XVII. Uma Última Vez

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𝙌uando Noah adentrou a casa, encontrou as três mobianas ansiosas e inquietas à mesa. Elas se levantaram no momento em que o avistaram à porta e o cercaram, cheias de dúvidas:

— Noah! Você está bem? — questionou Lana, afligida.

— E como Sonic está? — indagou Amy, impaciente.

— O que ele contou a você? — interrogou Blaze, séria.

Noah colocou as mãos para o alto, tímido.

“Calma aí, galera! Vamos sentar que eu conto tudo para vocês...”

Seus relatos foram compartilhados com muita cautela e detalhamento, sua linguagem fora objetiva e clara. O preto assistiu às reações bem distinguíveis das três; surpreendeu-se com o tremular dramático e engraçado de Lana e admirou-se pela beleza e autocontrole de Blaze. Como sempre, Amy deteve o mais variável e curioso dos comportamentos, com suas cordas vocais ziguezagueando em uma linha alta à mais baixa, ou então, a som algum. Mas ver Amy reagir à possibilidade de cirurgia foi, no mínimo, intrigante. Ela não gritou ou não expressou horror. Ela não riu, histérica, ou derrubou a mesa com fúria nos olhos.

Ela concordou com a cabeça, sorriu majestosamente, como se aceitasse as consequências da vida. E mais uma vez, a calma e sabedoria, que pareceu surrupiar de sua amiga ao lado, fez presença com o seu “pensarei por algum tempo, darei uma resposta a vocês em breve.”

E retirou-se, simples.

Mais tarde, durante a noite, Noah se preparava para dormir, já de pijama. Ela bateu à porta e, convicta, convocou-o para a cozinha, já com uma resposta em mente. Noah encontrou Lana no corredor e os dois entrelaçaram os dedos. O preto mantinha-se imparcial: esta era uma decisão unicamente de Amy, como seu próprio pai dissera. Mas sabia que as coisas não seriam fáceis entre Lana e Amy, caso a mãe aceitasse correr o risco. A irmã de Noah já tinha deixado muito claro para ele que não seriam.

“Se ela fizer...!”, disse, mais cedo. “Não fizemos tudo aquilo por nada. Ela realmente não deveria fazer isso, na maioria das vezes o que mata as pessoas é o tratamento agressivo, e não a doença em si!”

Noah não apoiava a irmã nisso, e nada disse. Todavia, não queria ver guerra e mais discussões entre a família; tudo deveria se manter em paz como antes. Depois da situação com o pai, ele não entendia como todos estavam em chamas uns com os outros quando deveriam comemorar por estarem juntos, finalmente e novamente.

Seja lá qual fosse a resposta, ela viria a seguir.

Eles sentaram-se à mesa. Blaze não fez o mesmo, de pé próxima à ouriça rosa, quase como uma agente pessoal. Naquela fração de segundo, toda a dinâmica entre a família mudaria, e já não sabiam mais o que aconteceria. Noah pressionou a mão de Lana com força, medroso e irracional depois de muito tempo pairando sua astúcia e coragem.

— Bom...! — disse Amy. — Eu farei a cirurgia.

Lana soltou a mão de Noah e sua expressão mudou instantaneamente. Ele sentiu o próprio coração afundar, movendo o olhar de mãe a filha.

— Eu decidi que seria o melhor a ser feito, porque preciso enfrentar este medo — contou. — Durante muito tempo, eu me acovardei, senti medo de enfrentar isso, porque temi não receber a validação dos outros. Tive medo do julgamento e, mais que isso, quis protegê-los. Mas não sabia o quão essa proteção podia ser possessiva, e todas as consequências que isso podia causar.

— Então quer lidar com isso sendo egoísta? — alfinetou Lana. Amy piscou lentamente, como se tentasse confirmar o que via. — Essa decisão não é só sua, É NOSSA!

A Última Gravação (Sonic)Onde histórias criam vida. Descubra agora