Capítulo XXII

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I

O inverno. Um dia teria de ter fim.

A duquesa, conforme antecipei, agiu – e Cecília seguiu minhas instruções à risca ao transcrever a carta –, permitindo-me descobrir quem seria o primeiro a sugerir que os Scarlet estavam planejando mais uma vez comparecer à Corte com o projeto Aurora. Uma festa fora de época – a melhor forma de um Marveel mascarar as razões de um encontro de família. Esnobes arrogantes. Parentes adoráveis, não?

Quando recebi o convite, ri, indignada da atitude – quem fosse, sabia, ao falar ter acesso aos planos dos Scarlet, ou qualquer coisa semelhante, receberia o prestígio de parte da família, facilitando ser reconhecido como provável sucessor.

Algumas probabilidades passavam por minha mente. Seria em alguns dias. Tinha tempo.

II

"Senhorita", Helena falou, sentada à cadeira de rodas: "Acho que o outro que mostrou realça melhor sua pele; o cetim combina bastante, mais do que o brocado. O vermelho dá ênfase à sua força, contudo, aquele vestido azul-".

"Apenas vermelho. Acho uma cor mais bonita...", entrecortei sua frase, enquanto observava o vestido projetado sobre meu corpo, observando-me no espelho de corpo inteiro com pedestal móvel. Cecilia o movia, mostrando a frente e seu verso.

"Realmente! Pensando bem, é verdade... Cécilia, pegue aquele outro!... Por favor", indicou, apontando para uma peça guardada dentro do meu closet. Em seguida, acabou por perguntar: "Sei que não deveria, mas... Não é perigoso ir sozinha nesse baile? Ainda com eles por aí?"

"Agradeço a sua preocupação, Helena. De verdade", lancei-lhe um olhar de soslaio; um sorriso zombeteiro brincando nos meus lábios. "Confie em mim, Helena. Tenha fé", brinquei. "Eles não seriam ousados o suficiente para fazer algo assim em plena festa... Na verdade, seria até interessante, pensando melhor".

"Não diga isso!" Exclamou, supersticiosa, sua preocupação: "E se algo acontecer? Não é bom dizer essas coisas dessa forma. Ah! Cecília! Não esse! O vermelho! A Sra. Carla quer apenas peças vermelhas! Hum! Tonta!", usava raiva. Sorria de canto. Parecia gostar disso. Não me pus contra, nem a favor.

"Ana e Beatriz estarão comigo", comentei.

"E Natsu?"

"Ficará. Ele tem de cuidar de ti, não tem?" A observei por um momento. Ela, entre poucos, decifrava minhas verdadeiras intenções. "O que acham?"

O contraste entre o preto e o vermelho era uma união encantadora para uma celebração tão bela. Este vestido, predominantemente feito de algodão, apresentava um corte elegante de ombro a ombro. As mangas longas, em forma de boca de sino, eram adornadas com a mais delicada renda negra, como se fossem bordadas pela própria noite. Esses detalhes, verdadeiras joias, eram um acréscimo sublime ao conjunto, destacando-se como uma peça à parte. A silhueta do vestido evocava a elegância de um vestido de baile, enquanto Cecília trazia outra peça que complementava o visual: um corselete de couro preto.

"Ficará majestosa!" Helena afirmou, batendo palminhas.

"Concordo com Helena..." Cecília, assim adicionou: "Mas... Não é um evento Marveel, minha lady? Não seria mais adequado o azul ou o roxo? São cores mais tradicionais, e também realçam sua nobreza natural".

"Tem razão, Cecília..." Eu me observava no reflexo do espelho. Me mantive por um momento em silêncio. "Porém, usarei vermelho ainda. É uma cor bonita é muito simbólica desde os primórdios. Agradeço sua preocupação também".

Percebi o olhar de Cecília para Helena.

Ela está bem?, os olhos de Cecília indagavam.

Ela é assim mesmo, seria a resposta de Helena, dando de ombros.

"Quero vestir ele... Quero ver como ficarei."

Dessa forma, interrompi aquela conversinha entre elas.

Enquanto Cecília meticulosamente ajustava o vestido ao meu corpo, suas mãos habilidosas puxavam os fios do corselet, moldando-o perfeitamente à minha cintura. Era evidente que a tensão pairava no ar, uma tensão palpável que parecia ecoar tanto dentro quanto fora daquele cômodo. Nenhuma de nós tinha a inocência de Natsu em relação à natureza Marveel.

"Quais luvas seriam mais ideais?" - observei alguns modelos sobre a cama.

"As luvas preta de renda", Helena afirmou. "A renda adiciona um belo toque à ti; de feminilidade e delicadeza; e o preto faz um belo contraste ao vermelho predominante".

Cecília, um tanto tímida, contrapôs: "As brancas fariam um contraste mais delicado... Elas são no modelo mosqueteiro. Mesmo não sendo uma escolha tradicional pelas cores... Dariam delicadeza e também um toque de luminosidade".

"Branco não seria ideal..."

"V-verdade. E as vermelhas? Elas fariam um contraste mais marcante", ela pontuou, arriscando. "O que acha?"

"Helena, o que acha?"

"Na minha opinião, as luvas vermelhas seriam uma escolha ousada e interessante", ela começou, sua voz refletindo consideração: "Complementariam o tom dominante do vestido, criando um impacto visual bem forte. Além disso, o vermelho é uma cor que transmite paixão e confiança, qualidades que você certamente possui, minha senhora".

Cecília assentiu, concordando com o ponto de vista de Helena...

E elas estavam certas, era adorável a combinação...

III

Entretanto, havia algo que eu não havia revelado a Natsu na época: eu estava secretamente treinando aquela habilidade estranha que ele me mostrou. Sentia algo dentro de mim pulsando, buscando por mais. Era como se a magia estivesse tentando me dizer algo. Buscava sua intenção; expandindo minha mana. Pois, como se algo houvesse mudado em meu interior; ao me revelar a Verdade – minha compreensão sobre a Magia mudou drasticamente.

Existe uma diferença entre aqueles que veem a Verdade, e aqueles que apenas sentem. Não uma diferença pequena, mas sim um abismo grotesco. Por essa razão sentia que precisava explorar mais esse outro lado, o qual apenas com aqueles olhos poderia. E sem querer ele me ensinou.

"Faça sua energia percorrer para o epicentro do seu ser, o coração. Concentre-se em amplificar seu mana e em se fundir harmoniosamente com o ambiente ao seu redor. Deixe essa energia fluir pelos seus olhos enquanto respira profundamente, mergulhando em uma sincronia sublime com o todo – e dessa forma, voy a la, é feita a conexão." Simples? Sim. Porém, transcrever o processo é muito mais fácil do que o fazer. O mínimo de desatenção desfaz todo o processo.

E, realmente, a Magia conversa com você – de uma forma silenciosa, clara e objetiva. Inata. O conhecimento transpira pelos seus poros se for capaz de o compreender. Esse idioma, porém, guia, não ensina; mostra sem revelar. É claro e objetivo na essência. E iria precisar de tudo o que pudesse para essa agradável noite. Por ele, por mim; por todos. 

Promessas de primaveraOnde histórias criam vida. Descubra agora