A Última Gravação (Sonic)

XII. Nua e Crua

— Não, ele não recebeu nenhuma outra visita. E se querem saber, senhor McGyver está se recuperando muito bem! — disse Cream, doce. (“Chao, chao!”) — Não tem falado muito depois do incidente, mas tem respondido mais às psicólogas.

— Ele disse algo estranho, suspeito? — indagou Noah, sem se importar com o olhar de reprovação da irmã.

— Felizmente, não — respondeu Cream expressando curiosidade. — Por que diria?

— Nenhuma razão! — Lana tomou a frente muito rapidamente. — Foi uma pergunta idiota, meu irmão não costuma pensar muito antes de falar — riu. — Muito obrigada, mesmo. Você não sabe o quão é importante deixá-lo sempre na companhia de alguém, ele... Ele não gosta de ficar sozinho, se sente inseguro. Ah! E só mais uma coisa...

“Por acaso você sabe o que é SFP?”

Cream massageou o pescoço à pergunta e apertou os olhos para o teto.

— Ahn...! — fez. — Ah, sim! SFP, eu me lembro de ter estudado em algum momento da faculdade. É uma doença psicológica extremamente rara, surgindo em menos de um porcento da população mobiana. Ela sempre aparece como causa de um temor extremo do indivíduo, o qual se refugia num evento específico do passado, um que traga conforto a ele. A sigla, até onde eu sei, é... Síndrome da...

“Chao...”

— Síndrome do Fenômeno de Partida. Obrigada, Cheese. É isso! Por que a dúvida? — Vendo as expressões de frustração e desgosto estampadas no rosto dos irmãos, a coelha acrescentou — Vocês andam tão misteriosos ultimamente... Está acontecendo alguma coisa?

⬫⬪⬫

Um New Beetle sempre fora o carro dos sonhos de Lana, e na verdade não houve grande comemoração quando finalmente o conquistou, talvez por não ser uma conquista, de fato. Sonic entregou-lhe as chaves do carro assim que ela completou dezessete, ordenando para que ela fosse cautelosa, mas que sempre explorasse as redondezas, como o próprio amava fazer quando jovem.

Talvez por isso a vida de Lana fosse tão sem sal e carente de aventuras, assim como a própria, assim como Noah. Eles tinham tudo o que almejavam, eram dois mimados e amargos que não sabiam andar pelo mundo. Entretanto, a vida de ambos mudou quando Lana resolveu andar fora dos trilhos, romper a delimitação de Sonic. Fora surpreendente, um misto de choque e tristeza, saber que seu pai não era confiável. Tudo pareceu falso e a realidade em torno deles mudou repentinamente.

Todavia, talvez o temor maior fosse por parte de Noah. Ele sempre foi mais próximo do pai, afinal. Mesmo que ambos fossem dois mimados que não sabiam lidar com críticas — principalmente Lana, que não tinha nenhum tipo de vigilância epistemológica —, seus objetivos mudaram. Agora caminhavam em direção a seja lá o que o universo preparava para eles. Sonic guardava algo muito maior e a sede da dupla pela verdade aumentava conforme seus passos apertavam.

Eles reservaram alguns minutos dentro do automóvel para ligar os pontos: conseguiram deduzir facilmente que Sonic pretendia algo com McGyver ao Hospital St. Miraculum; não sabiam o quê. Entretanto, o melhor que assimilaram veio em seguida, quando refletiram sobre a possibilidade de Amy estar dentro do campo de proteção, protegida por um marido psicótico e misterioso. E fez sentido, pois...

— A única coisa mais importante que nós para Sonic — afirmou Noah num tom de voz trêmulo, — até onde sabemos, é a nossa mãe.

Mas nenhuma dedução adiantaria naquele momento. Eles precisavam continuar, descobrir o que realmente acontecia, parar de andar em círculos. Contudo, isso precisaria esperar, pois o Sol logo imergiria ao horizonte e Sonic estaria em casa. Ele não podia saber o que estiveram fazendo, e a dupla precisava trancar o quarto antes que o azul percebesse.