Matéria Optativa

08

Estou sentado na minha cama, desacreditado, ouvindo aquele maldito áudio pela 15° vez nos últimos 10 minutos. Infelizmente eu não tenho ninguém para culpar além de mim mesmo, juro, nenhuma gota de álcool entra na minha boca, nunca mais!

"meu pequeno Dunk, meu bonito Dunk, é assim que faz haikai? Enfim, tinha que mandar um áudio e agora eu não lembro o porque tinha que ser para você já que você sempre me ignora. E por que isso em seu merda? O que eu já fiz para você? A lua ta bonita hoje, mas você é mais brilhante. É isso ai, boa noite. Ah, escuta esse áudio de fone."

Me sinto patético, é como se meu eu adolescente tivesse retornado mil vezes pior do que um dia foi, "você é mais brilhante" jura? Ainda tentei fazer uma rima, o orgulho do curso de literatura, e ainda digo que quero ser cantor. Eu não sei quantas personalidades invadiram a superfície em um áudio de 2 minutos, mas aparentemente foram muitas. É isso, vou trancar a faculdade, ano que vem eu volto e ta tudo bem. Preciso beber alguma coisa.

Quando chego na sala pronto para pegar uma cerveja vejo que apenas Gemini está lá, os outros foram a conveniência próxima comprar algo para a ressaca, ou ao menos é o que acredito, já que sempre fazem isso. Para falar a verdade não sei por quanto tempo fiquei no quarto me torturando enquanto ouvia aquela gravação.

- Finalmente, achei que tinha morrido la dentro - é o que meu amigo me diz.

- Acredite, nesse momento não me falta vontade.

- Ta, o que você fez?

Mostro a mensagem para ele e o idiota desembesta a rir, melhor, gargalhar.

Gemini está gargalhando da situação deplorável a qual me encontro agora.

- Você é um babaca, não devia ter te contado.

- Desculpa - ele diz tentado conter a risada - Me desculpa - ele tosse forçado - Mas eu não acredito que você fez isso.

- Pois bem, eu também não, e agora não da para apagar porque ele já até me respondeu. - sento no sofá e abro uma cerveja.

- Acho que o álcool não vai ser a melhor solução agora companheiro, a não ser que esteja se preparando para mandar outra mensagem.

Ele tem razão, desisto da lata e pego uma garrafa de água na geladeira.

- Como que eu vou fazer para explicar isso Gemini? "Ah eu estava bêbado e fui desafiado a mandar um áudio para alguém que eu estava a fim." Ele JAMAIS pode saber que esse foi o motivo.

Honestamente, eu achava que já tinha superado aquele rapaz, nem eu quero acreditar que foi esse o motivo da mensagem.

- Por quê? Não é tão difícil assim perceber que você é boiola pelo seu pequeno e bonito Dunk - o filho da puta sorri.

Mostro o dedo do meio e dou um sorriso sarcástico.

- Perdão, mas é que uma oportunidade de fazer essa piada não surge sempre. - ele senta do meu lado - Mas pensa pelo lado positivo, você não contou o motivo de ser ele a pessoa que você devia mandar o áudio, e também não contou que está a fim dele, pode só meter um migué e fingir que esqueceu.

Gemini tem razão, ao menos em relação a agir como se não lembrasse, eu posso só fingir que isso nunca aconteceu, aposto que Dunk quer esquecer isso tanto quanto eu.

Meus outros amigos chegam e eu e Gemini cortamos o assunto, um amigo me humilhando já é o suficiente. Depois de almoçarmos e eu obviamente forçar todos eles a me ajudarem com a bagunça, eles vão embora, me deixando sozinho com meus pensamentos invasivos de largar os estudos e viver cantando música em bar. Será que o P'First me deixa pegar mais turnos?

Passo o domingo deitado no sofá, sentindo minha alma saindo do corpo e me arrependendo de cada decisão que eu tomei na madrugada de sábado. Serei um membro assíduo do AA, na minha casa ninguém entrara com alcool, estou decidido.

O que deixa tudo pior é que amanhã ainda tenho aula marcada com o Dunk na minha casa, como que eu vou encarar ele? Estou em duvida entra pular da sacada ou me jogar na frente de um trem, ambos parecem menos doloroso do que ver ele.

Segunda chega rápido demais e eu não estou pronto, na verdade estou até assustado com o que pode vir a acontecer com esse encontro, minha saída vai ser me fingir de louco e assustar ele para esquecer desse assunto e talvez me indicar para a psicóloga da faculdade.

Após o almoço eu encaro a porta, quase consigo abrir ela com a força que estou pondo no olhar.

A campainha finalmente toca, meu juízo final chegou.

- Chegou cedo em - digo e sorrio, ele me encara com olhar de poucos amigos.

É isso, eu estou ferrado.