⌜BREATHE⌟

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— Como você está, Taehyung? — Jieun perguntou. Ele odiava aquela pergunta.

Odiou desde o primeiro dia. Assim como sempre a respondia com uma mentira. Estou bem, dizia na maioria das vezes, recebendo o conhecido olhar intenso da mulher de cabelos escuros a sua frente. Taehyung sentia que a terapeuta enxergava através de sua pele. Como se visse suas mentiras e os pensamentos que o atormentavam. Naquele dia, entretanto, Taehyung teve vontade de dizer como se sentia de verdade pela primeira vez.

Um idiota que agiu como um perfeito escroto na noite anterior.

Depois que Jeongguk saiu de seu quarto, o que o atormentou não foi mais o pesadelo com seu melhor amigo morto, mas a expressão no rosto do cuidador quando percebeu que havia sido usado. Pior do que isso, a expressão no rosto de quem, depois de alguns segundos, parecia acreditar que merecia aquilo. Ele esperava que Jeongguk se revoltasse, o xingando ou mesmo o agredindo pelo que fez, mas ao contrário disso, foi como se ele estivesse se punindo, se castigando para ter algum tipo de absolvição depois.

Os dois mal se conheciam ainda, mas Taehyung sabia que Jeongguk não merecia ser tratado daquela maneira. Ele estava uma grande bagunça. Mais do que era normalmente. Como se não bastasse a culpa que o consumia todos os dias há um ano, agora, carregava mais uma. Taehyung imaginou que Jeongguk não estaria na academia o esperando como haviam combinado. Ainda assim, quando chegou e encontrou as luzes apagadas e o lugar vazio, sem Jeongguk treinando com seus fones enormes e seu corpo maravilhoso, a decepção foi inevitável.

Taehyung estava se sentindo um babaca. Jeongguk iria embora agora? Será que havia atingido o limite dele, o fazendo querer deixar Daegu o mais rápido possível, só para se livrar da bagunça que ele era? Eram tantas perguntas novas, e ainda precisava lidar com as da mulher à sua frente. Talvez devesse se sentir feliz, afinal, era o que ele queria desde o começo. Mas não era esse o sentimento naquele momento. Era mais como... arrependimento? Medo? Ele não sabia definir.

— Você parece ansioso hoje, quer me contar o motivo? — a terapeuta perguntou novamente, o fazendo levantar o rosto e a encarar. — Está desconfortável?

Taehyung permaneceu em silêncio.

Jieun estava acostumada com as sessões serem em sua maioria, tentativas de o fazer falar do que, ele realmente falando. Seria uma situação frustrante para qualquer profissional, mas ela tinha paciência para lidar com Taehyung, mais do que já teve com outro paciente. Ela sabia de seus traumas, sabia pelo que ele se culpava e o porquê, ainda que Taehyung raramente se abrisse de verdade. Com as mãos sobre o colo, o ex-soldado respirou fundo e entrelaçou os dedos em um sinal de nervoso. Jieun o observou, se movendo minimamente na poltrona em que estava acostumada a sentar toda a semana.

— Você não quer me contar o que está te deixando assim, não é? — perguntou, tentando uma nova abordagem para o fazer falar. — Afinal, na sua opinião, os nossos encontros são uma perda de tempo. Tudo bem, me conte como foi a sua semana — pediu.

— Como todas as outras — respondeu, soltando a respiração devagar. — Outra cuidadora desistiu, então meu pai contratou mais uma. Ou melhor, um cuidador.

Jieun não deixou de notar o incômodo com que Taehyung havia dito aquilo. Muito menos a maneira que ele se mexeu inquieto na poltrona.

— Um? Ele contratou um homem dessa vez?

— Sim, um garoto — A voz alterada também ficou perceptível.

De repente, o nervosismo inicial do rapaz começou a fazer sentido.

— Você parece irritado com isso — observou, o encarando. — Como ele se chama?

— Jeongguk — respondeu automaticamente.

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