Capítulo XXIII - parte I

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I

Seria uma noite sem lua.

O céu negro, infinito e opressor.

O farfalhar, sussurros do vento.

Uma bela sinfonia. Bela arte.

II

Duas carruagens. Apenas três pessoas. Tinha pensando bastante para aquela noite – e ainda assim sentia uma pontada de aflição em meu peito. Uma ansiedade crescente. Murmurante. Sussurrava em meu ouvido; minha própria voz me amaldiçoava e rogava pragas, mas a calei.

Em meu quarto, de lá podia ver tudo.

Cecilia terminava os últimos retoques – colocando meu precioso colar duplo feito da prata mais pura. – Então ajudou-me a calçar meus saltos, a última peça. Me olhava no espelho. Seria tudo ou nada.

"Parece uma imperatriz...", ela comentou, penteando meu cabelo.

"Obrigada..."

Silêncio.

"Perdão..."

"Você apenas adiantou o que fariam. Em si é irrelevante se fosse você ou outra pessoa... Porém, foi melhor assim. Está tudo como de acordo?"

"Sim, minha lady."

"Ótimo...", apenas de canto de olho, apontei para a minha escrivaninha. "Tem um fundo falso sob a segunda gaveta. As cartas que recebeu estão lá – e na terceira gaveta, a com a chave, peça à Helena e a abra. Entregue a Natsu a com o selo Marveel, de cor rosa. Para Helena, as de selo vermelho... Essa missão só a você posso confiar, Cecília".

"..."

"Ana e Beatriz estão prontas?"

"Acredito que sim..."

"Ótimo."

Inspirei profundamente.

Suspirei bem devagarzinho...

"Você não fez nada além do que eu mandei, correto?"

"Nem ao menos uma vírgula..."

A observava pelo reflexo do espelho.

"Nossos destinos estão ligados, Cecília...", ela pareceu travar, vendo meu sutil sorriso. "Nossas vidas, no caso. É interessante isso, não acha? Simplesmente um amontoado de palavras são decisivas para tantas pessoas... Você fez tudo perfeitamente, como acredito, não?"

"Perfeitamente como pediu..."

"Não esperava menos de vocês..."

Comentei.

"Obrigada."

Ana e Beatriz usavam vestidos simples e maquiagem suave. Gargantilhas de prata. Vestiam-se de azul turquesa. A carruagem Marveel foi-se. Restou uma mais modesta. Seriam vinte minutos de diferença de uma para a outra. Estávamos ainda na casa – e eu, então, escutei batidas à porta de meu quarto. Meus últimos minutos de paz para pensar se foram; porém, tornando-se os escassos minutos de amor que eu precisava.

"Como eu estou?"

Indaguei.

"Maravilhosa."

Natsu revelou, sorrindo para mim. Caminhando bem devagarinho em minha direção. Por trás das costas, ele escondia algo. Risonho, conseguia me interessar, distraindo minha mente – como só ele conseguia fazer.

"Tem tempo para mim?" Brincou.

"Talvez...", respondi no mesmo tom.

"Esquerda ou direita?"

Promessas de primaveraOnde histórias criam vida. Descubra agora