Capítulo XXIII - parte II

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Um suave cheiro de rosas...

Um cheiro que eu conhecia, embora não conseguisse lembrar de onde. O ar preso escapou dos meus pulmões, aliviando um pouco da minha tensão. Então, ela apareceu, aquela garotinha, seguida por seu servo, eu presumia. Lancei-lhe um olhar furtivo. Cicatrizes marcavam seu rosto. Ele devia ter sido um soldado antes, pelo olhar cansado e caído. Seus traços mais suaves e delineados sugeriam origens de Ubatã, e seus olhos amarelados entregavam.

"O-oi!..."

Timidamente, primeiramente, reverenciou minha tia, mãe de bea, antes de a mim voltar seu olhar. Pontual para poder mudar de assunto. Eu me sentei em uma cadeira enquanto ele se ajoelhava a mim, e cuidadosamente costurava o rasgo. Eu apoiei meu pé em sua coxa para facilitar o trabalho. Não era soldado. Percebi, analisando suas mãos.

"Obrigada."

Falei de forma frívola, observando o ambiente. Durou pouco mais de alguns segundos, inerte, um tanto confuso. Talvez não estivesse acostumado ao mínimo contato. Sorriu suavemente, continuando. O resultado foi decente, deveria ter sido um modista antes. Uma pena ter terminado assim.

A duquesa vinha à minha mente...

"Quanto ele custa?"

Pega desprevenida, a garotinha não entendeu.

"Perdão?"

"Dê seu lance."

"M-mas-"

"Trinta, o que acha?"

"Ele não vale isso tudo!"

"Temos um acordo então?"

Olhava diretamente em seus olhos.

"Você me feriu, garotinha. Sou grata por ter feito isso por mim, mas queria outra coisa; algo que valha ao menos um quinto de meu vestido. Estou sendo generosa..."

O olhar de minha tia sondava até minha alma, estreitado, absorvendo cada detalhe. Ela parecia perceber a motivação por trás das minhas ações, mesmo que fosse apenas o desejo ardente de querer. Estava sentada ao meu lado, e à minha direita, bea.

"Ué... Até agora pouco não queria um servo. Mudou de ideia?"

"Estou revendo os prejuízos, tia. Não estou comprando um servo, estou recebendo de bom grado de forma generosa de minha priminha querida!" Que nem eu nem ao menos recordava o nome. Não me lembrava de ter visto o seu rosto antes. "É diferente, não é?" Meu olhar voltou-se à pequerrucha. Balançou a cabecinha para cima e para baixo bem rapidinho. "Não falei? Ainda mais que este vestido foi feito de materiais bem caros".

"Está perdendo dinheiro."

"Não quero ser má com ela! Foi apenas um infortúnio..."

"P-perdão novamente!"

"Está tudo bem! Já passou."

O tempo estava se esvaindo...

"Mas por que quer ele?"

Curiosamente, a garotinha tentava entender.

Somente a encarei, transpassando seu olhar; seu coração, como uma espada. Não gostava de ser interrogada dessa maneira por uma qualquer. E não estava interessada nela para isso. Tentei novamente, mais uma vez, retornar o semblante suave. Aquele ambiente pesado me dava nojo, sentia asco; uma azia constante queimando meu estômago.

"Tia, poderia me tirar uma dúvida?"

"Depende."

"Os Marvello", pontuei. "Eles não estavam com uma crise ferrenha?"

Promessas de primaveraOnde histórias criam vida. Descubra agora