Gabriel Barbosa
O dia começou bem, apesar de tudo que vem acontecendo nos últimos tempos.
- Bom dia, bom dia cambada. - Digo entrando no vestiário do ninho.
O vestiário do CT antes do treino é uma serotonina diaria, tem de tudo e é impossível se manter triste com os caras.
Tristeza ultimamente é um dos sentimentos que mas tem se apossado de mim, nunca levei em consideração meu psicológico, até que realmente estivesse cem por cento fodido.
O último ano sem dúvidas foi o pior, tanto pessoalmente quanto profissionalmente. Me perdi de quem eu sou e tá sendo difícil me reencontrar.
Fiquei alguns meses no início do ano afastado, por recomendações médicas, meu psicólogo julgo ser o melhor no momento.
Estava voltando aos poucos a jogar, iniciei no banco que é onde permaneço. A um tempo atrás isso afetaria meu psicológico, mas agora eu entendo que é necessário e entender isso foi doloroso. Estava aprendendo a não me importar com o que pensam sobre mim, apesar de sempre demonstrar não me afetar a realidade era diferente.
Saio dos meus devaneios com o arrasca voltando de algum lugar, cheguei e ele não estava aqui, apenas suas coisas.
- Quero falar una coisa com vocês. - Diz sério. - Podem sentar e me ouvir ? - Concordamos e sentamos nos bancos do vestiário.
- Hoje quando eu tava chegando, um dos cara que é dono de uma página de memes do flamengo me chamou e me apresentou uma mulher, Agatha. Ela é mãe de um garotinho chamado Apolo e ele é autista, ela me explicou que ele também tem hiperfoco em algumas coisas e que o Flamengo é uma delas. O aniversário dele está se aproximando e ela queria fazer uma surpresa pra ele com vídeo de alguns jogadores. - Diz e pega o celular - Ela me enviou um áudio e alguns vídeos e vou mostrar a vocês.
Ele acessa seu whatsapp e da play em um áudio .
"Oii Giorgian, sou Agatha mãe do Apolo que você encontrou em frente o CT. Vou te explicar tudo direitinho. Apolo vai fazer 4 anos e é diagnosticado com TEA, transtorno do espectro autista. Ele também tem alguns hiperfocos que é o futebol, o Flamengo e o Gabigol. Ele não se comunica tão bem, tem algumas dificuldades na fala, esperei por quase 3 anos para o ouvir falar e a primeira palavra dele foi Gabigol - diz e rir - vou te enviar o vídeo do momento, a segunda palavra foi flamengo. Apolo é um doce de criança e completamente apaixonado pelo time, você não tem noção da felicidade em que ele fica dia de jogo. Tentei algumas vezes levá-lo ao estádio mas é complicado demais pra ele. Eu só - suspira - quero te agradecer de coração por está me ajudando, só o fato de parar seu tempo pra ajudar meu filho já é demais. Agradeço de verdade por está me ajudando a fazer o meu pequeno feliz. Obrigada."
A voz dela é doce e calma, transmite uma sensação de paz.
Meu coração salta no peito em saber que mesmo com o caos que eu sou, crianças se espelham em mim, isso me preocupa na mesma intensidade. É lindo saber que mesmo dentro de seus limites uma criança me ama e admira, o privilégio de ser amado por seres tão puros é pra poucos e sou grato por isso.
- Mano a primeira palavra dele foi Gabigol? - Pergunto sorrindo.
- Ella dijo que si (ela disse sim) - Responde Arrasca - Tengo un vídeo. - Diz e abre o vídeo.
No vídeo ele está sentado em frente a TV e o hino toca, a câmera passa lentamente por cada jogador. Sua mãe senta ao seu lado e beija sua cabeça enquato Apolo está concentrado na TV. Logo a câmera passa por mim e ele fala em alto e bom som "Babi-gol". A mãe dele olha assustada para o filho, o agarra e enche de beijos e logo levanta gritando.
- LIA - E logo aparece outra mulher na sala. - Ele falou Gabigol, Lia. Meu filho falou. - Diz e chora.
- Como assim Agatha, Apolo falou? - Diz chorando também se aproximando e a abraçando. Logo a solta senta ao lado do menino que estava alheio a tudo focado no jogo que acabava de começar. - Dinda, você falou? Repete pra dinda ver amor. - Disse afagando o cabelo do menino.Apolo aponta pra TV no momento em que o comentarista fala "Flamengo toma posse da bola" e solta um "mengo" o que faz as duas mulheres s olharem e gritar.
- Você tá vendo jogo do Mengo amor? Quem joga no flamengo e é o seu favorito. Conta pra Dinda pretinho - Diz ainda sentada ao seu lado enquanto a mãe do menino se acabava em lágrimas.
- Babi-gol - Diz olhando pra madrinha e logo volta a atenção pro jogo. Ela sorrir e limpa as lágrimas, deixa um beijo em sua cabeça, levanta e vai em direção a mãe do menino que não parava de chorar. É possível ver elas se abraçando enquanto choram.
Arrasca, pausa o vídeo e não só eu quanto os outros estão emocionados com o que acabamos de ver.
- Cara que surreal, eu quero conhecer essa criança - Diz David Luis.
- Eu também quero, eu tô real emocionado com isso cara. A criança não fala e a primeira palavra dela é meu nome. Normalmente já fico feliz pra caralho com o carinho das crianças, mas saber que ele tem um um transtorno que faz com que ele não fale e que mesmo assim após anos sua primeira palavra é meu nome encheu meu coração! - Digo sincero limpando algumas lágrimas. - Depois me passa o contato da mãe dele? Quero conversar com ela para que eu consiga encontrar eles. - Digo e o Giorgian sorri.
- Irmão isso é lindo, o sentimento que ele tem por você e pelo time é puro demais! E o sentimento é o mesmo conosco também, Agatha me contou que após esse vídeo que foi mais de 1 anos atrás ele evoluiu muito. Ele consegue reconhecer cada jogador do flamengo e falar o nome sabia? Ela disse que as terapias tem ajudado, ele tinha dificuldade em falar por ser mais na dele. Agora ele vem se soltando, já fala mamãe e dinda e algumas palavrinhas soltas. Agatha falou que o nível de suporte dele o permite viver normalmente dentro do possível para uma pessoa autista. Agora ele vai a escolinha e joga futebol - Diz e sorrio. - Queria saber se vocês topam gravar o vídeo.
- Que pergunta besta Arrasca, óbvio que queremos. E se possível conhecer ele também - Responde o Karolino, aka Léo Pereira. E todos concordamos.
- Perfeito, vou só enviar uma mensagem pro Miteiro e para os Diegos pedindo o mesmo. Acho que ele vai gostar de ver os três no vídeo. - Diz e concordamos. - Valeu galera, isso é importante demais não sei porque mas a história dele mexeu demais comigo, a forma como a mãe dele falou de tudo. Vocês são fodas! - Diz rindo.
Logo somos chamados pro treino, mas durantes o dia todo o vídeo de repete na minha mente e meu coração pede por proximidade com aquele serzinho.
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PEÇA RARA - GABIGOL
FanficAgatha Marinssi é mãe de Apolo Marinssi de 4 anos diagnosticado com TEA, transtorno do espectro autista. Agatha compartilha sua rotina nas redes sociais como mãe atípica desde o diagnóstico de seu filho a dois anos atrás. Apolo desenvolveu hiperfoc...