PARTE I - CAPÍTULO 5

11 1 1
                                    

E o dia chegou

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

E o dia chegou...

As datas marcadas, por mais distantes que possam parecer, chegam. Os segundo vão caindo do espaço, pingando incessantemente formando os minutos, esses vão se juntando em horas, em dias, em semanas, meses.

Na véspera, todavia, tudo já era dor para Porfírio.

Convidado que fora, junto a Graziela para auxiliar nos preparativos da festa do próximo dia, logo pela manhã chegou à casa do Dr. Jacy. Era a primeira vez que entrava naquela casa sóbria, um tanto diferente do consultório que a Porfírio não trazia boas recordações. 

Aquele casarão que tantas vezes Porfírio sonhara adentrar na condição de namorado de Carminha penetrava agora na triste situação de padrinho do casamento da filha do dono. Tudo ali alimentava o espírito de Porfírio, funcionava como um bálsamo que o fazia apaziguar o coração. Nem mesmo o entra-e-sai das pessoas fazia Porfírio se desconcentrar, perder um só detalhe do que se lhe abria à visão naquele momento. A sobriedade do casarão lhe inundava os sentidos. 

O perfume de Carminha estava solto pela sala. Os móveis, os tapetes, as porcelanas, aquele lugar era inebriante. Porfírio ficou um instante ali parado, observando a longa escada que conduzia ao piso superior onde, certamente, estavam os quartos. Após esse instante de profundo deleite, fora puxado por Graziela, que o chamava enquanto ele, absorto, não podia ouvi-la. 

Depois, o sentimento de Porfírio era o de um homem roubado, usurpado, arrebatado do que era para ser seu. Não os bens, mas a dona deles. Faltara-lhe ousadia para conquistar o amor de Carminha? Não. E fora um ato de perfídia, de louca traição aquele que Euzébio fizera para conquistá-la. Era Euzébio um ladrão pois que, dado a timidez de Porfírio se aproveitara e conquistara um amor que não era seu! 

Que espécie de pessoa era aquela que lhe roubara a vida, a felicidade, o futuro? Porfírio sentia que tudo o que havia por ali era, por direito divino, seu. Euzébio lhe assaltara a felicidade! E o pior de tudo é que no fundo Porfírio sentia-se de certa forma o culpado por tamanha desdita. 

Ele mesmo abrira os olhos do rival para os encantos de sua amada. Voltava-lhe a frase que Euzébio falara quando soubera que Porfírio estava enamorado de Carminha: "Mas ela é feia!". Puxado pelos braços por Graziela, abandonou a sala que tanto lhe comovera.

Atingiram após um longo corredor a cozinha. Ali estava o auge da preparação para a festa. O cheiro que dali vinha não era outro senão o de cebola e alho que impregnava o ambiente e temperavam iguarias. Limões eram despejados torrencialmente sobre leitoas. Cebolinha, salsinha, sal, pimenta-do-reino e outros condimentos compunham aquela babel culinária que visava os festejos da próxima tarde e que aquele punhado de mulheres, num desvairado fremir, num açodamento louco e concatenado preparavam.

Carminha não estava por ali. "Deve minha princesa estar preparando os últimos detalhes para estar mais encantadora ainda, amanhã", pensava Porfírio.

O Fantasma do meio-diaOnde histórias criam vida. Descubra agora