Parece que até então em nossa conversa, Mate Jonas e eu conseguimos abrir mais dúvidas do que finaliza-las.
— Então, acha um terror a ideia? —ele pergunta. Sei exatamente do que está falando.
— Não acho um terror toda a história do namoro, Mate. — noto que é uma das poucas vezes que consigo dizer o seu nome em voz alta. — Só não gosto de ter desconhecidos falando coisas sobre mim que não são verdadeiras... — respiro fundo.
A situação como um todo me toca em um ponto muito sensível, e faz reviver pessoas e acontecimentos que há muito tempo já deveriam estar enterrados na minha mente.
— Só não queria que pensasse que de alguma forma foi eu quem disse ou espalhou algo. Nunca faria algo assim. — deixo claro.
Esse é talvez o maior problema entre todos. Mate pensar que eu poderia espalhar algo assim propositalmente, mesmo que ao final nós dois saibamos que a culpa inicial já pertence à mim.
Não deveria ter feito a cena com Mandy no depósito, pois se o cara do Hóquei não tivesse visto, nunca teria repassado nada daquilo.
E mesmo que aparentemente, Mate pareça ser tão caoticamente perturbado quanto eu, — afinal, quem também precisaria fingir um namoro, por Deus?, — fico imaginando a hipótese que ele não fosse.
E se MJ fosse exatamente como todos os outros garotos de San Peter, a cidadezinha nada adorada da onde sai?
Quando percebo, vejo que estou tirando os pelinhos da minha unha com a outra, com bastante força. Um costume de uma das fases difíceis já passadas. Paro assim que vejo o irritadiço vermelho em volta do local.
Dr. Lyan, a mulher responsável pela minha escolha de carreira, não ficaria nada orgulhosa agora.
Mate acena com a cabeça, mostrando que compreende.
— Tudo bem então. — entre a frase, tento normalizar minha voz instável. Não gosto de lembrar certas coisas, quanto mais revive-las. — Agora, você é quem precisa me explicar o quê foi aquilo com a Coraline a pouco. — indico com a cabeça o lado de fora da lanchonete.
O lutador parece gostar do comentário extra, pois ri sem controvérsia alguma.
Apesar que, genuinamente, se parecer com a Coraline é bem legal. Então, não é um comentário nada afiado.
— Merda. — ele diz entre o último fio de riso. — É complicado. — reparo que ele ajeita a sua postura, movimentando os ombros. Não é o seu assunto favorito, pelo jeito. Ainda mais pela forma como ele começa a batucar os dedos na superfície da mesa.
— Pode tentar pelo início. — dou o melhor sorriso reconfortante que consigo.
Não quero tirar essa informação a força, mesmo que me ajude muito a entender quem Mate é, e o quê ele também ganharia com uma ideia maluca assim.
Ele passa uma das mãos pelo queixo, e entorta levemente o lábio inferior.
— Rina é uma velha conhecida, ex-namorada de um amigo, e faz uma besteira. — ele maneia com a cabeça.
Ergo as sobrancelhas em uma reação automática. Não posso evitar em questionar se o 'amigo' em questão seria uma metáfora para ele mesmo em terceira pessoa.
— Digamos — os seus olhos caminham pelo ambiente, parecendo buscar maneira de explicar. — Há algum tempo esse amigo e eu iniciamos um projeto, e Rina esteve no meio por ser sua namorada. — percebo como ele se esforça em não especificar coisa alguma.
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PELO O QUÊ LUTAR | [Em Andamento]
Roman d'amourA VIDA ADULTA É UMA DROGA. Ou pelo menos a ilusão dela é. Porque sejamos sinceros, não importa a sua idade, ou que você tenha saído da casa dos seus pais. Se é jovem, e universitário, há sempre aquele sentimento de que você é uma criança fingindo se...