Capítulo XX

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I

A lareira crepitava.

Em mãos segurava um livro antigo, este realmente mais antigo do que qualquer outro me entregue. Páginas amareladas. Desprezadas. Um tanto desgastado. Os poucos desenhos estavam desbotados – senão apagados –, restando os rabiscos de meu professor, numa tentativa de reconstrução deles.

Sentada na poltrona, sentia a presença dele logo atrás. Sua mão agarrava o encosto, apoiando-se. Na outra tinha um graveto – sim, um –, era uma daquelas varinhas longas e finas, de madeira boa, para ditar o ritmo da leitura. Aquele tomo – escrito por um antigo mago. Uma verdadeira relíquia – abordava conceitos empíricos do corpo, da alma e do espírito: um trio indivisível e, ao mesmo tempo, uno. O corpo, moldado pela alma, também reflete, como espelho, o corpo, e o espírito que o preenche – confuso, estranho e místico demais.

"Não entendi."

Clamei, lendo esta mesma parte qual expliquei a ti, mas naquele momento.

"O que não entendeu?"

"Desde a primeira linha até essa última..."

"Hm...", ergueu a varinha com destreza e, com um movimento suave, acertou-me levemente na cabeça, capturando imediatamente minha atenção, "O corpo reflete sua alma; porque é o corpo também. Quando avançar mais e seu corpo se tornar mais suscetível à Magia, entenderá – você escuta apenas, Carla. Para enxergar, isso precisa de mais tempo..."

"Enxergar?"

"Sim. É como o que nós fazemos...", tossiu, cobrindo a boca. Suas bochechas rosadas, vacilou ao me olhar, desviando para a janela, "Mas sentimos – mesmo sendo algo estranho na doutrina... Níveis mais avançados vêm essas nuances. Deve se esforçar para a Magia de moldar".

"Er... Não estaríamos pulando etapas, então?"

"Primeiro deve aprender, depois praticar. Não se pratica antes de aprender."

"Natsu, como você me vê, então?"

Um sorriso brincalhão iluminou seu rosto, tão adorável quanto uma tarde ensolarada. Espontâneo, ele suspirou e, com carinho, passou a mão em minha cabeça, afagando meus cabelos macios e minhas orelhas com cuidado, como quem segura um tesouro delicado. Então, com ternura, depositou um doce beijo no topo da minha cabeça, enchendo meu coração de calor e alegria.

"É bela, mesmo tendo algumas ranhuras. Uma forma única para meus olhos – é como nenhuma outra Vênus. E só assim posso te nomear", seus olhos pareciam ter um brilho estranho; amarelado, reluzente. Magia!

"Bobo...", acanhei à suas palavras, me encolhendo toda na poltrona, "Não tem nada para me contar?... Parece querer me dizer algo!"

"Tenho mesmo", zombou, brincando com os fios pálidos de meus cabelos, enrolando na ponta de seu dedo, depois soltando carinhosamente, "Helena não parece tão confortável com Cecília..."

"Isso é verdade... Eu queria que, bem. Sei que é egoísta.. Mas pensei que se Cecília servisse Helena, Helena poderia se sentir melhor, sabe?..."

"Ela não se sente confortável com ela a ajudando com os exercícios, parece."

"Sugere algo?", descansava com os olhos fechados, entregando-me ao deleite do seu carinhoso cafuné, "Estou aberta a sugestões..."

"Eu poderia voltar a ajudá-la? Até, talvez, conseguir contratar um fisioterapeuta?"

"Não estaria fazendo cafuné na minha cabeça só para pedir isso, certo?"

"Gosto de seus cabelos. São macios."

Promessas de primaveraOnde histórias criam vida. Descubra agora