PRÓLOGO

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Primeiro se sente um aperto no peito

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Primeiro se sente um aperto no peito. Depois, surge um nó na garganta que nada pode desatar senão a tormenta que seguirá. E então a respiração entra em uma cadência lânguida, num arfar moroso, mas que de ofegante, breve mudará de forma, momento em que se sente toda a sofreguidão e se atinge o ápice da batalha num vai e vem de movimentos cada vez menos espaçados, num ritmo cada vez mais alucinante; e já não dá mais para tornar os sentidos. E num rompante as lágrimas vencem a barreira dos olhos; e num estrondoso retumbar verte-se a dor através do pranto e não pode o homem volver ao seu estado natural senão após o desastre da alma.

E os olhos se veem desmanchar.

E a explosão parece não ter fim.

E toda a emoção sufocada; todo o sentimento contido; toda a dor acumulada vai se esgotando tal e qual uma barragem de água que se rompe; tudo se lava através das lágrimas.

Pois que o choro é o refluxo dos sentimentos acumulados há tempos. É o regurgitar dos excessos da alma. Sim, a alma também comete os seus excessos!

E quanto mais se chora mais se quer chorar. Quanto mais se sofre mais se quer sofrer. É mistério que apenas ao espírito é dado conhecer.

E verte-se toda a dor através das lágrimas. E rompe-se todo o sofrer juntado, num lamento desenfreado e inexorável que mais forte se o quer fazer ser, quanto mais forte esse lamento o é. É o fundamento da depressão!

E é como a tempestade que se forma no céu. Nuvens carregadas, negras e ameaçadoras permeiam o horizonte, engolem o azul remanescente e trazem o vendaval que faz zunir tudo ao redor. E os trovões assustam e os raios clareiam para depois tornar a deixar escuro o lugar. E a água desce torrencialmente. E é destruição o que se segue.

Se a tempestade cai no mar, o naufrágio e certo. O céu proceloso não é dado a indultos: colhe o espavorido marinheiro em vagas gigantes e grotescas que o vão engolir.

Se a tempestade cai em terra, a destruição é questão de tempo, pouco tempo. Derruba árvores, arrebata habitações, destrói plantações.

Mas após o estrondoso ataque da natureza, tudo parece reaver-se, e o sossego vem.

Também após o desespero das lágrimas que faz aturdir a alma, surge para o sôfrego a tranquilidade dos céus de brigadeiro, a calmaria dos mares de puro azeite.

E alivia-se o espírito.

E tudo se cala após a explosão.

E a esperança requer novamente guarida, domina o peito e se mostra de alguma forma. E tenta trazer motivos para se continuar a viver! É a vida que se sobrepõe ao sofrimento mais bárbaro, mais desumano.

E ergue-se, por fim, a cabeça; e tira-se do corpo a poeira daquilo que o fez padecer; e ressurge-se, então, para a vida, quiçá uma nova vida que a todos, a todo momento, é dado conhecer...

O Fantasma do meio-diaOnde histórias criam vida. Descubra agora