Não há sossego ao coração vivo,
Não há paz que o console;
Viver e sentir o ardor do querer,
É como regredir quando se quer crescer...
* * *
Desmedido foi o esforço para se erguer ali naquele rincão tão afastado da civilização, num vale remoto e encravado nas montanhas da Mantiqueira, lugar ermo e rude, incógnito e desabitado, uma cidade de águas. E mais, uma bela cidade de águas.
E as águas sulfúreas que ali nascem, quentes, benévolas, começaram desde então a atrair a gente desesperada que buscava saúde, que procurava ali, arrebatados, o retorno a um estado menos deplorável para seus corpos. De lugares cada vez mais distantes vinham os desvalidos.
Os que venciam a penosa viagem chegavam claudicantes àquele lugar, contado alhures como milagroso. Muitos ficavam pelo caminho não resistindo a longa jornada. Outros, ainda que em terras de águas milagrosas sucumbiam ao seu mal, dado o modo incorreto de se tratar, bem como às precárias condições para o tratamento.
Dois problemas a saber: Primeiro, o modo de se tratar com as águas, deveras quentes para um clima em determinada época do ano, tão álgido e; Segundo, as precárias condições para se tratar com elas, pois que não existiam acomodações nem aparelhos próprios para se curar o mal com as sulfurosas águas que ali brotavam.
Quanta resignação foi preciso ter certas, poucas e determinadas pessoas para ver surgir naquele lugar uma verdadeira cidade.
Trouxe as águas àquele lugar pessoas como o Dr. Pedro Sanches, epíteto da praça principal. E a homenagem é, ainda assim, tão irrisória para quem tanto fez!
Apareceu por aquelas plagas em 1873. Cinco anos mais tarde tornaria em definitivo com a determinação de soerguer ali uma hidrópole. Em 1886 conseguiu inaugurar o Estabelecimento Balneário e Termal Pedro Botelho. Destarte, pôde o jovem médico aproveitar de forma mais racional as fontes termais da estância, além instituir processos metódicos de balneologia, com controle da temperatura da água do banho pois que, até então, seu mister era praticado com banhos ao relento, em banheiras de madeira ou barris enterrados na lama junto às nascentes quentes que tinham por objetivo, senão curar, ao menos dar alívio às chagas que portavam os peregrinos.
É que já em 1872 o Senador Joaquim Floriano de Godoy, então Presidente da Província das Minas Gerais recomendou que se tomasse providências "para a fundação de uma grande estação de águas" naquele lugar. Mas as coisas, como até hoje sói acontecer em terras tupiniquins, pouco andavam. Os progressos eram tímidos. Foram abnegados como esse Dr. Pedro Sanches que fizeram tão portentoso sonho, efetivamente, acontecer.
Não se quer aqui contar a história deste lugar especial, mas acontece que quando em 1930 se inaugurou o complexo de grandes obras, dentre elas o Palace Hotel e o Palace Casino, além das Thermas Antônio Carlos, que juntas transformaram a cidade na mais bem equipada Estância Hidromineral da América Latina; quando as grandes companhias aéreas da época começaram a operar na cidade trazendo turistas de primeiro nível; quando a cidade floresceu numa irreprimível e voraz prosperidade, tudo pareceu fácil e predestinado. Não foi bem assim...
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O Fantasma do meio-dia
RomancePorfírio é um bibliotecário que se vê, subitamente, exposto a um grande erro do passado. O romance se passa durante o período de ouro dos jogos de cassino no Brasil, em uma encantadora cidade de Minas Gerais. Um amor impossíel, uma traição covarde...