06 - Consequências

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O arrependimento sempre foi um sentimento corriqueiro para Cellbit, suas ações também não eram lá essas coisas muito elaboradas para que evitasse isso

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O arrependimento sempre foi um sentimento corriqueiro para Cellbit, suas ações também não eram lá essas coisas muito elaboradas para que evitasse isso.

E naquela ocasião não era diferente, talvez o fator único daquela situação era que não sentia-se somente arrependido, também estava frustrado. Após trocar fervorosas ofensas com os jogadores dos Angry Frogs, ambos os grupos foram expulsos do bar e, veja bem, jovens podem facilmente transformar qualquer lugar num ringue de luta, basta quererem.

E eles queriam.

Ele queria.

O primeiro soco foi dado por ele, diretamente no estômago de seu oponente, aproveitando que o mesmo se curvou de dor para então dar uma cotovelada no rosto.

Depois disso tudo que aconteceu fugiu de seu controle completamente.

O resultado agora se apresentava para si no reflexo do espelho, hematomas, arranhões, um corte no braço e outro na lateral do pescoço, poeira e alguns estilhaços pequenos de vidro ainda presos em seu rosto.

Mas aquilo era o habitual depois de uma briga sua, nada que um banho quente não resolvesse.

O verdadeiro problema se encontrava sentado em seu sofá, com uma bandagem de compressão em seu braço direito.

Em algum momento da briga, Foolish torceu o braço.

Aquela era a razão da frustração de Cellbit, o amigo havia se ferido seriamente numa briga que ele foi o responsável por iniciar, e apesar de não ser completamente sua culpa, continuava tendo uma grande parcela.

Após mais alguns segundos pensando em tudo que aconteceu o loiro foi tomar seu banho. Depois de se enxugar e trocar de roupa, retornou à sala de estar vendo o americano no mesmo lugar que estava quando subiu.

— E então? — Questionou sentando-se no lado oposto ao do moreno no sofá.

— Acho que estou ferrado.

— Não diga isso, o médico disse que em um ou dois dias estaria como novo.

— Não é isso, é que meus pais vão arrancar minha cabeça quando virem.

— … — Cellbit ficou em silêncio, por alguns segundos havia esquecido que pais normais se preocupam com os filhos já que esse definitivamente não era o caso dos seus. — Se quiser pode ficar aqui em casa até poder tirar a bandagem.

— Sério? Seu pai não vai se importar?

— Meu pai não vêm para casa tão cedo, eu moro “sozinho”, e além disso meio que sou responsável por ter iniciado a briga então por tabela responsável pelo seu braço…

— Não é, e não se preocupe com isso, se eles forem jogar no time titular farei questão de devolver o “favor”.

Cellbit deu uma risada baixa que foi acompanhada por Foolish, mas antes do loiro voltar a falar a campainha tocou. Conferindo o horário rapidamente no relógio digital que ficava na parede atrás do sofá viram que não passava das 6 AM, estranhando uma visita tão cedo.

Mesmo desconfiado o brasileiro foi até a porta e a abriu sem mais cerimônias.

— A gente precisa conversar. — Quackity disse já se esquivando do outro e entrando na casa.

— Claro, pode entrar… — Disse com sarcasmo, fechando a porta.

— Desculpa pelo soco da última vez, mas você mereceu. — O mexicano se virou para ele, olhando melhor — O que aconteceu com você?

— Comprei uma briga que não era minha, mas ao menos ganhei.

— Sei… — O olhou enigmático — Cellbit, eu preciso que você convença o El a parar.

O brasileiro suspirou, aquele mesmo assunto outra vez.

— Já disse que não posso fazer nada sobre isso além de garantir que não vá longe demais, você conhece seu irmão. — Encostou-se na porta, cruzando os braços.

— Meus pais querem mudar de cidade, estão falando sobre isso desde o ano passado, se até agora não fizeram isso é por mim e pelo El que estudamos naquele mesmo colégio desde sempre, mas se o El for expulso eles não vão hesitar em me tirar também e então finalmente ir embora.

— Cara, são 6 da manhã e eu não durmo desde ontem, pega leve. Por que ir embora é tão ruim assim?

— Meus amigos estão aqui.

— Você deixou de falar com seu melhor amigo por medo de acabar contando sobre El e ele entregar seu irmão. — Pontuou — Deixou de falar com sua melhor amiga pelo mesmo motivo.

— Eu só…

—  A única pessoa que você tem para recorrer sou eu, que não sou tão querido pelo diretor e se abrisse a boca me ferraria junto. — Continuou ignorando a feição frustrada do menor — Quackity, seu irmão já está ferrando com sua vida antes mesmo de fazer alguma coisa.

Quackity não disse uma palavra, o que deu liberdade para o brasileiro continuar.

— O ElQuackity sempre fez tudo que quer porque nada tem consequência, e não tem consequência porque você sempre limpa a barra dele, todas as vezes.

— Se eu não limpar a barra dele, eu me meto em problemas também…

Cellbit suspirou, se afastando da porta e ajeitando sua postura.

Sabia que nada que fizesse convenceria ElQuackity a parar, assim como nada que dissesse convenceria Quackity disso. Não havia uma solução agradável para aquela situação, não havia um final em que não houvessem consequências para ninguém.

Mas aquilo já era considerado por si desde o dia em que aceitou o pedido de Quackity, sempre foi a reposta óbvia e mesmo tentando contornar isso de todas as maneiras possíveis em seu íntimo já sabia qual seria o resultado.

Apesar disso, ele aceitou, então agora era sua responsabilidade por bem ou por mal.

Não queria decepcionar o mexicano, ele foi o primeiro a falar consigo no colégio, o primeiro a tratá-lo como um amigo sem ter nenhum interesse por trás e foi graças a Quackity que voltou a confiar nas pessoas.

E principalmente, foi Quackity que o convenceu a ir no show em que coincidentemente reencontrou Bagi, mesmo que aquilo não tivesse sido a intenção do moreno seria grato até o dia em que morresse.

Ainda que tivesse se afastado do menor, nunca seria capaz de deixá-lo na mão.

— Tudo bem, eu vou cuidar disso. — Respondeu calmo ao passo que Quackity o olhou esperançoso — Volte a falar com Roier e Jaiden, imagino que eles sintam sua falta.

— Ah, quanto à isso, sinto muito que eles tenham te incomodado.

— Acontece. — Deu de ombros, bocejando em seguida — Se não se importar, eu realmente preciso dormir…

— Certo, obrigado por me ajudar.

— Não é nada.

O loiro abriu a porta e Quackity deixou o lugar, claramente estava mais tranquilo e leve.

Aquela seria sua recompensa depois do que viria a fazer.

Fechou a porta e voltou à sala de estar, vendo Foolish deitado no sofá aparentemente cochilando. Sua conversa com Quackity durou bons minutos então não estava surpreso, olhou por alguns segundos o moreno ali e foi para a cozinha, não conseguiria dormir.

Era realmente uma pena.

Faltavam 6 dias para o jogo.

Desafeto - GuapoduoOnde histórias criam vida. Descubra agora