⌜HIGH AND DRY⌟

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Jeongguk estava em Daegu há duas semanas, metade do primeiro mês, mas com a sensação que havia passado uma vida. Surpreendentemente, as coisas estavam melhorando entre ele e Taehyung. Eles não ficavam mais se alfinetando como nos primeiros dias, e os treinos na companhia um do outro se tornaram diários. Todo dia de manhã, Jeongguk acordava cedo e Taehyung estava na sala o esperando para irem à academia. Ele sabia que não deveria deixar essa mudança significar mais do que realmente era: agir como cuidador, como Do Hyun o contratou. No entanto, aqueles momentos se tornaram a parte favorita do seu dia. Às vezes, Jeongguk se perdia olhando as expressões concentradas de Taehyung enquanto ele treinava. O ex-soldado se mantinha fechado e sério, como se estivesse muito focado, então, nos momentos em que estava em silêncio no escritório lendo, seu rosto ficava sereno. Era uma dualidade que Jeongguk talvez nunca fosse se acostumar.

Ainda assim, esse tempo que passavam juntos tornava os dias mais suportáveis. Quando decidiu ir para Daegu, Jeongguk queria se afastar de tudo que o lembrasse o que havia feito, e principalmente, das pessoas que magoou. Contudo, ele se esqueceu de um detalhe importante: fugir podia causar uma grande solidão. Ele conversava constantemente com a Senhora Boo e, às vezes, ajudava Seung com algumas coisas, além de falar com Lissa todos os dias, e quando Hoseok ia para as sessões de fisioterapia, também passava um tempo conversando com ele. Contudo, o tempo com Taehyung o fazia se sentir diferente. Conversavam sobre coisas aleatórias, como o livro que estavam lendo, ou alguma história antiga, e ao longo dos dias, Jeongguk percebeu que conseguiram estabelecer alguns assuntos que eram proibidos.

Taehyung não perguntou mais sobre Jimin, ou sobre o que aconteceu para ele decidir ir para Daegu. Jeongguk também não falou mais nada a respeito dos pesadelos. Depois que o ouviu gritar no meio da noite pela primeira vez, o mesmo aconteceu mais duas vezes, mas Jeongguk decidiu não ir até seu quarto. Após minutos chamando Bogum, Taehyung acordava e então tudo ficava em silêncio de novo. Normalmente quando isso acontecia, no dia seguinte Taehyung ficava com um humor péssimo, mas Jeongguk estava aprendendo a lidar com isso aos poucos. A convivência também o fez descobrir que Taehyung tocava piano. Quando voltou de uma ida ao mercado com a Senhora Boo, o som chamou sua atenção. A música era triste, mas o ex-soldado tocando foi uma das visões mais bonitas que Jeongguk teve.

Tudo parecia bem, tanto na questão de tentarem conviver melhor, como em Taehyung não ter tentado o beijar ou tocar de novo.

— Você está claramente roubando! — Jeongguk sorriu enquanto ouvia a acusação de Taehyung. Ele estava prestes a encaçapar a última bola colorida na mesa de bilhar.

— Agora jogar bem significa roubar? — questionou, uma das sobrancelhas arqueando em uma expressão debochada. — As outras duas vezes em que ganhei também foram roubadas?

Taehyung bufou, irritado. Não estava verdadeiramente com raiva por perder. Jeongguk era ótimo, porém jamais admitiria isso em voz alta. Ele o observou rodear a mesa, analisando o melhor jeito de finalizar o jogo. Ainda era confuso o que sentia a respeito do cuidador. De todas às vezes que alguma cuidadora tentou fazer com que ele se distraísse com algo, aquela era a primeira vez que havia aceitado sair do escritório, trocando a paz da leitura por poucos minutos de adrenalina devido ao jogo. Internamente, Taehyung questionou se o motivo de aceitar foi o fato de ser Jeongguk a convidar.

Nas últimas semanas, a presença insistente do cuidador estava por toda a casa, mudando completamente a rotina silenciosa e monótona. Jeongguk era como um furacão, bagunçando tudo, desde suas idas solitárias à academia, seu tempo na biblioteca lendo, até mesmo assistir suas sessões de fisioterapia como se fossem a coisa mais interessante do mundo, além de se tornar o assunto principal em sua terapia. Era assustador. Taehyung nunca chegou tão perto de desejar ter uma vida normal novamente como estava desejando agora. Seu cérebro idiota o fazia ter certos tipos de esperanças que há muito não tinha, e aquilo era frustrante.

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