Capítulo XVI

18 5 0
                                    


I

Retornei ao último andar após uma despedida tão agradável. Tinha sido uma loucura descabida aquilo. Fosse por isso a razão que meu coração palpitava tão rápido. Inspirava e respirava, soltava pela boca, formando massas branquinhas de ar. Agarrava o corrimão, passo a passo. A escadaria encarava, e só. Algo caiu em minha cabeça: foi a realidade. A duquesa era uma bomba relógio, só contida por uma promessa. Natsu; Natsu. Como pude esquecer disso? – Ria um pouco, de nervoso, pensando no que poderia ter acontecido comigo por minhas palavras. Palavras marcadas na alma para não serem esquecidas, ditas pela duquesa.

Minha escolha seria firmada.

O temor à batalha, o que seria, senão covardia?

O som de meus calçados desciam as escadarias. Um eco agudo.

Agarrava o corrimão gelado, subindo.

O vi sair da sala. Cabisbaixo. Fui ao seu encontro. Devagar. Nos olhamos; e teus olhos brilhavam. Eram as lágrimas que reluziam no seu olhar. Segurando até o último segundo para não derramarem. Franzino, virou a face. Igual ao mármore golpeado, rachava e mostrava seu interior; ainda que tentasse. Que se forçasse a fingir estar tudo bem. Homem algum é capaz de lutar contra a verdade d'alma sem se marchar ao exício do ser. Como dói. Como machucava. Meus pés se moveram sozinhos, correndo para o abraçar. Teus braços pendiam à minha volta, fracos. Tremia. Fungava. Tentava lutar. Tentava convencer-se a mentir. Mas mentir tinha seu preço: marcando no próprio corpo a golpes de faca, criando rachaduras às quais de pouco em pouco faziam escorrer sua vida pelas fendas.

"Perdão... Eu... Não queria que me visse dessa forma... De novo..."

Algo escorreu pelo meu rosto, era um pouco quente e molhado. Tocando meus lábios, senti o sabor salgado. Mesmo sem escorrerem de meus olhos aquelas lágrimas, ainda assim, também me pertenciam. No choro silencioso o segurei, o levando a meu colo. Tuas lágrimas molhavam meu pomo, regando meu coração; o preenchendo com seus verdadeiros sentimentos.

"Está tudo bem..." Sussurrei: "Querido. Não há necessidade de mentir para mim...".

Tocava seus cabelos, os afagando...

Ele; e por ele; escolhi.

Natsu escutava meu coração. Aberto apenas a ele, o homem que tinha a chave de meu amor. – Segurei seu rosto cuidadosamente, aproximei-me e toquei seus lábios, pressionando-os contra meus. Algo lento e suave. Repentino. Marcando sua boca com meu sabor.

"Você não está sozinho..."

Nesse momento, raios de sol atravessavam as janelas, banhando-nos com sua luz. Era como se o céu nos abençoasse, como se a esperança nos sorrisse, como se o amor nos iluminasse. As trevas que cercavam todo o corredor se dissiparam, deixando apenas a claridade de nossos sentimentos. Nossos olhos se encontraram, refletindo a luz um do outro. Nossos sorrisos se formaram, revelando a alegria um do outro. Nossos corações se uniram, pulsando no mesmo ritmo. Tínhamos selado nosso destino. Meu destino... e não voltaria atrás.

"Chore o quanto precisar... Não irei a lugar nenhum. Eu prometo."

Sua voz não saia. Engasgava. O grito silencioso...

II

O tinha levado para minha casa.

Parecia entorpecido, um tanto abatido. Na sala do segundo andar, local de nossos estudos, sentou-se na poltrona à meu pedido.

"O chá deve ficar pronto em alguns minutos."

Avisei.

"Pedi para colocarem um pouco de erva de São João e jasmim. Você gosta?"

Promessas de primaveraOnde histórias criam vida. Descubra agora