CAPÍTULO SETE

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Prince Geoge, Canadá

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Prince Geoge, Canadá

15 anos de idade


Não gosto de morar aqui, na minha casa, nem nesta cidade. Moro em Prince George, no Canadá, desde que me entendo por gente. O frio é horrível e o ar poluído é quase insuportável por conta das atividades industriais madeireiras. Muitas vezes o céu fica acinzentado, mas não é por causa das nuvens pesadas, e sim da fumaça das indústrias.

Aprendi tudo isso com a minha professora Meesane. Além de contar as histórias de Prince George nas aulas, ela também me conta nos recreios. Sempre a procuro para ouvi-la, e não acho que ela se incomode. A velhinha sempre está sozinha pelos corredores, igual a mim.

A professora Meesane disse que os ladrões de Prince George se reproduzem mais rápido que ratazanas de esgoto, e o estrago que um só faz é igual ao de dez roedores juntos. Disse que é um dos motivos de não gostar daqui.

Quando me perguntei por que não gosto de morar aqui, não foram coisas que apareceram em minha mente, mas sim uma pessoa. Nenhum lugar é bom o suficiente sem pessoas que te façam sentir especial. Ouvi essa frase em um seriado que passava na TV de uma loja, meses atrás. Aqui na cidade, não tenho nenhuma amiga, além da Meesane. Mas a sra. Meesane não brinca de boneca nem conversa sobre garotos comigo, sempre está contando alguma história de Prince George ou da sua vida (o que não ocorre muito).

Nunca brinquei de bonecas porque nunca tive nenhuma e nem amigas. Sempre me perguntei por que as crianças do meu bairro não queriam brincar comigo. Meu pai dizia que era porque a única brincadeira que elas gostavam de fazer era com um homem. Nunca senti tanto nojo de alguém como senti do meu pai dizendo essas palavras para mim, que só tinha 10 anos. De certo modo, tive que amadurecer precocemente para não ser engolida pela sujeira desta cidade.

Nada se pode esperar de um lugar retrógrado e desalinhado, onde quem produz é quem passa fome. As migalhas que os trabalhadores ganham não servem nem para manter a dignidade, já que quem trabalha de manhã e de tarde tem que sair à noite para completar o miserável salário.

— Não se sente só, Freya? — Sra. Meesane pergunta.

Dou de ombros e olho para o rosto enrugado da velhinha. Os cabelos brancos lisos vão até o ombro, têm olhos azuis e caídos, sua boca mal aparece e o corpo é esguio. Sra. Meesane tem 67 anos, mas parece ter bem mais. Pergunto-me se isso é uma das consequências do ar poluído de Prince George.

— Tenho um gatinho, Funny. Ele me faz companhia. — Falo com um sorriso no rosto, lembrando-me da bolinha de pelo preta.

— Ah, minha querida, não estou falando disso. Ter alguém do seu lado não quer dizer que não se sente só. Muitas vezes estamos rodeados de pessoas, mas ainda nutrimos a solidão. — diz e coloca uma mecha do meu cabelo loiro atrás da minha orelha.

ASSIM COMO AS CINZASOnde histórias criam vida. Descubra agora