Dança à luz da lua

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I

Eu não conseguia dormir.

A ansiedade batia à porta do meu coração. Eu me revirava na cama, tentando afastar os pensamentos intrusivos que pareciam ecoar nas sombras. Acabei por me levantar, cansada. Às vezes caminhava pela casa durante noites como aquela, de lua cheia, para acalmar minha mente.

Não era tarde. Deveria ser onze horas da noite.

O vento rugia lá fora como um cão raivoso.

O corredor se estendia à minha frente, uma extensão sombria e silenciosa. As luzes haviam sido apagadas, deixando-o envolto em um manto de escuridão. Porém, através das janelas, a luz prateada da lua encontrava seu caminho, derramando-se em um brilho celestial que dançava pelas paredes.

Meus passos ecoavam pelo corredor vazio: taptaptap, como o ritmo suave de um tambor distante, marcando o compasso da noite.

Sentia o chão gelado. O ar congelante.

Tons frios e monótonos preenchiam minha visão.

Caminhava sem destino; guiada por puro tédio.

O frio da noite penetrava em meus ossos, envolvendo-me em seu abraço gélido enquanto eu vagava sem rumo, perdida em meus próprios pensamentos e no vazio da escuridão. A luz da lua, tão distante e tão próxima, iluminava meu caminho como um farol solitário em meio à vastidão da noite.

Mas, vozes me chamaram a atenção. Uma cacofonia distante, suave e risonha, que eu reconhecia de longe. Sutilmente, elas me conduziram, levando-me a um quarto com a porta entreaberta, de onde escapava uma luz tênue. Ao fundo, o som nostálgico de uma vitrola preenchia o ar.

"Não é assim. Mais devagar!"

Helena alertou. Curiosa, espiei pela porta entreaberta: Natsu segurava-a com delicadeza, mantendo-a próxima. Os pés de Helena repousavam sobre os dele, usando-os como apoio, enquanto o guiava em uma... Dança? Àquela hora da noite?

"Menos força. Ela vai te bater se apertar assim ela."

Dizia... O ensinando?

Os passos de Natsu e Helena, em perfeita sincronia, fluíam como as ondas do mar, ou ao menos assim pareciam. Enquanto seguiam de um lado ao outro, ele exibia uma expressão ligeiramente desconcertada, como se tentasse encontrar o compasso certo ao som da música suave que preenchia o ambiente. Porém, o sorriso zombeteiro de canto ele mantinha.

"Estou melhor do que antes! Admita."

"Daria uma nota sete pelo esforço."

"Oito!..." Seus pés flutuavam suavemente sobre o chão, traçando arabescos etéreos no ar, enquanto os movimentos da valsa se desenrolavam em uma sinfonia de graciosidade. Porém, mais lenta.

Durante a dança, a atmosfera ao redor começou a se metamorfosear sutilmente. As sombras da noite pareciam dissipar-se, cedendo lugar a uma luminosidade suave e vibrante, enquanto as cores do ambiente adquiriam uma intensidade mágica, como se fossem pintadas por pincéis encantados. Os contornos das coisas se tornaram mais nítidos, mais vivos, como se o próprio mundo estivesse ganhando vida sob o feitiço da lua.

Num piscar de olhos, quando a luz lunar atingiu seu ápice de esplendor, os traços familiares de Natsu começaram a desvanecer-se suavemente, dissolvendo-se na luz prateada da noite. Em seu lugar emergiu outro rapaz, com cabelos castanhos-claros, cujos olhos irradiavam uma energia diferente, uma essência que, estranhamente, parecia familiar e desconhecida ao mesmo tempo.

Eram os olhos do homem que eu amava, mas também os olhos de outro homem, uma dualidade intrigante que me deixou atônita.

A transição ocorreu como um suspiro, uma metamorfose quase imperceptível, como se fosse parte de um sonho entrelaçado com a realidade.

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