CAPÍTULO 12

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Lucien

Voltamos para a corte humana no dia seguinte, em nossa casa. Vassa parecia estar a cada dia menos esperançosa. Sempre que ela voltava, havia algo estranho em seu olhar, uma tristeza que às vezes tentava esconder com sua língua afiada e mau humor.

Eu conseguia enxergar isso ao olhar em seus olhos com atenção. Ela sempre afogava, refletindo isso no começo da tarde. Ajudei Vassa com algumas papeladas, e quando voltei ao quarto, assustei-me ao me deparar com o espelho. A tristeza e a quase ausência de esperança estavam refletidas em meu reflexo; observei por tanto tempo que lágrimas escorreram pelo meu rosto. Foi assim que percebi: a tristeza e aquele olhar perdido estavam refletidos em minha alma.

Dormi de costas para o espelho naquela noite, tentando ao máximo ignorar aquele olhar solitário.

Quando acordei, Jurian estava fazendo o café da manhã; tentando, ele ofereceu um prato com pão e uma geleia de proveniência duvidosa.

Jurian olhou para o meu rosto, esperando um comentário maldoso de costume. "Vou julgar depois de provar", pensei.

A geleia era de cenoura; ele estava começando a fazer pequenas experiências culinárias, e Vassa e eu éramos as cobaias. Coloquei a torrada na boca, melecada com a geleia.

Um olhar convencido foi jogado para mim.

— Não está ruim – ele disse dramaticamente.

— Não, claro que não – mordi a torrada novamente – Para ficar ruim, tem que melhorar muito.

— Então, por que está comendo com tanto apetite? – Jurian riu.

— Minha mãe sempre diz que é um desperdício desperdiçar comida – falei, colocando duas torradas inteiras na boca, mastigando com certa dificuldade.

— Tão educado – cantarolou Kai, entrando pela janela.

— Existem portas; quer que eu te ensine como usá-las? – perguntou Jurian.

— Dispenso – ele lançou um olhar de esguelha para mim –. Está há quantos dias sem comer, Lucien?

— O bastante – respondi.

Eu tinha que mandar um relatório para Rhysand, dizendo o que está acontecendo nas cortes humanas.

Coloquei o braço sobre a mesa, para pegar o relatório, mas apenas tateei a madeira. Olhei para Jurian, que balançava a cabeça. Kai estava lendo com atenção o relatório.

— Você é pior que um ladrão. Já pensou em construir uma carreira?

— Já tenho – falou com arrogância –. Você anota tudo direitinho. Mas, tudo que você falou aqui – ele devolveu o papel –, eu já contei para Feyre; acabei de voltar da corte noturna e ela gosta de falar sobre política.

Observei a expressão dele, calma como sempre.

— Quer roubar o emprego de Lucien? – perguntou Jurian, e ele sorriu.

— Não, pode ficar. Talvez eu roube o seu de cozinheiro.

Jurian colocou a mão no peito, como se tivesse escutado uma barbaridade.

                   ☀️🦊☀️

Lucien

Fui até a biblioteca dos magos. Apenas para pegar mais livros. Livros interessantes. Eram tantas opções que eu parecia não ter nenhuma. Nenhum livro parecia bom o bastante para pegar, sempre tinha um com o título mais atrativo.

Passamos o final da tarde lendo sobre maldições. Li boa parte de um livro pensando ser outro, as fadinhas da biblioteca gostam de fazer uma travessura com cada novo visitante, mudando o conteúdo do livro. O livro verdadeiro tinha apenas 500 páginas, enquanto o que eu estava lendo tinha duas mil.

Corte de Visões e LuzesOnde histórias criam vida. Descubra agora