XV. Desconhecidos

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𝘽astantes flickie passarinhos assomaram em meio às nuvens de um céu azul bebê, dando um mergulho visceral sobre olhos verdinhos e efusivos, de compaixão às outras espécies. Eles pousaram, enterrando as patinhas no gramado lustroso em frente à morada, consequência das nuvens cinzentas que visitaram a família Rose e Hedgehog pela manhã. Tudo se realizara aos arredores da casa como se o céu gerasse atrito, iluminando-os por alguns curtos minutos com mínima luz, como a do arco-íris que pintou toda a paredinha sem vida sob o peitoril da janela de Lana ao lado da casa.

Os olhos verdinhos em questão pertenciam a Amy Rose, uma moça que se refugiava da própria realidade sob o apanhador de sonhos colorido da varanda, encolhida nos degraus que levavam ao hall. Assistia às criaturinhas penosas, seus azuis mais vívidos que o do céu. Demorou alguns segundos para que fizesse essa observação acerca das aves. E quando o fez, os olhos perderam vida e expirou o ar de seus pulmões, um ato involuntário. Era algum mecanismo de defesa, pois sabia que não conseguiria extrair conclusão ou alegria dos últimos eventos. Tudo o que viveu pareceu-lhe um sonho, e então... um pesadelo.

Ela escolheu paz e estadia por mais alguns minutos, namorando as figuras de olhinhos salientes ciscando, catando pulgas uns nos outros e retornando aos céus, por fim. A revoada foi embora como um fantasma de Sonic, uma massa azul imergindo ao horizonte, como ele mesmo fizera após devolver a ouriça rosa à casa de seus filhos, sem mais uma palavra vinda de seus lábios, sem objeções. E o azul, ou preto, ascendeu os mistérios em torno da entidade e de si com seu último feito.

Rose vagueou pela frente da casinha como se esperasse um retorno repentino do ouriço azul. Ele não viria, era certo. Mas que custava sonhar? Não o queria ali pelo amor que tinham um pelo outro; as respostas seriam mais justamente entregues à rosada se pelos lábios do antigo herói do planeta. E quanto ao amor, existia amor agora? O que ele fez pareceu-lhe imperdoável, injusto. Mas a verdade é que o rapaz de espinhos longos e natureza tão livre não teria feito nada disso por fazer. Havia razão e passado. Decerto, havia o outro lado da moeda.

Após uma breve espiada na floresta que a circundava, os enormes e agitados pinheiros parecendo almejar engoli-la para a escuridão, Amy retornou à casinha de cores mortas. E os seus chinelos arrastaram-se nos azulejos, ocasionando um breve eco pelo silêncio.

Onde estão todos?

A casinha era menor, sem a grandiosidade da falsa morada, "A Bolha", como apelidou em sua mente. Agradeceu pela modesta casa, pois não gostaria de ver nada que lhe enchesse os olhos por um longo período. Entretanto, o toque aparentemente maduro e monótono do novo Sonic pareceu ter forte influência na paleta de cores dos cômodos mais uma vez. Amy fez uma carranca ao ver as rosas negras sobre a mesa de mármore, e enrugou ainda mais o rosto com o chão de pedra de calcário, que nada casava ou namorava o papel de parede negro de floreios brancos. A cozinha era pequenina e bagunçada, com diversas panelas penduradas no teto e talheres espalhados ao balcão, além de uma janela estilhaçada. A mãe perguntou-se se tudo aquilo estava limpo ou não.

Seus passos pareceram mais altos que o normal até que atingisse o final do corredor, digerindo por um momento a sala... desorganizada (que novidade!).

Lana tinha uma beleza que se equiparava a da mãe, e foi agradável vê-la sem aquela túnica extravagante e esquisita ou os óculos que deviam fazer com que ela enxergasse tudo em altíssima qualidade. Amy podia dizer agora que seus cabelos eram semelhantes, e exceto pela cor, Lana "Cream" era um perfeito espelhamento da mãe, com mesmo estilo e bom gosto estético, e com a aura que transparecia coragem e paciência. Todavia, era difícil dizer o que a filha era em seu interior, devido aos anos anteriores que se esvaíram de sua mente. Mas "tudo estava bem". Não se deixaria abalar por isso, não agora que estava prestes a ter seu novo primeiro contato com a filha.

A Última Gravação (Sonic)Onde histórias criam vida. Descubra agora