Agatha Marinssi
Falta menos de um mês pro aniversário do pequeno e dessa vez o tema é Gabigol, o hiperfoco atual de Apolo, eu decidi ir até o CT ver se consigo ao menos um áudio do mesmo para mostrar ao Apolo durante a festa.
- Bom dia Lia - Digo abrindo a porta de casa para minha amiga. - Obrigada por ficar com o Apolo hoje.
- Vai em paz amiga, o pequeno vai ficar bem comigo. - Diz me abraçando.
Pedi a Thalia que cuidasse do Apolo hoje, para que eu tentasse esse vídeo. Apesar de todas as dificuldades eu tenho com quem contar, Thalia e seu João, meu pai, são tudo pra nossa vida.
Sempre tive uma condições de vida ok, não sou rica mas tenho carro e casa própria, graças aos meus pais. Minha mãe Helena antes de morrer fez questão de deixar tudo encaminhado para mim com a ajuda do meu pai, sua partida foi dolorosa mas entendo que tinha chego a hora dela descansar.
Engravidei de Apolo aos 22 anos, no fim da faculdade de pedagogia. Conheci seu genitor na faculdade e namoramos por um ano, até descobrir a gravidez e ele me largar. Tentei contato com ele quando Apolo nasceu, mas não o interessou e ao descobrir o diagnóstico do meu bebê as chances foram reduzidas, mas tudo bem. Apolo precisa de boas pessoas ao seu redor e alguém que não pode amar quem ele é do seu jeitinho não é alguém bom.
O diagnóstico veio aos dois anos, quando começou a seletividade alimentar e o hiperfoco. Corremos para um médico e aí veio o diagnóstico de TEA. Apolo é uma criança autista, com dificuldades em se comunicar , tem alguns hiperfocos e é hiperativo.
Ao iniciar o tratamento, pouco a pouco conseguimos enxergar uma melhora no pequeno, mas ainda sim exige cuidados. Apolo não consegue socializar facilmente, mas pouco a pouco isso tem mudado. Atualmente está na pré escola e conta com o suporte de uma mediadora em sala que o ajuda, diariamente tenho atualizações de seu desenvolvimento em sala. A primeira vez que ouvi Tati, sua mediadora, falar que ele teve 20 minutos de interação com as outras crianças eu chorei por horas.
O sentimento de ter um filho e querer o proteger e louco, você faz qualquer coisa pra ter aquela criança segura mas quando seu filho precisa de uma atenção maior por algum tipo de transtorno ou deficiência é ainda pior. Sou capaz de destruir qualquer um que tentar machucar meu filho. Ele é puro e doce, não merece menos que amor. E por esse motivo não me envolvo amorosamente com ninguém, não quero colocar o bem estar do meu filho em risco ao me envolver com alguém que possa não ama-lo ou não enteder suas necessidades.
Vou o caminho de Caxias até Vargem Grande na zona oeste do Rio de Janeiro, pensando sobre tudo como eu mudei com a chegada do Apolo, como minhas metas e a forma que enxergo a vida mudaram.
Estaciono o carro um pouco distante do Ninho e vou andando. Durante o percurso um vento fresco beija minha pele e é inevitável sorrir, aquilo me veio como um sinal de que eu conseguiria.
Me aproximo do portão onde os jogadores entram com o seu carro e tento mentalizar que tudo vai funcionar bem, não tinha um plano. Eu não conhecia o carro dos jogadores ou a rotina deles, apenas vim com a certeza de dar tudo certo. A mais algumas pessoas ali, me aproximo de algumas mulheres e logos entramos em uma conversa sobre o motivo de estamos ali e é unânime o motivo: filhos.
Explico a elas o meu objetivo e elas prometem me ajudar, sinto um alívio.
Uma delas se aproxima de um dos líderes de uma página grande do flamengo que estava ali e conta sobre meu caso e o cara apenas concorda com a cabeça.
Um carro se aproxima e pelo que falam é o Giorgian, ele se aproxima e para o carro tirando foto com algumas pessoas. O homem para quem a moça falou me chama pra que eu me aproxime.
- ¡Hola! ¿Mi amigo me explicó que quieres un video para tu hijo? (Ooi, meu amigo me explicou que você quer um vídeo para seu filho?)
- ¡Hola, sí! Mi hijo es autista y tiene hiperfoco en Flamengo, se acerca su cumpleaños y quiero darle una sorpresa. Si pudieras grabarlo te lo agradecería inmensamente. (Oi, sim! Meu filho é autista e tem hiperfoco no Flamengo, o aniversário dele está chegando e quero surpreendê-lo. Se puder gravar ficarei imensamente grata). - Digo sorrindo e ele se surpreende pelo espanhol.
- Claro que posso, cual el nombre del niño? - Pergunta.
- Apolo - Digo sorrindo
- Yo la ayudaré. Dame tu número y anota el mío y hablo con los chicos para que graben un vídeo cada uno. - Diz e eu só sei sorrir, entrego meu celular a ele que faz o mesmo. Salvo meu contato como "Agatha Mãe Apolo". Logo o devolvo e ele devolve o meu. - ¿Te mando un mensaje y me lo devuelves explicándome todo el caso? Podría ser a través de audio para poder mostrárselo a los chicos.
- Arrascaeta obrigada, você não tem noção do quão grata eu estou. De verdade, muito obrigada.
O agradeço e ele segue. Agradeço todos ali que me ajudaram e prometo atualizar eles de tudo que acontecer já que trocamos Instagram.
Caminho até meu carro, me acomodo no banco e fecho os olhos agradecendo a Deus por ter me ajudado e colocado boas pessoas em meu caminho.
Pego meu celular e resolvo mandar a mensagem que arrascaeta pediu.
" Oii Giorgian, sou Agatha mãe do Apolo que você encontrou em frente o CT. Vou te explicar tudo direitinho. Apolo vai fazer 4 anos e é diagnosticado com TEA, transtorno do espectro autista. Ele também tem alguns hiperfocos que é o futebol, o Flamengo e o Gabigol. Ele não se comunica tão bem, tem algumas dificuldades na fala, esperei por quase 3 anos para o ouvir falar e a primeira palavra dele foi Gabigol - digo rindo - vou te enviar o vídeo do momento, a segunda palavra foi flamengo. Apolo é um doce de criança e completamente apaixonado pelo time, você não tem noção da felicidade em que ele fica dia de jogo. Tentei algumas vezes levá-lo ao estádio mas é complicado demais pra ele. Eu só - suspiro - quero te agradecer de coração por está me ajudando, só o fato de parar seu tempo pra ajudar meu filho já é demais. Agradeço de verdade por está me ajudando a fazer o meu pequeno feliz. Obrigada."
Finalizo o áudio e começo a dirigir de volta para casa.
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PEÇA RARA - GABIGOL
FanfictionAgatha Marinssi é mãe de Apolo Marinssi de 4 anos diagnosticado com TEA, transtorno do espectro autista. Agatha compartilha sua rotina nas redes sociais como mãe atípica desde o diagnóstico de seu filho a dois anos atrás. Apolo desenvolveu hiperfoc...