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- "Pai nosso que estás no céu
Santificado seja o vosso nome
Venha a nós, o vosso reino
Seja feita a vossa vontade
Assim na terra como nos céus"

- Deus não irá vir, minha pequena...

De olhos fechados, Macarena escutou uma voz doce sussurrar em seu ouvido, e ela não estava apavorada, pelo contrário.

Ela abriu os olhos, e olhou em volta de seu quarto de hospital, vendo uma fumaça estranha preenchê-lo com um cheiro maravilhoso de flores, doce, imaculado, mas sem enjoar, era como estar no paraíso.

A pequena, de dez anos, sentia seu corpo tão fraco que parecia já ter partido, sentia que faltava apenas que sua alma fosse levada. Seus ossos estavam a ponto de se partirem conforme o câncer sugava sua carne e alma. Seu coração batia tão lentamente, lutando por mais tempo, como se um milagre pudesse acontecer. Macarena um dia teve cabelos castanhos e longos, eram lindos, mas graças a doença, já não o tinha mais; já não havia mais brilho em seus olhos cansados; já não havia mais força em seu corpo; ela não tinha mais vida.

E ela viu a porta da sala se abrir, ouviu seu ranger lento, e o som do aparelho conectado ao seu coração, medindo suas batidas tão lentamente que ela tinha medo de fechar os olhos. Tinha medo que só de fechar os olhos, seu corpo parasse de funcionar para sempre.

Quando a porta se abriu por completo, entrou uma mulher na sala. Não era de sua família, nem alguma enfermeira ou médica, Macarena sabia que sequer era humana. Nunca havia a visto em toda a sua vida, mas se sentia segura, se sentia em paz.

Quando ela se virou de frente para a cama, Macarena pôde ver bem seu rosto, e suas vestes. Era uma mulher de pele leitosa e branca, olhos azuis como o céu, e cabelos tão negros quanto o caos, que contrastava de forma sombria com o rosto doce, uma beleza infernal, de certa. Vestia um longo vestido de modelo grego no tom exato de sua pele, com faixas dele presas em seus braços como asas.

Ela era esplêndida, provavelmente a mulher mais linda que Macarena já havia visto em seus dez anos de vida.

Ela era uma completa estranha, e a garotinha sabia, mas não sentia pavor e nem vontade de chorar, seu coração estava calmo, e permanecia daquele jeito conforme a mulher se aproximava, ela era tão bela, que Macarena se sentia hipnotizada.

Ela se aproximou o suficiente para se sentar na maca, ao seu lado. Macarena estava apaixonada pelos olhos dela, não conseguindo desviar o olhar.

- Quem é você..?

Perguntou a pequena, analisando seu rosto, e a mulher sorriu com doçura, e disse baixo:

- Meu nome é Macária, é um prazer conhecê-la, Macarena.

Ela se apresentou, e aproximou a mão da bochecha gélida da garotinha, a acariciando e vendo ela fechar os olhos devagar, como se desse toda a sua confiança a Macária.

- Eu vim tirar a sua dor.

- Finalmente...

Ela sussurrou, sorrindo, e se permitindo chorar em silêncio, em puro alívio.

Macária sorriu, olhando para o rosto cansado daquela alma presa em carne já morta, e começou a cantar, a mesma música que cantou desde a primeira vez que tirou o sofrimento de alguém como ela.

"Quando o sol se pôr

E quando as flores, se abrirem

A noite vai cair, para os mortos cobrirem"

Cada palavra proferida penetrava no cerne da garota que a fazia flutuar, como se estivesse no céu.

"Diga adeus ao mundo real

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⏰ Última atualização: Mar 10 ⏰

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