PARTE I - CAPÍTULO 4

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Se as rosas caíram como a bomba que ele por fim tanto temia, Porfírio jamais soube responder

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Se as rosas caíram como a bomba que ele por fim tanto temia, Porfírio jamais soube responder. Se aquelas flores mataram a menina e fizeram surgir a mulher, tampouco lhe fora dado perceber. Se acabaram com paz daquele lar; se preocuparam em demasia os pais da moça, quem saberá?

O fato é que não foram capazes aquelas pétalas macias de enviar a moça para estudar no Rio de Janeiro, muito menos de internar-lhe num convento.

O mais provável é de que tenham soado ao pai da moça como uma mera brincadeira de criança, não dando o jovem senhor valor algum ao fato. À moça é bem provável que nem mesmo à curiosidade se inclinou. Mas como? Podia haver uma criatura sói bela e, ao mesmo tempo, tão fria e insensível?

Todavia, na posição de comentador do caso, tenho eu a verdade para vos transmitir: o plano de Porfírio não atingira seu objetivo, não foi capaz de se fazer reboar como ousou imaginar.

Aconteceu que as rosas foram entregues justamente em um dia em que os pais da moça não se encontravam já àquela hora da manhã em casa pois que, sábado sim, sábado não, o casal mantinha o hábito daqueles que mais próximos estão de Deus. Era costume já de longa data, implantado pela mãe de Carminha o de se fazer caridade aos mais necessitados. Por ocasião daquele sábado, estavam os dois ajudando a distribuir blusas e cobertores arrecadados pela Paróquia a qual frequentavam para algumas famílias carentes. Não vou me alongar no relato se o que verdadeiramente nos importa aqui é o fato de eles não se encontrarem em casa naquela manhã.

E tão logo a criada recebeu as rosas levou-as à Carminha que, guardando o cartão e dispensando o resto, pediu sigilo à empregada que, fiel, cumpriu a promessa.

Quanto aos efeitos, tanto o bilhete quanto as flores causaram profundo impacto no coração da moça mas, sejamos sinceros, já no domingo, tão logo Carminha percebeu o autor da façanha – e sua intuição foi precisa! – sentiu-se feliz por ter mandado deitar as flores ao lixo e prometeu fazer em casa assim que chegasse, antes de qualquer coisa, o bilhete se tornar em pedacinhos insignificantes de papel. Não lhe agradou a surpresa, sentiu-se mesmo invadida por aquilo que o lixo levaria embora para o nunca mais.

Na segunda-feira pela manhã, na escola, Porfírio não teve a audácia que gostaria de ter para terminar de forma completa seu plano, isto é, olhar bem dentro dos olhos de Carminha, olha-la de uma maneira tão incisiva que este olhar diria "sim, foi eu quem enviei-lhe aquelas rosas". Porfírio cerrou-se em si mesmo de tal sorte que não colheu fruto algum da louca investida.

E com o passar dos dias o que já não muito flamante era, perdeu completamente o viço. Viu Porfírio a sua trama perfeita não lhe render resultado algum. Percebeu o quão mal estrategista era. Sentiu-se derrotado e estafermo pois que o seu ato passou a lhe soar como pura covardia.

Entendeu, assim, não merecer Carminha. Por outro lado, passou a sentir a necessidade premente de desabafar, contar sobre seu drama com alguém. Mas ao falar estaria assumindo uma condição que aos poucos sentia ter de abandonar, essa paixão teria de ser aniquilada! E esse sentimento dúbio atingia-lhe o peito tal e qual uma borrasca alcança as moças, de vestido e sombrinhas, no meio das ruas, não as deixando saber a quê primeiro acudir.

O Fantasma do meio-diaOnde histórias criam vida. Descubra agora