ferris wheel

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Ato 1

[1597 - Guerra Imjin | Flashback ]

O príncipe primordial de escuridão pisava na grama enlameada, sujando as botas de prata brilhante com lama e sangue, corpos caídos de cadáveres que um dia foram homens vivos; filhos, irmãos, maridos e pais, homens que depois daquilo, não voltariam para casa. Cada gota de sangue que jorrava de seus corpos equivalia a uma lágrima de pessoas que um dia os amaram, e que provavelmente sentiriam o vazio desesperador que era perder alguém que ama. O príncipe empunhava uma katana em sua mão, e uma máscara preta no rosto, ele observava o enorme campo vazio em nada que agora se tornava um rio de corpos e sangue, com ódio, desdém e talvez, dor.

Ele pôde sentir as almas dos homens saindo de seus corpos e ficava enojado com as tripas para fora. Ele pisou em algo que fez um barulho estranho e melequento, e olhou para seus pés, franzindo o cenho da testa ao perceber que havia pisado nos órgãos de um corpo, que estavam saindo de um enorme corte na barriga de um homem, nojento. Muito nojento.

Mas ele seguiu em frente, usando os poderes para se misturar a sombra, a luz e à gravidade, ficando invisível aos olhos humanos. Ele se aproximou do acampamento, vendo vários homens japoneses recebendo ajuda de curandeiros, alguns haviam se machucado superficialmente, outros quase morriam com machucados graves e era possível ouvir gritos, gritos altos de dor e sofrimento, mas um em específico o chamou a atenção; era estridente, desesperado e sofrido, torturoso. E ele seguiu o som, e entrou em uma tenda grande e preta, vendo um homem amarrado a uma cadeira. Sem seus dedos das mãos, seminu, com um pano na boca que era inútil, pois os gritos de desespero do homem eram possíveis de ouvir de longe.

Ele estava enfraquecido pelo sangue perdido, Jeon podia ver seus olhos lutando para se manterem abertos, lutando para continuar vivo mesmo que significasse ter que sofrer mais. Ele viu o espírito lutando pra continuar, mesmo que seu corpo estivesse esgotado, cansado e querendo parar.

Ele observou o rosto dos cinco homens japoneses, que estavam rindo e fazendo piadas, e ele sentiu ódio, ódio puro, intenso, eles estavam rindo enquanto o coreano sangrava, com facas atravessando as pernas e marcas fundas de queimaduras causadas por ferro. Nojento, definitivamente nojento.

O príncipe saiu da tenda, decidindo como se infiltraria no exército japonês, mas parou de andar ao ouvir o homem gritar de novo. E ele até ignoraria, queria ignorar e seguir seu caminho, porque seria mais útil entrar no exército e ajudar a o destruir por dentro do que salvar cada alma penada à morte. Era uma guerra, ele não podia salvar todos.

Seu cérebro mandou o comando aos seus pés, e ele quis andar, caminhar para longe dali, mas eles não obedeciam, não queriam obedecer, se recusavam a não ajudar. Ele olhou para trás,e percebeu que os gritos se cessaram, e pensou por um momento, um único momento, quem aquele homem foi, e quem poderia ter sido. Foi um filho para alguém, talvez um namorado ou marido para alguém - a julgar pela aparência, ele não parecia ter mais de vinte e cinco anos - um jovem que tinha a vida inteira pela frente mas acabou nascendo sendo destinado a morrer na guerra. Não, Jeon não permitiria.

Ele deu meia volta, e andou a passos rápidos até a tenda, torcendo para que a alma dele estivesse ali perto, pelo menos para não ter que dar um jeito de voltar para o submundo - ele estava sem sua chave de dimensões - e quando voltou, ele estava morto, com o pescoço mutilado e seu sangue saindo todo por ali. Ele tirou a magia que o escondia, olhando em volta com certo medo; e se fosse tarde?

- Não, não, não..

Ele sussurrou, tirando a máscara, liberando sua forma real, e na mesma hora, ele conseguiu enxergar a alma dele ali, em pé, parada ao lado do corpo. Ele parecia triste, extremamente triste, e nem ligou quando viu o Jeon, ele sabia que estava morto.

Call me by your name • kth + jjkOnde histórias criam vida. Descubra agora