais preocupada do que estou, antes de começar à caminhar à lateral de um prédio específico.

A garota entrelaça o braço com o meu quando começamos à o seguir, pronta para um comentário que só poderia sair de sua mente tão perturbada quanto a minha.

— Que ele não seja Jack, O Estripador reencarnado. — comenta com certo sarcasmo. Percebo que Mate não a ouviu, pois nunca perderia a oportunidade em concordar com ironia.

Chegamos em um ponto na lateral do prédio em que seu andar para, e acompanhamos sua falta de movimento.

Há duas portas de metais na lateral da parede de tijolos, que aparentam serem tão velhas quanto o próprio campus. O lutador faz um certo esforço para abri-la, antes de nos dar passagem como um cavalheiro.

Está escuro, e por notar ser uma escada em decrescente, fico com certo receio em algum momento cair até o último degrau. Algo que facilmente eu seria capaz.

Pelo canto do olho, percebo que Amanda mais uma vez fita meu rosto. Não tenho muito a dizer.

Mate fecha a porta atrás de nós, dando a leve sensação de claustrofobia, antes de estender o braço em minha direção, aguardando que aceite, o que faço de bom grado. Muito que provável que a esse ponto ele também já tenha entendido da minha capacidade em levar Mandy e eu até o degrau final do pior jeito.

Há uma espécie de luz amarelada conforme nos aproximamos no final, antes de escutar de fato a movimentação do que parece ser um conjunto de vozes.

Minha visão demora à se acostumar com a volta de luminosidade, o quê leva um tempo até que consiga reconhecer a imagem que surge em minha frente.

Não é um galpão, mas também é muito grande para um porão tradicional. Sendo sincera, estou perdida na dimensão, pois não se dá para ter certeza dela com a quantidade de gente. Quantidade de homens, pontuo na mente.

O tipo de lugar que talvez não entraria sozinha nem se implorassem.

Quando dou conta, estou presa mais fortemente ao braço do lutador como um bote salva-vidas. Tenho a ligeira vontade de afundar no concreto abaixo dos nossos pés.

Não tenho certeza se Mate nota a força que deposito no aperto, pois logo há pelo menos três pessoas diferentes vindo ao seu encontro. Volto o olhar para Amanda, mas ela se encontra impressionada demais com o seu redor para notar o gesto. Confesso então que nesse ponto, sinto-me em partes deslocada.

PELO O QUÊ LUTAR | [Em Andamento] Onde histórias criam vida. Descubra agora