Capítulo 1

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一一Heungmin一一

Lembro da primeira vez que o vi. Era apenas mais um garoto assim como eu, era a primeira vez que falávamos inglês, a primeira vez no colégio e por isso nos aproximamos, éramos os únicos estrangeiros, foi inevitável nos tornarmos inseparáveis. Ele não era o garoto mais lindo que eu havia visto, mas o jeito determinado e rebelde de agir me encantava, eu queria ser como ele, então me aproximei para aprender e com o tempo a admiração foi crescendo. Eu esperava que dali a alguns anos viraríamos melhores amigos, mas o brasileiro foi além, era caloroso e a conexão foi precisa, é claro que sermos vizinhos ajudou bastante.

A única coisa que não podia imaginar é que me apaixonaria por ele, e essa é o pior impulso que já tive. Richarlisson é totalmente heterossexual e se isso não bastasse para me fazer desistir desse sentimento Richarlisson é bastante mulherengo, ele gosta de mulheres loiras e corpulentas exibi-las por ai faz seu ego inflar.

Eu queria não sentir, não ficar mexido com cada interação nossa, queria não gostar do seu cheiro, do modo como ele sorri cafajeste, do cabelo horroroso, do jeito que ele fica quando ganha algo, quando se diverte com os amigos, eu queria não gostar dessas coisas.

Richarlisson troca de namorada como quem troca de roupa e isso por um tempo me permitia ter esperanças. Por que ele procurava tanto se eu estava ali, ao seu lado?.

Não é difícil gostar tanto dele assim e isso me deixa ainda mais apaixonado, seu  jeito de menino é adorável ele sempre se coloca e dispõe a ajudar os outros e apesar de ter tido uma infância dificil ele é muito responsável e família.

Cada vez que o vejo parece que nada mais importa. Temos muito em comum, por isso não demorou muito para nos tornarmos amigos e com o tempo melhores amigos, apesar de termos muitas coisas em comum, os sentimentos nunca foram iguais. Só queria poder estar com ele. Andar lado a lado, ajudá-lo a conquistar seus sonhos, crescermos juntos, ter uma vida boa ao lado dele.

Tenho tanta vontade dele que às vezes dói.

Sei que não tenho chances. Não quero atrapalhar ou perder nossa amizade que foi tão lindamente construída. Não quero perder o que tenho agora. Pode ser egoísmo ou talvez apenas desculpas que venho distribuindo desde que percebi a dimensão dos meus sentimentos.

Por mais que doa, por mais que eu sofra a cada sorriso que ele dá a outros, ou a cada beijo, a cada abraço que é dado a outros e não a mim. Eu nunca teria coragem, e estou disposto a viver à sombra desse amor não revelado. 

Quanto mais a dor em meu peito aperta, mais a dor vira costumeira, mas sempre alivia quando o vejo sorrir ou quando vejo seus olhos encontrarem os meus.

Estar com ele é o suficiente… pelo menos era.

Todo esse tempo eu me contentei somente com a sua presença e engoli meu ciúmes de todas as mulheres com quem ele ficava. Eu me acostumei com suas idas e vindas, as baladas e diversão, no desapego e na curtição. Talvez eu estivesse conformado com a ideia de que nunca o teria, ou quisesse deixar para depois, talvez quando ele se cansasse dos outros e por um passe de mágica me olhasse da mesma maneira.

Acostumei-me com tudo… Até agora.

- Vou me casar! - Contou animado. - Você é o primeiro a saber… - Me olhava ansioso esperando uma resposta ou alguma reação.

Nesse exato momento foi como se o tempo estivesse rebobinando indo e até o momento que nos conhecemos, até conhecermos os pais, nas viagens que fizemos juntos, nas trocas e confidências que tivemos, na alegria, até nas brigas que tínhamos. Minha cabeça parecia estar em pane, se prestasse bem atenção as engrenagens soltavam fumaças. As imagens que meu cérebro passava iam e voltavam, até a frase que acabou de falar. Meu mundo ruiu.

- Son? … Sonny? - Ele me chamou.

- Casar? - Perguntei com a garganta seca.

Estávamos em uma lanchonete. Fomos para a faculdade durante a tarde na saída Richarlisson contou que precisava me contar algo, então fomos até a lanchonete do campus, como não notei, ele parecia rir para o nada, como um idiota na rua, cantarolava musicas em ingles, ele nunca fazia isso sempre cantava pagodes em portugues. Ele chegou muito animado da viagem que fez no final de semana para as montanhas.

- Eu a pedi, ontem a noite. Sabe a Eloá? Eu a encontrei no final de semana lá na montanha, aí voltamos a conversar e tu sabe que Eloá sempre foi especial pra mim, e eu pensei que já estava na hora de parar com essa vida de solteiro.

- Eloá.. - Eu estava acompanhando a história, mas meu coração e cérebro não estavam na mesma conexão. Enquanto eu achava que poderia morrer, ele completa.

- Eu quero uma família agora. Eu estou tão feliz.

Tentei impedir o choro, eu queria sair dali o mais rápido possível, eu não poderia ficar mais tempo ali. Ele olhava pra mim com esperança, seus olhos pareciam mais claros, seu sorriso mais alegre, como eu nunca havia visto, ele se sobressaiu sobre a mesa e estalou os dedos na minha frente.

- Você está bem? - Ele perguntou, já não demonstrando toda aquela felicidade.

Forcei um sorriso.

- Estou sim, quando? - Foi tudo que consegui dizer, e eu não queria dizer, não queria estar ali, não queria saber quando, não queria saber se estava feliz, eu não queria saber.

- Ah, ainda não temos uma data, mas Eloá disse que quer rápido, ela vai organizar tudo primeiro procurar a melhor data.

- Nossa! - Foi o que consegui responder.

Um sinal do universo teve misericórdia da minha pobre e sofrida alma. Meu celular tocou, eu tinha esquecido que tinha o clube de natação depois das aulas foi a minha deixa para sair dali. Peguei minha mochila e levantei.

- Eu tenho que ir, esqueci que tinha natação, a gente se vê, mais tarde. - Falei rapidamente saindo do ambiente sem olhar pra trás.

Assim que saí da lanchonete não pude segurar mais, havia alguma coisa quebrando dentro de mim, nunca pensei que a expressão coração partido fosse tão literal.

Pude sentir meu coração se partir em inúmeros pedaços. Corri pro apartamento, assim que cheguei gritei, chorei, quebrei coisas, mas nada que eu fizesse parecia amenizar a dor em meu peito.

Era uma angústia e uma decepção tão grande, que foi plantada e causada apenas por mim mesmo. A culpa do que estava sentindo era apenas minha, olhei rapidamente para nossas fotos que ficavam em um móvel perto da tv, eram nossas memórias mais lindas que agora estavam manchadas pela decepção. Na foto ele sorria e tinha seus braços por meus ombros, nosso primeiro dia na faculdade de educação física.

Senti vontade de chorar de novo então joguei o quadro de foto na parede e acabou quebrando.

Foi tudo tão rápido.

E eu o amo tanto e esse amor tem que acabar.

(HIATOS) Bad Romance | 2SON|Onde histórias criam vida. Descubra agora