PARTE I - CAPÍTULO 6

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A campainha da casa soou e tão logo a criada abriu a porta reconheceu o Porfírio do dia anterior

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A campainha da casa soou e tão logo a criada abriu a porta reconheceu o Porfírio do dia anterior. Este, lá do portão perguntou pela noiva do dia, se ela estava em casa e se podia recebê-lo. 

Poucos minutos depois tornava a criada com a resposta positiva, abrindo-lhe os portais da casa. Surpreendeu-se Porfírio quando a criada pediu para que ele a seguisse. Se imaginou ser recebido por Carminha, quando muito, na sala de estar que no dia pretérito ele observara com tanto enlevo, o acaso lhe causou espanto. 

Passaram pela sala: a criada na frente e logo atrás, seguindo-a estupefato, o novo Porfírio. Ganharam a longa e majestosa escadaria de madeira que levava ao piso superior da casa. O coração do jovem parecia-lhe descontrolado, agitavando-lhe o sangue nas veias. Suas pálpebras tremiam, suas mãos, cerradas, enrijeciam para não fugir ao seu controle, tamanha excitação lhe consumia. 

Caiu em si quando, à porta do quarto de Carminha vislumbrou-a. Era aquele o maior santuário para Porfírio, verve de suas mais delongadas imaginações, inspiração dos seus devaneios. Muitas e muitas vezes Porfírio idealizou aquele canto proibido do mundo, o mais impossível e inacessível lugar do planeta. Por mais de uma vez tentou elaborar um plano para conseguir avistar aquele quarto de menina-moça, agora mulher. Fantasiou de muitas maneiras, inventou cenários, criou motivos, não levou nenhum plano adiante tão audaciosos se lhes afiguravam. Abria-se-lhe agora a porta do mais fantástico sonho seu. E de que maneira, com que propósitos, mas não havia como alterá-los...

_ Com licença — disse ao adentrar no quarto da moça. Percebeu à entrada do quarto que as ajudantes de Carminham estavam deixando o ambiente, o que se lhe afigurou perfeito. A conversa tinha de ser a sós.

_ Entre, meu amigo — Carminha trazia nos lábios o sorriso das noivas castas e sonhadoras, um brilho de marfim nos dentes, um raio de devaneio e loucura eram lançados dos olhos da moça, atingindo impiedosamente o rapaz, maltratando-o ainda mais, encorajando-o ao que se seguiria. 

Do mais, o corpo de Carminha já trazia o alvo vestido que denunciava que aquela moça logo seria transformada em mulher casada, desposada, deflorada... estava linda, deslumbrante, sua formosura chegava a assustar Porfírio. Aquele vestido escondia menos as formas mágicas que aquele corpo de donzela tinha do que o olhar enigmático de Carminha parecia querer ocultar. 

Mas, o que aquele olhar sempre lhe quis dizer, afinal? Seria possível, num instante de loucura ela se voltar a ele e declarar que o amava?, que o verdadeiro amor dela era ele e que iriam se casar, se ele assim se dispusesse, naquela mesma data, dali a poucas horas?! O sonho foi por terra assim que ela continuou a falar:

_ Sente-se — disse-lhe, apontando uma poltrona que jazia em um canto do quarto. Um quarto maravilhoso, mais fantástico que ele pudesse ousar imaginar. O rosa predominava nas cortinas, no cetim da cama, nas almofadas que descansavam, sonolentas como gatos, aqui e acolá.

_ Como não... — sentiu Porfírio inserido no próprio jardim do Éden, viu-se por instantes novamente no Paraíso, estavam ali ele e a mulher, dona dos seus sonhos de amores. Reinava no ambiente um perfume de jasmim tornando o ar do lugar cálido e sedutor. Os espelhos da penteadeira refletiam Carminha por todos os lados. As almofadas, a colcha, os macios tapetes, tudo era acolhedor naquele recanto. O listrado em tons pastel do papel de paredes, o forro do teto, o assoalho, tudo aquilo era um mar de espumas, um regaço entorpecedor que traziam à tona o antigo Porfírio, mas ele sabia – o mau Porfírio, que a pouco nascera – de que teria de resistir e não mais se entregar aos devaneios, tornando-se à realidade, à dura realidade: ela jamais a ele pertenceria.

O Fantasma do meio-diaOnde histórias criam vida. Descubra agora