Capítulo XVIII

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I

Em um corredor quase vazio encontrava-me. Quase os fundos de minha casa, a luz pálida do inverno tranpassava as janelas, pintando o ambiente com padrões pálidos.

O ar estava impregnado de uma quietude quase tangível, interrompida apenas pelo murmúrio distante de passos, o rangir de rodas, e o ocasional estalido do assoalho sob meus pés.

Cecília empurrava a cadeira de rodas com Helena sentada. Mantinha as mãos sob o ventre, levava um olhar suave e pequeno sorriso nos lábios; contrastando à letargia de quem a levava.

"Helena..."

Pareciam compreender a seriedade de meu assunto, pelo meu olhar e tom.

"E Cecília também..."

"Sim, senhorita?", disse Helena.

"Como posso te ajudar, minha lady?", comentou Cecília.

Ambas quase ao mesmo tempo.

"Tenho uma pequena tarefa, essa especial."

Observava a neve cair.

"Enquanto eu estiver fora, deverão fazer questão de ajudarem meu professor... Em tudo o que ele precisar. E Helena, o faça companhia, por favor..."

"É uma honra, senhorita."

"Cecília, foque em mim, por favor."

Alertei, para os olhos fixos nas pernas de Helena fossem direcionados para mim.

"Você, bem; faça o de sempre ajudando Helena. Tentem o distrair um pouco."

Cecília assentiu silenciosamente, no aceno de cabeça, emendando uma reverência à mim. Em nenhum momento ousou encarar meus olhos; se bastando no chão e próprios pés – algo comum –, bem oposto à Helena, energética:

"Farei o meu melhor para cuidar dele. Obrigada por confiar à mim essa missão... Eh... Seu eu pudesse eu me levantaria, senhorita, mas tenho medo de quando te reverenciar de forma realmente adequada, cair! Minhas pernas estão bem fraquinhas..."

Não à mim devotava sua fala, sim à quem, como sua sombra a seguia.

"Não faremos um bom trabalho, Cecília?..."

"S-sim! Faremos sim..."

Uma cena cotidiana...

"Muito bem. Irei sair um pouco. Fiquem de olho nele por mim, estou confiando a vocês – compreendem a seriedade?"

Confirmaram.

"Ele é responsabilidade de vocês. Não quero outra empregada à mais de cinco passos do quarto dele, senão vocês. Ele deve repousar até segunda ordem. Ah, e Cecília, se ele pedir algo, você interceda o pedido dele."

"E-eu?"

"Algo contra?... Helena não pode subir e descer as escadas assim, ela pode cair e se machucar. Você tem pernas boas."

"Só aceite, Cecília... E agradeça."

"O-obrigada, lady. Farei o meu melhor para servir seu... Professor..."

Vi Helena erguer a mão, apoiando-a sobre a palma de Cecília, que segurava as astes da cadeira de rodas. Existia uma frieza estranha, compreensível no gesto suave.

"Ela não fez por mal, senhorita. Não é?"

Confirmou, num balanço contido e rápido de cabeça.

"Mais algo, senhorita?"

Promessas de primaveraOnde histórias criam vida. Descubra agora