ROBÉLIO

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Depois, quando a vida de Porfírio havia tornado à sua habitual solidão; quando os dias daquele homem voltaram à tranquilidade, à sóbria serenidade de outrora; quando o caminho daquele sujeito insulado tornou-se novamente deserto; quando o silêncio...

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Depois, quando a vida de Porfírio havia tornado à sua habitual solidão; quando os dias daquele homem voltaram à tranquilidade, à sóbria serenidade de outrora; quando o caminho daquele sujeito insulado tornou-se novamente deserto; quando o silêncio ganhou novamente aquele peito ermo de sentimentos; quanto se viu enfurnar na segurança do descompromisso perante à humanidade; quando se viu como gostava de se ver: fleumático; eis que um sentimento novo atingiu-lhe o coração.

Não se pode e nem se deve de nada jamais duvidar nesta vida; que não deve o homem jurar não sentir nada no peito pois que pode assim, desacautelado, entregar-se ao amor verdadeiro. O amor verdadeiro muita das vezes não está camuflado nos olhos de uma mulher para um homem, tampouco nos olhos de um homem para uma mulher. O sentimento de amor verdadeiro pode aparecer a qualquer momento, a qualquer tempo, independentemente de idade, de sexo. Que belo sentimento vai surgir onde não se espera encontrá-lo, que vai pegar desprevenido aquele que julgava nada sentir. E se o amor verdadeiro vem em forma de amizade, aí ele será eterno!

Aquele homem de aparência rotunda, metido atrás daquela mesa, hermético, aquele homem que apesar da simpatia por vezes demonstrada acabou por se tornar dos livros tão subordinado que a estes deitava confidências e colhia conselhos; aquele homem acabou por encontrar nova aventura. Quando Robélio entrou pela primeira vez na biblioteca e lançou seus olhos sobre Porfírio, o menino e o ancião se encontraram.

O semblante de Porfírio desanuviou-se. Os olhos de Robélio enxergaram os olhos do homem que trabalhava na biblioteca sorrindo para os seus.

Que estranho sucesso houvera ali! Que coisa extraordinária, que fato maravilhoso obrara a Fortuna naquele sublime momento! Que acontecimento genial fiara o acaso naquele instante!

Se entenderam tão bem que ao cabo de poucos minutos já confabulavam alegremente. Foi como um encontro adrede marcado que, enfim, aconteceu! Se o menino recorreu à biblioteca buscando informações sobre a luz elétrica, saiu de lá mais que com uma pesquisa sobre o invento de Thomas Edison, encontrou um amigo para toda vida. Que sincera amizade brotou dali.

Porfírio sentia finalmente ter encontrado uma amizade franca e descompromissada. Robélio sentia-se deparar com a segurança que há muito buscava.

Mas a amizade que já brotou grande, tinha muito o que crescer.

É que, apesar de sentirem-se unidos por um forte sentimento, isso não se lhes afigurou, de modo completo naquele primeiro encontro. Apesar do calor do primeiro contato, foram construindo aquele sentimento de confiança mútua, estima e afeição, com vagar. Foram se conhecendo paulatinamente. De início, não entendia Porfírio o que um jovenzinho pudesse almejar ao manter amizade com uma pessoa tão mais velha que ele, uma pessoa ultrapassada, um ser anacrônico como aquele que o espelho lhe mostrava. Foi com o tempo entendendo que o jovem buscava nele a segurança que ele não tinha em casa, na escola, na vida!

Também Robélio perguntava-se o que um senhor como Porfírio podia almejar ao cultivar amizade com um rapaz de quatorze anos. Sinceridade, pureza, lealdade: os maiores predicados da verdadeira amizade, coisa que até então não encontrara na vida aquele homem tão vivido...

O Fantasma do meio-diaOnde histórias criam vida. Descubra agora