[something good and right and real]

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Com pouca animação, alcanço o par de tênis vermelho com cadarços brancos. Os levo em direção à cama de casal, onde sento-me afim de os calçar.

Mate havia questionado há trinta minutos se já me encontrava pronta, enquanto dirigia até nosso apartamento. O dei a certeza que sim, uma óbvia mentira.

Meu alívio foi descobrir que o garoto não havia se aprontado na casa de sua mãe, onde passou grande parte da manhã. Então a hipotética 'eu' que estaria pronta teria que o aguardar.

É a primeira apresentação profissional de Sarah como dupla de Sick, e estamos todos indo assistir, — aparte de sua mãe, o quê me surpreende.

Retirei Mandy do poço fundo lotado de artigos, livros, contas e todas as outras coisas que não entendo sobre ciência, e a convenci a ir. Negar não era uma opção.

Além de nosso pequeno grupo, há também os garotos da fraternidade com quem dividem a casa, e alguns dos caras do time de basquete.

Esta é única apresentação em campeonato que temos a certeza em poder presenciar, por ser da categoria municipal, então não é atoa o sentimento de não poder recusar a chance.

Como não gostaria de ser uma total ignorante no assunto, nas últimas duas horas pesquisei o máximo necessário para entender a coisa toda.

Confesso que deveria ter sido mais compreensível com o stress e ansiedade de Sarah, pois não fazia ideia que a garota teria que fazer duas apresentações diferentes: o short program para a fase eliminatória, e o long program para a fase final.

Não existe 'se' quando se trata de Sarah e patinação. É claro que ela irá para a fase final. Nem que isso custe morar com alguém que ela odeia.

Olho o relógio na mesa de cabeceira, certificando que ainda temos tempo. Mate saiu do banho há alguns minutos, e sei que está sentado na sala em silêncio. O garoto não faz questão de me apressar.

O ecoar dos meus passos pelo apartamento soam altos demais, ou não sei ser coisa da minha cabeça.

Apesar de ir em direção à cozinha, minha visão viaja diretamente para a figura com suas costas virada para mim sentada ao sofá.

Os cabelos estão cobertos por uma touca cinza, e os ombros levemente curvados em uma jaqueta marrom surrada. Algo em sua postura incomoda.

Ando como uma mosca indo em direção à luz desde a conversa com Sarah. Analiso seu rosto, sempre perto da sua presença, procurando sinais que talvez nem ele perceba.

Não estou fingindo muito bem a proximidade exagerada, confesso. Na última noite, ele questionou se eu estava bem, e nem ao menos sabia o quê dizer. Não estou, em partes, mas não é exatamente pelo motivo que me levou à essa movimentação específica.

Encho um copo com água, frustrada porque para isso preciso direcionar os olhos para outro lugar.

Enquanto aguardo o líquido transbordar, escuto o farfalho de suas roupas antes dos tênis contra o chão em passos. A paranóia está me deixando muito boa em reconhecer o meu redor.

O som ritmado se aproxima com certa preguiça, e antes que feche a torneira, Mate abre a geladeira ao meu lado.

Com o copo em mãos, sento em uma das cadeiras à mesa. Ele retira um pote de geleia de morango, que só é tocado por ele, já que desgosto. Com agilidade, procura o saco plástico de pão de forma no armário, antes de colocar tudo exatamente ao meu lado, na mesa.

— Temos tempo. — comenta sem nenhum objetivo em particular. Concordo com a cabeça, enquanto ainda bebo do líquido no copo.

Mate escolhe duas fatias, antes de perceber que precisará de uma faca, que encontra na primeira gaveta à direita, no armário. Quando volta à montar o lanche, então tenho consciência de que não estou com a atenção direcionada à sua ação. Meu olhos estão em seu rosto.

PELO O QUÊ LUTAR | [Em Andamento] Onde histórias criam vida. Descubra agora