Promessas de primavera

Uma promessa. Um beijo.

Para melhor experiência, recomendo que escute essa música enquanto lê o capítulo.

I

A cidade estava deslumbrante. Do alto do morro, numa clareira. Ah, de lá poderia ver o mar se mesclando ao horizonte, se tornando um só com o céu escuro, azul-negro. Claro em sua escuridão. Estrelas tomavam toda a abóbada celeste, e a lua; ó, a luz: estava em seu ápice, divina em seu trono. Como monarca. Vezes, via estrelas despontadas rasgando o véu da noite, acompanhadas unicamente de sua cauda luminescente. Sumiam na vastidão. Para onde? Não sabia; quem sabe, para casa? Fazia pedidos quando as via. Por vez, o que nos rodeava, não mais do que árvores; não mais do que a própria natureza; sentia seu abraço, no toque do vento salgado contra a pele nua de meus braços; balançando meus cabelos; mexendo nas copas e criando a mais bela sinfonia. De lá do alto tinha a mais bela e nítida visão da Rainbow Tree – uma árvore tão alta, tão imponente; brilhando nas mil cores da vida! Tão vívida; tão clara; tão divina. O que eu poderia atribuir a ela, senão divina?...

"Que sorte, chegamos adiantados!"

Ele comentou, se sentando sem cerimônia na grama.

"Aceito, aqui dá... uma bela vista... Mas não havia um jeito melhor, do que nós dois passarmos que nem cavalaria sem cavalos pelo meio da mata?! É horrível andar com um vestido desses, sabia?"

"Mas veja bem! Não valeu o esforço?"

"Me recuso a responder!..."

"Levarei como um sim"

"Entenda como quiser, Natsu... Chegamos adiantados; mas, quanto adiantados?"

"O suficiente para aproveitar bem a vista antes do espetáculo", foi um pouco mais seco, para cortar minhas reclamações pela raiz, "... Sempre tive uma dúvida sobre vocês. Carla, você se lembra do que fazia antes de Ascender?"

"Bem pouco... É como uma lembrança vaga; distante, às vezes nítida, mas confusa. No final, é como lembrar de um sonho, nunca terá precisão... Você teria uma razão para esse seu interesse? Realmente não é algo interessante de se saber"

"Mas claro é!"

Olhávamos para a mesma direção.

"Nós sempre pensamos nisso; só vocês imortais que não. Não é excitante a ideia de ter uma segunda vida? Um recomeço?"

"Seria se eu ao menos pudesse lembrar bem de alguma coisa"

"Ainda assim!..."

"Garanto: é angustiante. Acordar em um momento, perdida, sem saber quem é; e o que sabe é como um pequeno grão de areia em meio ao deserto... Deuses, isso não é excitante de forma alguma...", pus-me assim a pensar um pouco, "Mas não é como se eu sentisse falta de algo. Imaginar a vida que eu levava como Espírito Inferior é até um pouco acolhedor; já que posso comer, beber, dormir, sentir. Tem seus pontos positivos a Ascensão"

Durou alguns segundos o silêncio entre nós, que aproveitamos apenas a companhia um do outro.

"Se quiser pode desfazer o feitiço, sei que isso consome bastante sua energia..."

Ele ponderou.

"Estamos sozinhos. Não precisa manter se não quiser"

"Eu... prefiro assim..."