Capítulo XVII

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I

A brisa gelada da floresta acariciava meu rosto. Nós observamos a alvorada. Os primeiros raios de sol tocando a terra; a iluminando, extinguindo a escuridão doutrora. Silenciosos. Sentados na neve, eu agarrava meus joelhos, observando o grandioso evento.

Minha mente mergulhava em um turbilhão de pensamentos – dos dias quais se passaram; do que aconteceu. – O silêncio reafirmava as palavras não ditas, aguardando apenas o momento certo para serem confessadas.

"Eu lembro ainda como aconteceu..."

Encarava o horizonte.

"Laurence Kingman... O pior comandante que conheci...", humor levava no tom, contrastando ao seu olhar triste, "Em todos os sentidos ele era péssimo...", uma longa pausa ele deu, "Desprezível. Acho que deve encaixar melhor à sua figura pitoresca, destacada em nossa unidade... Quase todos mercenários de carreira, porém, só eu não era humano...

Para mim... um contrato como qualquer outro... lutar contra uma ameaça – inexistente. Disso não sabia...", suas mãos, apoiando teu corpo, agarravam a neve abaixo com força, "Er... Eu... Lutei pela minha vida; pela de meus companheiros; por ele; e pela bandeira do Império... Investimos em campanha pilhando pequenos fortes. Então, depois, foram as cidades; os acampamentos... As pequenas resistências... Um momento comecei a me perguntar: que merda eu tô fazendo?..."

Sua mão eu segurei, entrelaçando nossos dedos, o encarando.

"Carla... É engraçado ler nos livros; nos poemas; o grande herói dormindo após uma chacina... Como dormir com gritos na cabeça?... Você fecha os olhos; re-vê os de quem fez fechar... Soldados... Soldados com foices, garfos, machados e espadas. Homens com medo... Laurence sabia que pilhar castelos e fortes eram complicados... Então, por que não atacar cidades?... Por que não... Dar abrigo aos desamparados?...", ria de forma contida; enquanto lágrimas queriam escorrer de seus olhos, "Chame elas, quero as ajudar com minha comida... Eu... Fiz... Elas-"

"Você não fez nada! Ele que fez!"

"Eu as levei para ele! Eu podia ter negado!... Podia ter feito tantas coisas... Mas... Eu tinha medo também... Tinha ódio daquele desgraçado... Nojento... Ele era repulsivo... Porém, o que eu faria? No meio de um acampamento? Matar ele? Desobedecer ele?... Ele só vai conversar com ela, tinha que dormir pensando nisso... Mas não dormia... Como dormir... Escutando o choro silencioso de uma garota?..."

Suas lágrimas escorriam pelo rosto inexpressivo; emoldurado por um sorriso fraco.

"Eu podia ter abandonado a missão... Queria... Como eu queria... Porém, não poderia; e seria preso logo quando pisasse aqui como desertor... E um desertor... Ele... É um inimigo... E a pena capital é a morte... Eu também não queria morrer... Er... Porém, como eu poderia aceitar aquilo?... Só adiantando: eu não matei ele; bem eu queria; teria sido extremamente agradável e satisfatório...Uma pena os deuses terem me negado essa oportunidade."

"Natsu..."

"Aqueles soldados, meus companheiros, um a um morreu. Fosse pela doença; fosse por não suportarem a guerra; ou fosse pelo fio de uma espada ou tiro no peito. Um a um caiu... Boas pessoas sob um comandante desgraçado... E eu....... Sobrevive... De novo... A cada dia; nenhum momento de paz. Aceitava de cabeça baixa aquele puto gritando no meu ouvido; me dando tapas no rosto; me mandando fazer algo.....

Sabe... Eu poderia ter matado ele bem ali... no primeiro tapa... Na primeira vez que nos fez passar fome porque tinham simplesmente atacado nossos suprimentos no meio do caminho.... Na primeira vez que ele me fez levar uma pessoa para sua tenda......", sua voz sumia aos poucos, "Teria sido tão melhor.... Talvez eles estivessem vivos agora; talvez aquelas meninas não tivessem tido de ter..... terem..... de serem.....", tremia, cerrando os dentes, "Cada civil... Eu fiz morrer por uma decisão..... Eu tive medo..... Um soldado; mercenário; com medo de morrer... É irônico, não acha?...."

Promessas de primaveraOnde histórias criam vida. Descubra agora