Capítulo XXI

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I

Natsu, após aquele evento, ficou um tanto inquieto novamente. Podia vê-lo com a mão à boca de forma periódica, pensativo. Dois dias depois, saiu de casa às oito da manhã e retornou ao meio-dia. Incomum. Sempre dizia ao menos onde iria, mas daquela vez, não. - Chegou sorrateiramente, sem alarde. Fez um som com a boca para chamar minha atenção; eu estava na sala principal, absorta em minha leitura.

Virei meu rosto, o vi escorado no arco da parede. Saudou-me com um salve, e a mão erguida fez um gesto sutil: me acompanhe. Estreitei os olhos, fechando o livro; o deixando sobre a mesinha.

"O que acha de um passeio, Carla?" Natsu propôs.

"Repentino, não?"

"Er... Não? Não posso chamar minha querida aluna para um passeio?"

Seu sorriso levava um ar ousado, de canto.

"Onde?..."

"Mansão Heartfilia."

Respondeu como se fosse algo totalmente comum. Do bolso arrancou uma chave de ponta gordinha e dourada, tinha uma fitinha amarrada da cor roxa. Algo estava escrito. Com um movimento habilidoso, ele girava a chave em seu dedo indicador, demonstrando uma destreza quase brincalhona.

"O que acha? Vamos?"

"Assim?! É muito repentino!"

De supetão me levantei.

"Vou te esperar lá fora. O Sr. Montague está nos esperando."

Informou ele.

"Como?!"

"Estou indo!..." Ele adotou um tom cântico e, sem mais palavras, virou-se de costas para mim, mas pontuou: "Ah. Não esqueça de usar o qipao!"

Intrigada, subi. Troquei meu vestido pelo qipao. Enquanto ajustava os botões um a um, refletia sobre o convite repentino de Natsu. Ele não tinha o costume de dar nó sem ponta, se agiu assim tinha seus motivos, ainda que escusos. - Estava indo como aluna dele - tendo em vista usar exclusivamente aquela roupa. Sempre dizia assim quando queria isso: usar o Qipao...

Isso instigava-me...

II

Dentro da carruagem, encarava-o de soslaio enquanto avançávamos pela estrada coberta de neve.

O som abafado das rodas esmagando a neve e o leve rangido da carruagem se mesclavam com os passos dos cavalos, preenchendo o espaço ao nosso redor. Mantínhamos as cortinas fechadas, permitindo que apenas uma tímida luz, filtrada pelo tecido, tornando-se avermelhada, penetrasse.

Observava a cidade deslizar lentamente pela janela da carruagem, como se fosse um quadro em movimento. Meus dedos brincavam ocasionalmente com a fenda do Qipao, erguendo e esfregando o tecido entre eles, enquanto eu me via imersa na quietude da viagem.

"Poderia me contar agora?..." Perguntei.

"Vamos estudar um pouco... Pense nisso como uma atividade especial."

"Na mansão da baronesa?"

"Er... A Lucy não vive naquela mansão. Pense em um galpão muito!, mas muito grande! Isso é aquela mansão", soltou um longo suspiro, recostando o cotovelo próximo à janela, "Por isso estamos indo para lá. Ela me deu uma permissão bem especial...", sacou a chave dourada do bolso, "E isso é nosso convite para dentro".

"Ela sabe que estou indo junto?"

"É uma história engraçada..."

"Ela não sabe, não é?"

Promessas de primaveraOnde histórias criam vida. Descubra agora